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    Marc Jacobs relança sua coleção mais icônica, o desfile grunge do Verão 1993 da Perry Ellis
    o look que em 93 foi desfilado por Shalom Harlow agora fotografado por Juergen Teller
    Marc Jacobs relança sua coleção mais icônica, o desfile grunge do Verão 1993 da Perry Ellis
    POR Camila Yahn

    No início dos anos 90 Marc Jacobs foi demitido da Perry Ellis, marca onde era diretor criativo, por causa da coleção de Verão 1993 que ficou conhecida como Grunge collection, inspirada na cena musical surgida em Seattle e que pouco tempo depois tomaria a cultura pop de assalto. A imprensa em geral, na época, considerou o desfile um desastre, ignorando que ele espelhava uma movimento jovem que estava surgindo. Mais de 20 anos mais tarde, Marc Jacobs relança essa coleção icônica e histórica através de sua própria marca. Entenda como tudo aconteceu, ontem e hoje.

    Contexto da época

    Shalom Harlow para Perry Ellis Verão 1993, com o look mais fotografado do desfile até hoje / Reprodução

    Shalom Harlow para Perry Ellis Verão 1993, com o look mais fotografado do desfile até hoje / Reprodução

    Era 1992, Marc Jacobs era um jovem talento com 25 anos vindo de uma coleção bem sucedida para a Perry Ellis que o encheu de auto confiança para seguir seus instintos. As ideias vinham de todos os lugares – fotos de Corinne Day, David Sims e Juergen Teller; ver Helena Christensen pela primeira vez usando um xale sobre um vestido camisola com um par de Birkenstocks ou sua amiga Ellen correndo com sutiã, calça de pijamas e Converse – e apontavam para uma mesma direção. A coleção grunge abordava essa estética relax, com cara de loja de segunda mão, já adotada pelas bandas de Seattle. Vestidos traziam mix de estampados que não conversavam e eram usados com tênis Converse ou Birkenstocks; camisetas, xadrez e flanelas, estampas de cartoon, gorros, sobreposições e uma atitude desleixada, com cara de alternativa e anti luxo. As estampas de frutas vieram de papeis de parede vintage que Marc achou e o clash de estampas criavam um barulho visual.

    Reação

    Kate Moss desfila para o Verão 1993 de Perry Ellis / Reprodução

    Kate Moss desfila para o Verão 1993 de Perry Ellis / Reprodução

    No geral, os críticos não entenderam. Naquela época, a moda em Nova York girava muito em torno das lojas caríssimas da 5ª Avenida e a proposta de Marc ia completamente contra o que era considerado uma roupa chique ou de design. A crítica Cathy Horyn, então no Washington Post, escreveu: “raramente o desleixo parece tão tão autoconsciente ou custa tão caro”. Trish Donnelly, do San Francisco Chronicle, foi além: “Os escravos da moda que são otários o suficiente para se apaixonarem por esse lixo grunge merecem o visual sórdido pelo qual eles pagam”, bufou.  E Marc foi dormir sob uma enxurrada de reviews ruins. De uma certa forma, aconteceu com ele o mesmo que aconteceu com Hedi Slimane em sua estreia na Saint Laurent. Curiosamente, nos dois casos, as coleções são inspiradas na estética grunge e bem jovem.

    Vale uma menção ao casting

    Kate Moss, Christy Turlington, Naomi Campbell, Carla Bruni, Kristen McMenamy, Helena Christensen, todas alinhadas ao final do desfile festejando e batendo palmas para um Marc Jacobs de 29 anos, de rabo de cavalo. A celebração em torno de Marc já mostrava e quão querido ele era pelas modelos desde o início de sua carreira.

    Veja o desfile completo abaixo, pena que não tem a trilha original com Pretend We Are Dead, do L7.

    O que aconteceu depois

    Mesmo que as pessoas não tenham capacidade para compreender o presente, os verdadeiros valores sempre vêm à tona em algum momento. Jacobs saiu da Perry Ellis e, com o dinheiro de sua demissão, começou a trabalhar em sua marca própria. A estética grunge virou mainstream, não só pela influência de bandas como Nirvana, Sonic Youth, Hole, Pearl Jam e L7, mas também por conta de filmes como Singles, de Cameron Crowe, e claro, da MTV.  Três anos depois, ele foi contratado como diretor criativo da Louis Vuitton e o resto é história.

    Na Vuitton, Marc continuou a inovar, trazendo artistas de galeria e de rua para colaborações subvertendo o monograma da marca. O último desfile de Marc Jacobs para a Perry Ellis é um dos mais relevantes e também o preferido do estilista. “Foi o mais liberador. E sei que pode soar cafona e falsamente humilde, mas é quando confio nos meus instintos – não significa que as pessoas irão gostar ou comprar – que durmo melhor a noite”.

    Mea culpa

    Em 2015, mais de 20 anos mais tarde, Cathy Horyn escreve um artigo na The Cut dizendo que havia mudado de ideia sobre a coleção grunge. “Por que tantos críticos não deram um lugar nas passarelas americanas para um olhar que representasse legitimamente uma expressão de novos valores – sobre beleza alternativa, glamour sem afetação e anti-luxo? Não estamos sempre incentivando designers a fazer roupas que refletem seus tempos? Em vez disso, colocamos nossas luvas brancas e redes de cabelo e mandamos Jacobs para a casa sem o jantar”, escreveu.

    Marc entende que, na época, uma mulher que queria comprar roupas de marca não chegavam na loja e pediam um vestido camisola e um par de Converse, sem maquiagem e com o cabelo desgrenhado. “Essa estética ia contra tudo o que alguém podia aspirar. Você podia ir a um salão e sair de lá parecendo com a Joan Collins. Ou você poderia pedir para parecer com a Cindy Crawford ou ter o cabelo da Linda Evangelista. Mas uma mulher com alguma educação de moda não chegava na loja e pedia um vestido que parecia detonado”, disse ao The Cut.

    Redux

    Coco Gordon Moore fotografada por Juergen Teller para a coleção Redux Grunge / Reprodução

    Coco Gordon Moore fotografada por Juergen Teller para a coleção Redux Grunge / Reprodução

    Não é segredo que sua marca vem passando por momentos difíceis, tentando se ajustar as demandas impostas sem piedade pela velocidade do negócio da moda hoje. Sua linha mais jovem deixou de existir individualmente e foi incorporada à marca mãe, muitas lojas foram fechadas e o foco de vendas hoje está na linha de maquiagem. Ainda assim, ele tenta fazer coleções com um propósito e que façam algum sentido – ao menos para ele. E muitas vezes, não necessariamente é o que vai vender na loja. Essa tem sido a sua luta (e de tantos outros).

    Jacobs então se reuniu com colaboradores antigos e também com Sarah Andelman, fundadora da Colette, para trocar ideias. Daí surgiu a ideia de re-editar a coleção grunge em formato capsula. “Não será uma venda agressiva. Não vou refazer essa coleção e vender por 1/6 do preço em espalhar por todas as lojas do mundo. Escolhemos apenas algumas lojas para vender, como Saks Fith Avenue e Dover Street Market”, contou a Horyn.

    A marca está reproduzindo 26 looks dos 70 originais da passarela junto com uma linha de acessórios que inclui gorros de tricô, joias e sapatos, de novo em colab com a Birkenstock e a Dr. Martens.

    Processo

    Marc não guardou nenhum sample da coleção, então ele e seu time tiveram que mergulhar em imagens e vídeos, como o clipe Sugar Kane, do Sonic Youth, que usou algumas cenas do desfile. O Costume Institute, do Metropolitan, tinha algumas peças para emprestar e amigas como a stylist Elissa Santisi e a editora Gabé Doppelt emprestaram peças pessoais, como o trench coat desfilado na época por Christy Turlington. Jacobs também pediu permissão ao artista Robert Crumb para usar novamente os desenhos do Mr. Natural e outras figuras na coleção.

    Instagram

    No perfil da marca no Instagram, há alguns looks novos fotografados por Juergen Teller e postados ao lado dos originais, com aspas de Marc sobre cada um e também sobre as modelos de hoje e daquela época. É uma delícia se perder por ali entre fotos e legendas. As meninas de hoje são ou amigas do estilista ou estão entre suas modelos favoritas.  Lily McMenamy, filha de Kristen, que desfilou no original, foi fotografada usando o mesmo look da mãe. Coco Gordon Moore, filha de Kim Gordon e e Thurston Moore do Sonic Youth, também está na turma nova (ela e sua mãe já fizeram duas campanhas para Marc); Ella Richards, filha de Lucie de la Falaise e neta de Keith Richards, também está lá junto a Slick Woods, Gigi Hadid e Mariacarla Boscono. E Naomi Campbell já postou uma foto vestindo o mesmo look que usou no desfile.

     

    Aliás, é também no Instagram onde vemos o interesse da geração Z (21 anos e menos) por essa estética, a redescoberta do grunge e dos anos 90. Mais uma vez, ao mirar nessa geração, Marc sai na frente.

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