Pouco tempo após a saída do português Felipe Oliveira Baptista da direção criativa da Kenzo, no último ano, o designer japonês Nigo foi apontado como seu sucessor para assumir o posto de uma das mais famosas marcas japonesas de moda, fundada por Kenzo Takada em 1970. O nome de Nigo pode ser estranho para os menos ligados ao streetwear, mas no ramo, o designer já é cultuado há bastante tempo como um criador de cultura e grande inovador.
Por isso, te contamos um pouco da história e trajetória de Nigo e o que podemos esperar da nova fase da Kenzo.
INÍCIO DA CARREIRA E BAPE
Nascido em 23 de dezembro de 1970, o japonês Tomoaki Nagao iniciou seus estudos na moda no Bunka Fashion College, em Tóquio, onde viria a conhecer seus amigos e estilistas Jun Takahashi, da Undercover e Hiroshi Fujiwara, considerado o padrinho do streetwear de Harajuku. Em 1993 Nagao e Takahashi abrem a Nowhere Boutique no distrito de Harajuku. Foi nesta loja onde Nigo começou a comercializar suas camisetas da BAPE – A Bathing Ape. O nome, inspirado em um ditado popular japonês aparecia em camisetas e hoodies com estampa camuflada e logo foi adotada pelos fashionistas locais.
A BAPE cresceu exponencialmente na década de 90, chegando a ter mais de 40 pontos de venda, até que em 1998 as operações foram reduzidas para apenas um único endereço físico. Em 2002, Nigo lançou o tênis Bapesta, um ótimo exemplar de calçado colecionável que caiu nas graças dos sneakerheads e foi um divisor de águas para a carreira do designer. Com colaborações com grandes nomes do rap, como A$AP Rocky, Kanye West, Kid Cudi e o apoio de Pharrell Williams, a marca de Nigo continuou crescendo e conquistando fãs pelo mundo todo.
NOVAS MARCAS E PHARREL
Em 2005 ele criou duas novas etiquetas: a Billionaire Boys Club e a Ice Cream, tendo Pharrell como sócio. Ambas marcas alcançaram grande sucesso comercial – e seguem firmes até hoje. Incansável, em 2010 Nigo fundou sua mais recente marca, a Human Made.
Pouco tempo depois, em 2013, Nigo vende sua parte majoritária da BAPE para o grupo I.T., deixando a direção criativa para focar em outros projetos, entre eles se dedicar a direção criativa de gigante Uniqlo e realizando parcerias e colaborações com diversas marcas do segmento através da Human Made, incluindo uma linha com a adidas. Sua trajetória e influência colocaram Nigo na posição de cultuado entre os maiores nomes e gurus do streetwear mundial.
NIGO, LVMH e KENZO
Em 2020, Nigo começa sua relação com a LVMH. Virgil Abloh, então diretor de criação da linha masculina da Louis Vuitton e fã declarado de Nigo, convida o designer japonês para uma parceria e juntos lançam duas coleções cápsula para a maison francesa de luxo. No ano seguinte, ele é nomeado diretor criativo da Kenzo. Nigo começou no novo cargo no dia 20 de setembro de 2021 e apresenta sua primeira coleção à frente da maison nesta temporada.
E O QUE PODEMOS ESPERAR?
Pela primeira vez desde a saída de Kenzo Takada, fundador da marca, o posto é ocupado por um designer japonês. Takada foi um grande nome da moda japonesa, que, junto a Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, abriu as portas do mercado ocidental de moda para o design oriental e trouxe notórios nomes para dentro do circuito. O designer faleceu em 2020, devido à complicações da COVID-19 e sua marca pertence ao grupo francês LVMH desde 1993. “Nasci no ano em que Takada Kenzo san abriu sua primeira loja em Paris. Nós dois nos formamos na mesma escola de moda em Tóquio. Em 1993, ano em que Kenzo ingressou no Grupo LVMH, iniciei minha carreira na moda. A abordagem de Kenzo san para criar originalidade foi através de sua compreensão de muitas culturas diferentes. É também a essência da minha própria filosofia de criatividade.” postou Nigo em seu Instagram no dia em que foi anunciado como o novo diretor criativo da Kenzo.
Apontar Nigo para tal posição busca trazer de volta para a marca a inovação e vanguardismo do design japonês. A escolha por um dos GOATs do streetwear (Greatest Of All Time, como são chamados os grandes gurus do ramo) pode também apontar uma busca por uma abordagem mais comercial para a etiqueta e que apele para os hypebeats. Nesse sentido, a escolha por Nigo segue vai na linha de contratações do grupo LVMH nos últimos tempos, com Virgil Abloh para a Louis Vuitton e Matthew Williams na Givenchy, também dois grandes nomes ligados à cena do streetwear.
Ainda, a iconografia de tigre da Kenzo, uma das estampas mais famosas da fase mais atual da label, é bastante comparável ao quão icônica se tornaram as peças camufladas e da estampa de tubarão da BAPE, algumas das mais clássicas criações de Nigo. Historicamente, a Kenzo nunca foi uma marca que capitalizou em cima do hype momentâneo – salvo algumas peças icônicas -, mas se mantem constante e silenciosa ao longo dos anos, apesar de ter recebido pouca atenção desde saída da dupla Carol Lim & Humberto Leon (Opening Ceremony) e a entrada de Felipe Oliveira Baptista em 2019.
É definitivamente uma nova era para a Kenzo; e a contratação de Nigo pode ter como objetivo trazer o hype e o desejo de volta – algo que o segmento faz com maestria, como nenhum outro.