Começou nesta terça-feira (03/11) a 3ª edição do Pense Moda, evento responsável por levantar questionamentos e reflexões sobre o atual cenário da moda nacional, assim como da indústria como um todo. Com isso em mente, resolvemos fazer valer o nome do evento e ao invés se simplesmente transcrever as palestras – afinal agora elas podem ser assistidas na íntegra pelo site do evento e também no da Renner – vamos levar as discussões adiante.
O denominador comum desse primeiro dia começou a ser traçado enquanto Cecilia Dean – editora e uma das idealizadoras da revista “Visionaire” – falava sobre como é importante a interação das marcas que patrocinam a publicação com o lado criativo do veículo. O assunto já começou a levantar questões de como empresas e marcas (principalmente de moda) enxergam suas estratégia de comunicação e como se relacionam com seus consumidores em tempos de Facebook e Twitter.
Para Dean, “a indústria da moda começou a fazer uso efetivo da internet como ferramenta de mídia com relativo atraso. Até mesmo no quesito conteúdo, na exploração da imagem em movimento, a presença da moda na internet ainda é extremamente tímida se comparada a outras áreas como vídeo e música”. Em sua palestra, Dean até cita o fotógrafo Nick Knight (do projeto SHOWstudio) como um dos únicos desbravadores das fronteiras virtuais. Para ela, Knight não disputa nenhuma concorrência: “Ele é o único fotógrafo de moda que está fazendo algo de fato virtual”.
No que diz respeito à forma com que determinadas marcas se comunicam com seu público, o cenário não é muito diferente. Neste quesito, a “Visionaire” exerceu mais uma vez o papel de vanguardista ao substituir os tradicionais anúncios por formas mais criativas de se divulgar o nome de uma grife. “Ao invés de colocar um anúncio numa revista, as marcas trabalham de forma mais criativa, usando a revista como veículo de marketing, ao mesmo tempo que permitem a liberdade de opinião da publicação”, explica Dean.
Acima, a mais nova edição da Visionaire, que tem patrocínio dos carros Smart: a revista, desta vez, é uma tela LCD que projeta 365 imagens diferentes. Para Cecilia Dean, isso não é arte: ainda é uma publicação de conteúdo ©Divulgação
Sendo assim, as empresas que acabam patrocinando a revista muitas vezes funcionam como verdadeiros colaboradores. “Na próxima edição, por exemplo, a questão da eletricidade jamais existiria se a Smart [marca da automotiva Daimler AG] não tivesse dado a sugestão”, revela a editora.
No fim das contas, a discussão promovida por Cecilia Dean funcionou como uma introdução para a próxima atração: uma mesa redonda cujo objetivo era discutir o futuro da mídia. Com mediação de Alexandre Mathias (editor do caderno Link, do jornal O Estado de S. Paulo), Andrea Bisker (diretora para América Latina do WGSN), Paulo Caruso (diretor de filmes da O2), Alexandra Farah (jornalista e blogueira do FilmeFashion), Sebastian Orth (da Surface to Air) e Fernand Alphen (diretor de planejamento da F/Nazca) discutiram importantes pontos sobre o atual cenários da mídia no Brasil e como nossas empresas enxergam a importância da internet neste cenário.
De um lado, Fernand Alphen e Sebastian Orth defenderam que a era do amadorismo na internet estava com os dias contados. Para eles, “as estratégias recentemente adotadas pelas grifes no ambiente virtual não deixam espaço para ações como viralização em redes sociais”.
“A publicidade não cabe mais como algo imposto ao consumidor. Ela só faz sentido, e só é eficaz, quando integrada na experiência ou vivência que o internauta busca na internet”. Nas palavras de Andrea Bisker: “Hoje, há uma grande necessidade de engajar, integrar o consumidor naquilo que se quer comunicar.”
Alexandra Farah levantou outra bandeira, sinalizando que a publicidade e comunicação de marcas na internet ainda têm um longo caminho pela frente. “Não queremos a publicidade na internet do jeito que conhecemos no mundo físico”. A jornalista alegou que a maioria dos anunciantes ainda está muito preocupada com a quantidade de pessoas que visitam o site, e não com a qualificação desse público. Segundo Farah, a internet hoje ainda tem muito daquele espírito amador, experimental. “É como um faça-você-mesmo”, finaliza.
No final do primeiro dia de palestras, a missão de “pensar” a moda foi cumprida, com a conclusão de que o futuro da moda está, entre outras coisas, na internet.