A exposição “Alexander McQueen: Savage Beauty” está novamente em cartaz, desta vez no museu Victoria & Albert, em Londres, e é experiência rara de conhecer a fundo o trabalho de um mestre como McQueen.
Eu a vi no Met, em Nova York, e me lembro que pegamos a maior fila para entrar. Tamanho o sucesso, a mostra foi uma das 10 mais visitadas na história do Metropolitan e detonou uma série de exposições bem sucedidas que abordam o assunto moda. A moda foi parar nos museus e passou a atrair a curiosidade do grande público e não apenas a dos fashionistas.
Apesar das críticas do lado da arte em relação ao assunto “moda no museu”, se essas exposições fazem sucesso, alguma coisa isso quer dizer sobre a relação da população com a moda.
No dia da minha visita, as salas estavam abarrotadas, praticamente ninguém lá conhecia o estilista, então havia no ar uma atmosfera curiosa e instigante, que misturava-se a choro de crianças e exclamações do tipo: “o cara era bem louco”.
No meio de tudo isso, eu chorava meio escondido. Queria aquele espaço só pra mim, para não ter que andar com o fluxo que ia empurrando todo mundo ao mesmo tempo. Mesmo assim, valeu a pena.
Em primeiro lugar, é uma exposição em que dinheiro não é um problema (parceria com Swarovski). A produção não poupou esforços para exibir todo aquele acervo, de pequenos acessórios a grandes vestidos ícones da carreira de McQueen, então cada sala é instigante porque representa um pedaço da sua mente, um recorte de seu trabalho.
É a maior retrospectiva do estilista, contemplando desde sua coleção de graduação em 1992 até sua coleção inacabada de Inverno 2010. Seus métodos de corte e construção, suas peças minuciosas, as histórias de suas inspirações, cada desfile memorável, está tudo lá. É de fato uma viagem profunda ao seu universo tão intenso, romântico, rebelde, criativo e dolorido.
Arrepiou ver Kate Moss flutuando novamente, essa certamente uma das imagens mais incríveis geradas em desfiles na história da moda. O preço de ser genial assim não deve ser barato, como a história vem provando pelas mortes precoces de alguns grandes artistas.
No novo livro “Gods and Kings”, de Danna Thomas, há uma ótima passagem em que ela conta que, após um desfile de novos estilistas em 93, ele e sua equipe guardaram as roupas em sacos de lixo, esconderam numa lixeira por perto e foram pra balada. No dia seguinte, já no café da manhã, ele lembrou que a sacola havia ficado na rua. Voltou lá correndo, mas os lixeiros já haviam levado embora.
Outra curiosidade. Quando ele era ainda um jovem designer, foi até Martin Margiela pedir um estágio, mas foi mandado embora de volta pra casa. O motivo? Ele era simplesmente talentoso demais.
Esse breve relato só para dizer que a mostra vale muito a pena. E não precisa ser um apaixonado pelo McQueen como eu. Se você tiver a oportunidade ou quem estiver por Londres ou na Europa até agosto, não deixe de ver. Pegue a fila que for. E tem título melhor para definir Alexander McQueen? Savage Beauty. É exatamente isso. Rest in peace.