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    Conheça o treinamento de igualdade racial que a Prada, incluindo Miuccia, está fazendo
    a modelo Kyla Ramsay na campanha de resort 20 da prada. foto: Keizo Kitajima
    Conheça o treinamento de igualdade racial que a Prada, incluindo Miuccia, está fazendo
    POR Camila Yahn

    No último ano, a Comissão de Direitos Humanos de Nova York, a agência de aplicação da lei do governo municipal encarregada de supervisionar as leis de direitos humanos da cidade, vem investigando e negociando um acordo com a Prada, num processo que culminou em um acordo recém assinado, segundo reportou hoje o New York Times em artigo de Vanessa Friedman.

    Tudo começou no final de 2018, quando a advogada Chinyere Ezie postou uma vitrine da Prada em Nova York com bonecos que pareciam macacos em blackface. “Não faço muitas postagens públicas, mas agora estou tremendo de raiva”, escreveu Ezie no Facebook. Em poucos minutos, o post havia viralizado em todas as redes e foi repostado no Diet Prada, resultando em acusações de racismo pelo mundo todo.

    A Prada agiu rápido, tirou os objetos de circulação, se desculpou, declarou que não havia sido intencional e que tinha a intenção de focar na diversidade dentro da empresa. Mas será que isso é o suficiente? Na moda parece não ser, pois pouco tempo depois, uma situação parecia aconteceu com a Gucci. E antes ainda, a Dolce & Gabbana havia ofendido os chineses com uma de suas campanhas.

    “Espero que as empresas percebam que precisam ter muito cuidado com a forma como comercializam e anunciam e que precisam ter uma maior consciência social e cultural”, Sapna V. Raj

     

    Após ver o post de Ezie, a Comissão de Direitos Humanos enviou à Prada uma carta de “cessar e desistir” e abriu uma conversa com a marca. Mas em 4 de janeiro, Ezie apresentou uma queixa oficial à Comissão.

    Na ocasião, a Prada se comprometeu fazer uma reeducação interna, submetendo-se a um monitoramento externo de seu progresso nos próximos dois anos. Mas a negociação com a Comissão vai muito além disso e deve servir, a partir de agora, para estabelecer uma nova consciência e modo de trabalho dentro das empresas de moda.

    Na chefia da Comissão de Direitos Humanos está Carmelyn P. Malalis, que vem se concentrando no racismo anti-negro. “Parece-me que a lei está sendo estendida em uma nova direção, baseada em uma interpretação mais abrangente e cientificamente precisa de como o racismo opera na sociedade atual”, diz ao jornal Ellen Berrey, autora do livro Rights on Trial: How Workplace Discrimination Law Perpetuates Inequality. “Isso indica um entendimento de que um dos meios mais poderosos para comunicar o racismo é através de imagens culturais”.

    A Comissão de Direitos Humanos tem o poder de abrir investigações sobre a violação das leis de direitos humanos, incluindo aí a capacidade de intimação de testemunhas e julgamento de casos civis.

    Desde 2019, a Prada tem trabalhado junto com esta comissão, “abordando proativamente muitas de suas recomendações bem antes da negociação ser finalizada”, disse uma porta voz da marca, que também criou um Conselho Consultivo para Diversidade e Inclusão, presidido pela diretora Ava DuVernay e pelo artista Theaster Gates.

    O que a Prada vai ter que fazer, Inclusive miuccia

    – Fornecer “treinamento de sensibilidade”, incluindo treinamento sobre igualdade racial, para todos os funcionários de Nova York nos 120 dias seguintes à assinatura do contrato – e também para executivos em Milão, já que as decisões tomadas na Itália têm repercussões em Nova York. Inclusive Miuccia Prada e o CEO Patrizio Bertelli também passarão pelo treinamento. Um conselho da marca irá reportar à Comissão o cumprimento dos executivos.

    – O acordo também exige que a Prada indique um oficial de diversidade e inclusão nos próximos 120 dias, no nível de diretor, com candidatos aprovados pela Comissão dos Direitos Humanos. As responsabilidades do funcionário incluirão “revisar os produtos da Prada antes de serem vendidos, anunciados ou promovidos de qualquer forma nos Estados Unidos”.

    – Além disso, o contrato especifica que o Conselho Consultivo de Diversidade e Inclusão da Prada, já existente, continuará por pelo menos seis anos. E que aproximadamente a cada seis meses nos próximos dois anos, a Prada reportará à Comissão o progresso da empresa em alcançar as metas da negociação.

    – E um ano após a assinatura do contrato, a Prada deve informar à comissão “a composição demográfica” de seus funcionários em todos os níveis e resumir “as atividades passadas e futuras da Prada destinadas a aumentar o número de pessoas de classes sub-representadas na indústria da moda”.

    Por que esse acordo é importante

    Normalmente, quando ocorre um caso como este, a marca se desculpa, a audiência se indigna e no dia seguinte, tudo já é rapidamente esquecido até a próxima ocorrência. É difícil entender como as marcas simplesmente não aprendem com o erro dos outros. O grau de ignorância sobre outras culturas é latente em muitos dos níveis de uma empresa, especialmente onde as decisões são tomadas. Falta representatividade nas mesas de reunião dos executivos e nos times criativos que são decisivos na escolha dos produtos que serão lançados e nas campanhas que serão criadas.

    As marcas de moda ficam perpetuando um comportamento em vez de olhar profundamente para dentro, porque sabem que, eventualmente, tudo passa (ou passava). Mas com esse monitoramento criado pela Comissão de Direitos Humanos, a história muda de figura. “Quando o governo se envolve e o caso deixa de ser apenas uma indignação do Facebook, é muito mais provável que tenha consequências reais”, diz Berrey ao NYT.

    Sapna V. Raj, vice-comissária da comissão e quem supervisiona as negociações com as empresas de moda, espera que “as empresas percebam que precisam ter muito cuidado com a forma como comercializam e anunciam e que precisam ter uma maior consciência social e cultural”. Ela ainda fica espantada por não terem percebido antes como tantas marcas importantes são ignorantes em relação a história do racismo nos Estados Unidos.

    Um movimento que começou com uma simples hashtag mostra como o público pode ter um participação ativa nas mudanças reais. E a Comissão avisa que a Prada não é a única marca sob sua mira: ela já iniciou conversas com Gucci e Dior.

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