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    Entrevista: Rapper Hiran Fala Sobre Moda e Diversidade no Hip Hop

    Por Hisan/Dendezeiro @hisandeverdade

    O editorial Hiran é sobre a diversidade do artista e suas multi referências. O rapper é um dos responsáveis por trazer uma nova face à cultura hip hop, ainda mais diversa, inclusiva e compreensiva sobre tudo que influencia o rap no seu dia a dia.

    Hiran acaba de lançar um álbum chamado Galinheiro com algumas participações especiais como Illy, Majur e Tom Veloso, que está presente na viciante Gosto de Quero Mais.

    Conversei com Hiran em Salvador sobre suas referências de moda, inspirações nordestinas e como seu trabalho tem incluído mais diversidade no ambiente do hip hop. Leia abaixo os principais momentos da entrevista:

    Hiran, o que te inspira quando você pensa em moda? 

    A moda pra mim foi uma ferramenta de desconstrução muito doida. Eu sempre gostei de ver desfile, ver essas paradas, mas eu me bloqueei muito das possibilidades que eu pensava em fazer pelo medo de assumir o “eu real”.  Demorei pra me assumir… Eu, sei lá… Eu vestia coisas que achava que as pessoas iam achar legal dentro do contexto que eu vivia, em Alagoinhas, interior da Bahia. E quando comecei a trabalhar com música, comecei a descobrir todo esse universo, a moda começou a abrir os horizontes. Nas roupas que eu vesti, nas possibilidades que eu vi, eu comecei a desconstruir e me permitir muito mais coisas e aí veio todo esse apego com o que eu visto enquanto artista.

    Quais as suas referências no mundo da moda? Alguém que você entende que influencia muito o seu estilo. 

    Quando eu vi o Rico Dalasam pela primeira vez, muita coisa estalou em minha cabeça. Tem toda a onda musical e de identidade sonora e simpatia com dialeto e com os assuntos, mas acho que a moda foi uma parada que me abriu os olhos quando eu vi o Rico Dalasam em Salvador pela primeira vez num show. Eu não conhecia o trampo dele direito e fiquei chocado porque era uma parada muito ousada, ao meu ver. Era muito semelhante ao que eu queria fazer, eu sempre sonhei em ser MC, sempre tive meus problemas e dificuldades por motivos óbvios e quando eu vi Rico explorando coisas novas dentro do universo do hip hop, dentro da estética do rap e tudo que isso carrega, desconstruindo, mas ainda assim como uma voz ativa, eu me senti representado e foi um ponto de referência crucial pra mim.

    Você sente que a música que você faz é impressa naquilo que você veste? As pessoas têm uma associação direta a você como uma pessoa do cenário do rap? 

    Então… eu sou um novato. Estou há dois anos experimentando coisas novas no meu estilo. Eu acho que ainda tô me descobrindo e não sei se um dia eu vou me descobrir, mas estou num processo de me entender. A minha música é uma parada instintiva e o que eu visto, eu reflito sobre isso. Eu não sei te dizer se eu consigo enxergar uma impressão direta, mas acho que no fim da história tem muito sim essa associação, porque sou eu, né?! Eu escrevo muito sobre mim e meus processos e acho que isso faz parte dos meus momentos enquanto MC, enquanto um cara preto do interior da Bahia e LGBTQIA+.

    Quando se fala de arte no geral, quem são suas inspirações nordestinas?

    Eu gosto muito do que aponta novas possibilidades, novos elementos, traços e narrativas dentro de coisas que a gente sabe que são sistemáticas. Eu vou ser bem sincero contigo: acho que tudo me inspira um pouco, sou uma pessoa que observa muito e tenta julgar pouco e acho que nesse processo de descoberta, eu ainda estou nessa absorção de quais sãos as minhas referências de fato.

    Acho que tem pessoas que admiro, como Vandal, que pra mim é um cara verdadeiro com o que representa, ele cria formas muito verdadeiras e originais de como levar isso pra frente. Eu acho que temos estilistas e artistas excelentes, a gente tem a Dendezeiro fazendo um trabalho bonito, temos a Xênia França e Majur, que também andam lado a lado nesse diálogo da moda.

    Você acabou de lançar um álbum muito pessoal e sentimental. Gostaria de saber como é esse processo pra você de ser um rapper gay, preto, nordestino e falar sobre amor, sobre sentimentos? Diz um pouco como foi o processo de criação desse álbum. 

    Eu acho que quando a gente vê a humanidade na gente, para além do que é dito e do que é ensinado no decorrer da vida, a gente consegue notar a beleza nos detalhes de muitas coisas. A gente defende o direito de não apanhar enquanto tem muita gente defendendo o direito de bater e aí a gente não olha todos os aspectos da vida.

    Eu sou um cara que a minha música me trouxe até aqui, muito posicionada politicamente, muito clara, só que eu percebo a necessidade de naturalizar a minha presença nos espaços e falar de coisas que independem dos rótulos e das análises rasas e ansiosas. Acredito que nesse processo eu fui cavar sentimentos que eu sentia que eram humanos, eu nunca tive coragem de explorar porque achava que tinha que cumprir uma tabela do que as pessoas precisavam que eu falasse e eu não podia fugir disso. Tive que parar pra refletir que, na verdade, todo mundo ama, todo mundo fala sobre esse tipo de coisa, por que a gente não pode falar sobre isso? O disco veio nesse processo de olhar para dentro, olhar pra trás, quem eu fui, quem eu sou, em todos os meus defeitos, qualidades e subjetividades, falar sobre elas e sobre esses detalhes.

    O hip hop sempre teve esse papel pioneiro em alguns comportamentos. Você acha que neste momento o hip hop está ocupando um local de dar mais abertura para falar sobre a diversidade no amor?

    Eu acho que nos diferentes estilos e nas diferentes lógicas de composição e de trabalho, a gente tá aprendendo a humanizar o processo sem as amarras de conceitos. Isso vem de uma sociedade europeia, branca, de uma supremacia e uma imposição cultural. Eu acho que o hip hop está cumprindo seu papel como sempre cumpriu. Acho que, independente do seu momento, o rap salva vidas e faz as pessoas entenderem a si mesmas e o seu contexto de maneira muito visceral e verdadeira. É um processo natural nós começarmos a nos humanizar mais e falar mais sobre nossos pontos de vista emocionais e não convencionais à sociedade cristã europeia.

    _

    O novo álbum de Hiran está disponível em todas as plataformas digitais e seu último single Desmancho ganhou um clipe que está disponível no youtube e você pode assistir abaixo:

    Ficha Técnica

    Direção criativa: @hisandeverdade @dendezeiro

    Fotografia: @kevinoux

    Styling: @hisandeverdade @dendezeiro

    Cenário: @rnove1

    Produção: @itsbarnei @hisandeverdade

    Assistente de produção: nndigo._.bllue

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