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Quando falamos em tendências de mercado, é impossível prevermos o futuro e uma forma fácil de anteciparmos os comportamentos. As tendências e os acontecimentos do mundo têm mudado numa velocidade assustadora. O que antes levava uma década se transformou em um ano e agora parece acontecer no mês seguinte, e isso não muda muito considerando em que lugar do planeta você está.
Para quem trabalha com design e moda, essa velocidade da mudança parece ser ainda mais intensa. Mas como estar por dentro e antecipar o que amanhã já será uma realidade nas ruas? A resposta está na ciência e na pesquisa. Existem estudos baseados em dados estatísticos, métodos científicos de observação e de comportamento. Os pesquisadores traduzem ritos, rituais e símbolos que podem dar pistas e sinais claros, conduzindo para onde caminham as preferências.
Existem pelo mundo agências especializadas que realizam verdadeiros dossiês de tendências. Não são estudos que vão apontar simplesmente as cores das próximas coleções ou as texturas dos tecidos. Vai muito além disso. Eles apontam comportamentos ligados à consciência sustentável, por exemplo.
Vejamos o exemplo do uso de canudos descartáveis, esse tipo de descoberta que apresenta os aspectos negativos de um determinado produto tem se espalhado com mais força e mais rapidamente do que em outros tempos. Isso identifica que o público se preocupa mais com a sustentabilidade do planeta, o que reflete nas criações de moda. Obrigam produções mais conscientes na área ambiental e também comportamental, influenciam campanhas publicitárias, apontam preferências de compra, tudo se interliga, desenhando assim uma realidade objetiva e sólida.
As agências de tendências trabalham como uma espécie de curadoria, analisando pessoas alfas que geralmente se antecipam aos gostos e preferências, que adotam comportamentos antes das demais pessoas. São indivíduos disruptivos e que de certa forma estão à frente nas referências de moda, como se fossem um farol dando sinais de que aquilo que eles adotam irá servir de inspiração. Com o olhar dessas pessoas e de outros setores, as agências traduzem informações de forma didática para quem precisa delas poder criar novas coleções, por exemplo.
Nestes últimos anos, conforme as tendências têm se concretizado, temos notado um crescimento na importância do posicionamento das marcas, sobre assuntos sociais e inclusivos. As pessoas estão expostas a tanta informação tecnológica que as marcas que se posicionarem de forma mais humanas terão vantagem. Convivemos hoje com um bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência no mundo. Isso pode ser incrível como potencial de mercado, pois é uma grande oportunidade de integração real com este público. Concentrar as narrativas na individualidade emocional das pessoas é um caminho assertivo. As pessoas amam marcas que amam pessoas.
Como outros estudos científicos, são caros e requerem tecnologia avançada, pesquisadores altamente técnicos e capacitados, e um olhar global que não se consegue estando em um único lugar do mundo. Aí está a importância do trabalho colaborativo, onde adquirimos estudos e análises em conjunto, com empresas e instituições aliadas e alinhadas para alcançar os objetivos de mercado e de propósito com o que pretendem lançar aos seus públicos. A moda é reflexo da identidade na sociedade. Abrir a mente e compreender algumas tendências pode ser a chave do sucesso para as organizações e para a vida pessoal dos profissionais.
Amélia Malheiros é assessora executiva do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC) e Gestora da Fundação Hermann Hering. Com mais de 20 anos de experiência no mercado da moda e design, é pós-graduada em Marketing Empresarial pela FAE e tem MBA pelo INPG. Vê a inovação e a sustentabilidade como almas nas organizações e ama estar conectada com a natureza.