Final do desfile da Dolce & Gabbana em Milão, com seu exército vermelho ©Juliana Lopes
Não necessariamente o melhor momento para condecorar a Espanha, mas quem imaginaria? Os espanhóis estão com o humor azedo desde os acontecimentos da última semana: uma nova fase da monarquia que se inicia em plena crise econômica e, menos importante mas capaz de piorar o clima, a eliminação precoce da Espanha da Copa do Mundo. Sem pão nem circo. Talvez por isso a vermelhidão sangrenta do cenário (simplicíssimo, comparando a outras temporadas) não tenha causado assim tanto impacto na passarela. Nem mesmo os itens básicos de uma referência espanhola: a música típica, o touro e o toureiro.
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Mas tentemos pensar que, no final das contas, são todos latinos nesse balaio. O clima de paixão, a valorização do corpo masculino, másculo, macho, auto-confiante, rústico. Esse mesmo homem também tem tudo para povoar a imaginação dos italianos Dolce & Gabbana, que encontraram um maravilhoso fio condutor que os levou ao topo da moda hoje: a Sicília, no sul da Itália. E, ao invés de continuar com outro capítulo da novela siciliana, a dupla de designers trouxe a Espanha, mesmo, praticamente fantasiada de toureiro (ok, a Sicília foi dominada pela Espanha uma época, mas é fato menos óbvio). O que acontece é que, quando uma marca encontra um DNA no próprio DNA de seu criador – Domenico Dolce é siciliano- a criação ganha muita força. A grande virada da Dolce & Gabbana foi quando Domenico parou de evitar seu passado e buscou inspiração na Sicília, a pedido de Stefano Gabbana.
Saindo do discurso geográfico, vamos pensar no que a marca tem de melhor: nenhum medo de chocar com seus adornos e cores fortes. Nem mesmo em sua coleção masculina. É aí que está a vanguarda da dupla: colocam mega-machões na passarela vestindo vermelho, cor essencialmente feminina. Estampas exageradas e ternos brilhantes, ainda em vermelho, fúcsia e até rosa. Precisa ser muito macho mesmo pra sair todo vestido de vermelho, e esperamos que a Dolce & Gabbana não perca essa aposta.