Por Camila Yahn e Carolina Vasone
Riccardo Tisci tirou, nesta estação, o desfile da Givenchy de Paris e brindou Nova York com o show mais impactante da temporada. Com apresentação dirigida pela sérvia Marina Abramovic – uma das artistas performáticas conceituais emocionais mais importantes do mundo -, o diretor criativo da Givenchy, que completa dez anos à frente da marca, ofereceu um espetáculo também de roupas, assistido por Pedro Almodóvar, Kim Kardashian e Julia Roberts, mas também por anônimos moradores da região e pessoas que se inscreveram num site criado para distribuir convites a interessados em geral. Quando a coleção chegar às lojas da Europa e dos Estados Unidos – e também ao primeiro endereço da Givenchy em Nova York, inaugurado recentemente -, desprovidas da emoção do desfile, elas terão ainda muito o que mostrar e provocar em termos de desejo de moda. Muito desejo. Tisci partiu do jogo clássico de misturar referências do guarda-roupa feminino e masculino em combinações a partir do smoking com o vestido lingerie de maneira descontruída, assimétrica, instigante, arrematando tudo com uma boa dose mistério e um toque de exotismo vindos de seu próprio repertório estilístico e da mistura de elementos de várias religiões, uma das tônicas de seu show. Sexy, exótico e urbano. Bravo, well done, superb!
Paris era a segunda casa de Marc Jacobs durante os anos em que trabalhou para a Louis Vuitton. Agora, morando somente em Nova York, ele chegou a reclamar de saudades daqueles tempos. Pois esse desfile foi seu acerto de contas com seu momento e, de certa forma, um desafio. Em meio a tantas mudanças em sua vida pessoal e professional, qual caminho seguir? Marc deu seu melhor: humor, criatividade, uma espécie de the best of, recheado de peças inusitadas e que são tão… Marc Jacobs. Há uma homenagem explícita aos Estados Unidos, desde o uso intenso de vermelho e azul às referências a bandeira americana. De jaqueta jeans a vestidos de noite, camisa xadrez a estampas loucas, o desfile tem seus momentos absurdos em que nada casa com nada, mas tudo pertence a um mesmo universo. O desfile começou com as modelos entrando no cinema Ziegfeld Theatre, palco de grandes pré-estreias, e parando em um backdrop como as celebridades fazem no tapete vermelho. Aí mesmo já sabíamos que ele encerraria a temporada de Nova York fazendo o que sabe fazer melhor: surpreender.
Você é uma mulher sexy e sofisticada, uma business woman (seja qual for sua área profissional) que jamais imporá sua sensualidade, mas não vê motivos para que os outros não a percebam (e admirem). Então você vestirá Altuzarra no próximo verão. O estilista francês (leia mais sobre ele no ótimo perfil escrito pela Camila Yahn) sabe como poucos criar roupas que são ao mesmo tempo totalmente usáveis, parecem quase despretensiosas, mas que carregam aquele pulso firme de design de moda que não titubeia em nenhum detalhe. Assim é a coleção para o próximo verão internacional da grife. Inspirado pelo país Basco, de onde vem parte de sua família, Altuzarra apostou num mix de silhueta slim, vista em saias e vestidos como o da foto, com shapes mais soltos em calças e saias levemente plissadas, com muita camisaria interpretada de diferentes formas, numa cartela de cores com tons levemente puxados para o terroso, como o vermelho tijolo, os beges, e poucos toques mais acesos, caso do azul e de um laranja que depois fica mas amarronzado, na parte seguinte do desfile.
As apresentações de Browne sempre valem à pena e desta vez não foi diferente. O tempo inteiro foi uma aula de construção de imagens e de um duelo entre inocência e perversidade. A coleção parte do uniforme escolar tradicional – paletó, camisa, gravata e saia plissada – e as meninas entram com suas tranças apontadas para cima. A sequência de looks foi construída de forma muito inteligente, partindo dos cinzas aos tons pastel, em estampas divinas de inspiração japonesa. Assim, ele mostra diferentes comprimentos de saias e jaquetas, em camadas e sobreposições. Como um todo, a coleção é linda e resulta em uma imagem forte. E individualmente, as peças são desejáveis, cada uma com sua mágica particular. Taí um equilíbrio difícil.
O mais interessante sobre as irmãs Kate e Laura Mulleavy é a maneira como enxergam o belo. Elas são futuristas e românticas, unem passado e futuro, boemia e glamour em roupas autênticas que não se parecem com mais nada do que vemos nas passarelas. Nesta estação, a dupla se inspirou em clássicos da poesia, como Emily Dickinson, e as letras do cantor Leonard Cohen, que resultou em uma coleção com uma memória dos anos 70, que vemos nas peças de lurex, em alguns shapes, calças de cintura alta, lenços compridos no pescoço e longas botas metálicas. Esse clima boêmio e glamouroso mistura-se aos vestidos trabalhados artesalmente, num exercício intrincado e lindo com a renda e como ela é combinada a outros materiais. Cada peça é única e especial e reflete com precisão o universe estético das irmãs Mulleavy.
O espírito do design vanguardista da dupla americana da Proenza Schouler incorporou, neste desfile, o romance. O resultado tem babados e fitas mas não é nada açucarado. Trata-se de uma garota coquete conceitual, uma combinação difícil mas perfeitamente alcançada pela marca nesta coleção. Com muito preto, branco e vermelho combinados, além de uma breve série de looks verdes, a Proenza Schouler abusou dos laços, babados estruturados e franjas de um jeito totalmente inesperado, aliado a muitos recortes no ombro, na cintura, barras e acabamentos assimétricos e alfaiataria. Eis uma maneira hipermoderna e surpreendente de ser romântica.
Essa temporada consagrou os estilistas Dao-Yi Chow e Maxwell Osborne. A dupla por trás da PS fez sua estreia bem sucedida na direção criativa da DKNY. Podemos ver similaridades entre os dois desfiles, mas foi com a Public School que eles reforçaram sua assinatura: roupas para o dia a dia que trazem informações do street e do sportswear, mas com construções inteligentes e sofisticadas. Para o verão, eles levam a mulher em uma jornada espiritual, em busca de si própria. Calças, vestidos, casacos, tudo é leve e fluído, descomplicado e fresco. Poucas cores, boas ideias e muitos desejos.
Ao contrário da Proenza Schouler, o romance é mais natural ao estilo de Jason Wu, e ele o interpreta de maneira menos conceitual mas também extremamente contemporânea nesta temporada. Na receita de Wu, adiciona-se muito glamour e elementos do sportswear. Os babados são grandes e com ondulações mais abertas e aparecem nas barras e laterais das saias, nas mangas de vestidos e tops e no trench coat verde, cor vedete da coleção. O shape quadrado traz a referência esportiva nos tops cropped box e em muitas das partes de cima, valorizando ombros e mangas.
Effortless, superfeminino e cool, Prabal Gurung fez, neste verão 2016, homenagem ao Nepal, sua cidade natal. Sem referências literais, a cartela de cor com laranja, salmão e açafrão é a associação mais imediata ao país. Tricô e tecidos fluidos, transparentes e delicados valorizam as silhuetas alongadas e clean, com looks que remetem ao frescor e à descomplicação do verão, com design apurado que dá contemporaneidade ao estilo delicado nos detalhes, dos recortes assimétricos aos decotes clássicos que ganham sutis modificações, como o V levemente arredondado e o top de alça com acabamento mais quadrado no busto.
Em 2016 a Coach completa 75 anos. Uma das marcas de acessórios mais relevantes dos Estados Unidos, ela tem preparado seu caminho para virar também uma referência no prêt-à-porter. Em seu primeiro grande desfile na semana de moda, o estilista britânico Stuart Vevers escolheu o High Line, o celebrado parque suspenso em Nova York, como cenário da apresentação. Como muitos designers nesta estação, ele também fala de viagens, mas de uma forma mais jovem, usando as road trips como ponto de partida pra essa cliente tão jovial. O resultado final é uma coleção graciosa, com looks inteiros formados por patchworks de microflorais, ponto alto do desfile. A Coach é uma marca commercial e grande, que não quer vender a imagem de quem não é. Para isso, precisam de uma pessoa como Vevers, que pode conduzir a grife com objetividade pensando na evolução de seus próximos anos. Assim como Sting, “an Englishman in New York”.