É difícil imaginar que a moda seria como a conhecemos hoje não fosse a influência de Cristóbal Balenciaga. Coco Chanel referia-se ao espanhol como o couturier definitivo; Christian Dior o considerava o mestre da moda. “Alta costura é como uma orquestra em que Balenciaga é o maestro. Nós, os outros couturiers, somos os músicos e seguimos as direções que ele dá”, dizia o francês. Celebrando a técnica primorosa e pioneirismo do estilista, o museu Victoria and Albert, em Londres, acaba de inaugurar Balenciaga: Shaping Fashion, exposição que explora o trabalho e o legado de Balenciaga com mais de cem peças de roupas criadas por ele, seus pupilos e designers contemporâneos que buscam a sua inovação.
“Sua maior contribuição foi a maneira que ele transformou a forma – as saias tulipa, mangas raglan, formas volumosas que libertaram as mulheres de silhuetas tradicionais como a ampulheta”, explica a curadora Cassie Davies-Strodder. “Ele foi o primeiro a fazer o tubinho, uma peça que hoje todo mundo tem no armário, mas que na época foi criticada pela imprensa. Ficaram chocados com o modelo, que não acentuava a cintura”.
Davies-Strodder passou 18 meses preparando a mostra. Entre pesquisas e viagens ao redor do globo para adquirir peças de colecionadores, a britânica se deparou com o desafio de ter como tema de sua exposição um homem extremamente reservado, que concedeu apenas uma entrevista em toda sua vida, que não aparecia ao final dos desfiles e nem convidava jornalistas para o preview de suas coleções (somente um mês depois da apresentação) durante os primeiros dez anos da marca. Ainda assim, a mostra é bastante completa e abrangente, contando com fotografias de Cecil Beaton e Richard Avedon, raríssimos vídeos dos anos 1950 e 60 com imagens de desfiles e do showroom da maison, 20 chapéus e muitas roupas do arquivo da Balenciaga, como os vestidos envelope e baby-doll e um vestido verde em gazar de seda com capa que, de acordo com Josep Font, diretor criativo da Delpozo, ilustra o quanto o couturier “não tinha medo de volumes, tampouco de expressar sua criatividade”, além das criações de Nicolas Ghesquière e Demna Gvasalia, que deram continuidade à visão do espanhol conduzindo a Balenciaga ao século 21.
A Delpozo é uma das marcas contemporâneas cujas peças figuram num andar do museu dedicado ao legado de Balenciaga, assim como Comme des Garçons, Céline, Simone Rocha, Iris van Herpen, Chanel, entre outras, e também peças de seus protégés Oscar de la Renta, André Courrèges e Hubert de Givenchy, reforçando a influência incontestável do espanhol. “Ele criou uma nova visão de feminilidade. Celebrava o corpo das mulheres de maneira não óbvia e isso foi revigorante”, afirma a estilista Molly Goddard, que também tem um vestido na mostra, ao jornal Telegraph. “Ele desenhava roupas para todas as mulheres – não era preciso ser magra ou jovem para vesti-las”, completa a curadora. “Suas peças permitiam imperfeições, como uma barriguinha, e ele sabia como valorizar a forma feminina”.
Um dos maiores destaques da exposição é uma colaboração especial do V&A com o artista Nick Veasey que capturou imagens em raio X de algumas das criações de Cristóbal, revelando a costura interna e estrutura complexa de algumas peças. “É difícil comunicar a um público jovem quanto trabalho e atenção aos detalhes eram investidos nessas roupas, porque se você compra fast-fashion você não ‘ganha’ conceito”, explica Davies-Strodder. “É a habilidade superlativa com corte e domínio dos tecidos de Cristóbal Balenciaga que torna a pureza da forma de seus designs tão eficiente.”.
Balenciaga: Shaping Fashion fica em cartaz no museu Victoria & Albert, em Londres, até 18 de fevereiro de 2018.