A Gucci lançou uma nova plataforma global para apoiar uma mudança na indústria da moda através de uma ação comunitária. A Gucci Changemakers é um plano de ação e de longo termo em relação a diversidade e inclusão e que é resultado das críticas que a marca sofreu após colocar à venda um moletom que foi interpretado como blackface.
A iniciativa inclui um fundo de US$ 5 milhões e um programa de bolsa escolar de US$ 1.5 milhões para ativação nos Estados Unidos, juntamente com uma estrutura global de voluntariado de funcionários que poderão tirar quatro dias para atuar em suas comunidades sem deixar de ser pagos. “Acredito no diálogo, em construir conexões e em agir rapidamente. É por isso que começamos a trabalhar imediatamente nessa infraestrutura para resolver nossas deficiências. E agora, através do Changemakers, investiremos recursos importantes para unificar e fortalecer nossas comunidades na América do Norte, com foco em programas que afetarão a juventude e a comunidade afro-americana”, diz Marco Bizzarri, CEO e Presidente da Gucci.
Um dos parceiros da Gucci e que chamou a marca para agir com rapidez foi o estilista Dapper Dan, ícone do Harlem e que tem uma linha em colaboração com a grife italiana. “Tenho orgulho de trabalhar com a Gucci e outros líderes comunitários para ajudar a orientar programas que criarão um impacto significativo para a comunidade negra e para a moda como um todo”, disse. “É imperativo que tenhamos um lugar na mesa para dizer como devemos ser representados e reimaginados. Através do nosso trabalho em conjunto, a Gucci está em posição de liderar a indústria em geral para se tornar uma empresa melhor e mais inclusiva”. Entre os outros parceiros da iniciativa estão a ativista Bethann Hardison, a escritora Michaela Angela Davis, a poeta Cleo Wade e o professor de história e estudos sobre Chicago, Eric Avila, entre outros ativistas que atuam em diversas áreas.
Além da Gucci, Burberry e Prada também criaram programas para “aumentar a consciência e a compreensão das questões sociais e abraçar plenamente a diversidade e a inclusão”, segundo disse Marco Gobbetti, CEO da Burberry. Parte do programa incui treinamento de todos os funcionários, a criação de um conselho de funcionários focado em diversidade e inclusão e formar um painel de conselheiros de experts de fora da marca e, a principal ação, que é a de “fortalecer metas para garantir uma representação diversificada em nossa base de funcionários”.
A marca foi colocada sob fogo mês passado durante seu desfile de Inverno 19/20 em Londres por conta de um look que tinha uma corda que remetia às usadas em suicídios. Quem trouxe o assunto à tona foi a modelo Liz Kennedy através de um post no Instagram. “Suicídio não é fashion nem cool. Como alguém pode olhar pra isso e achar ok, especialmente em uma coleção dedicada aos jovens? Há centenas de formas de amarrar uma corda e eles decidiram amarrá-la ignorando completamente o fato de que ela estava pendurada no pescoço”.
A iniciativa da Burberry funciona em três frentes:
– Educar e treinar funcionários sobre diversidade e inclusão, montar um
conselho consultivo de especialistas externo.
– Diversificar o fluxo de talentos através de programas de bolsas de estudo
e do Burberry Inspire, um programa de artes e cultura na escola.
– Apoiar organizações externas que promovam a diversidade, inclusão e ajuda a pessoas em crise.
A grife também está se mexendo na área de sustentabilidade após o fato da queima de estoque vir à tona. No final do ano passado, a empresa se comprometeu a parar com o uso de pele animal e com a queima de produtos.
Simultaneamente, a Prada lançou seu Conselho Consultivo de Diversidade e Inclusão, iniciativa que está sendo co-presidida pela escritora, diretora e produtora Ava DuVernay e pelo artista e ativista Theaster Gates, visando “elevar as vozes de cor dentro da empresa e da indústria da moda em geral”. “Além de ampliar as vozes de cor dentro da indústria, ajudaremos a garantir que o mundo da moda reflita o mundo em que vivemos”, disse Miuccia Prada.
A criação de um conselho na Prada ocorreu logo após um escândalo em dezembro de 2018 que sofreu por conta de uma série de produtos que foram chamados de blackface e acabaram sendo tirados de circulação.
Infelizmente há ainda muitos casos parecidos e causados por tantas outras marcas, como Dolce & Gabbana (recorrente), H&M, etc. As grifes deveriam saber mais e conhecer melhor do que inadvertidamente vender roupas usando imagens racistas Pressupõe-se que pessoas e marcas aprendem com os erros alheios, mas não é o que temos visto.
Essas iniciativas são alguns exemplos do que as marcas de luxo estão fazendo para provocar mudanças significativas dentro de suas empresas e impactar a indústria como um todo. Todas nasceram de críticas duras e boicotes por parte de consumidores, fãs e celebridades nada contentes com o contínuo lançamento de produtos considerados desrespeitosos, seja com a cultura negra, com as mulheres, com a falta de diversidade em geral e com o meio ambiente. Estamos falando de três grandes grifes e isso certamente tem um impacto e serve como exemplo a ser seguido.
Porém, muitas outras empresas em todo mundo precisam aderir, se envolver e repensar como estão construindo e mantendo suas estruturas e o que podem trazer de novas ideias, ações e pessoas para que os mesmos erros grosseiros não sejam repetidos e que, melhor dos mundos, eles não sejam mais uma questão; que eles se tornem a exceção e não o padrão.