Imagem de desfile feita a partir da tela do computador ©Rogério Cavalcanti
A discussão sobre a utilização da internet como ferramenta para a promoção de desfiles não é exatamente nova, mas a cada notícia a respeito de designers que abdicam das passarelas físicas para investir em plataformas virtuais a temática retorna às manchetes. Recentemente a KCD, agência internacional de relações públicas vinculada à moda, anunciou a organização de um novo tipo de apresentação online que acontecerá na próxima temporada francesa, quando os convidados receberão uma senha e os estilistas que optarem por esta forma de apresentação exibirão todos os itens da coleção, incluindo as peças que ficaram de fora do show virtual. Os participantes dessa iniciativa da KCD em Paris ainda não foram anunciados, no entanto, a estreia do estilista Prabal Gurung a frente da marca ICB será feita digitalmente em Nova York.
Pre-Fall 2012 de Prabal Gurung, que estreará como designer da ICB em desfile online ©Reprodução
O anúncio da KCD reavivou os ânimos dos mais diversos profissionais que integram a indústria da moda, alguns dos quais não conseguem conceber tal mercado sem os desfiles “reais”. Para o presidente da KCD, Ed Filipowski, a proposta da agência é “oferecer uma terapia fashion”: “Eu tive seriamente que bancar o terapeuta para muitos editores ao longo dos anos porque há muito para ver, muitos lugares para ir e muitos compromissos. Existia uma necessidade de algum alívio e, espero, isso será o resultado criativo da questão”.
Os estilistas, que teoricamente formam o grupo mais interessado na questão, pouco se manifestam já que parece lugar comum o fato de dificilmente os desfiles online substituírem as clássicas apresentações físicas. O designer inglês Paul Smith mostrou-se favorável à iniciativa virtual, mas simultaneamente acredita que essa não eliminará a tradição: “Outro dia eu estava conversando com um ator e sua esposa – eles tinham ido ao Louvre e estavam horrorizados com o fato de que eram os únicos a realmente estar apreciando as obras de arte. Todos os demais estavam tirando fotografias. É o mesmo com os shows de rock: todos estão gravando e fotografando com seus celulares em vez de assistir e escutar”.
Irrefutavelmente os desfiles online constituem uma forma vantajosa e mais barata, o que beneficiaria estilistas iniciantes e marcas com espírito mais jovem, além de possibilitar uma maior interação com os entusiastas da moda que não têm acesso às grandes apresentações e backstages internacionais. A provável aproximação com o consumidor, no entanto, não significa a necessidade de optar-se por apenas uma das plataformas. É algo quase óbvio que as marcas com maior poder aquisitivo seguirão os dois caminhos, como já acontece com a Burberry, eleita a grife que melhor se comunica através das redes sociais. Já para os designers em ascensão, ou mesmo aqueles que ainda estão no plano das ideias, a internet é um veículo precioso de mostrar-se ao mundo. Por que é tão difícil aceitar que os dois caminhos são convergentes?