Onde está Alber Elbaz? ©Liu Bolin/Reprodução
Trânsito, pressa, stress, fome, calor. O esgotamento da vida cotidiana tem modificado a maneira como as pessoas se comportam em sociedade. Cerrados em nossos automóveis ou preocupados com a lentidão do transporte público, não enxergamos muito além dos veículos e semáforos a nossa frente. Vivemos sozinhos em meio a uma multidão de outros solitários, reclusos em nossos universos particulares. A percepção da invisibilidade “coletiva”, somada à preocupação com o crescimento desordenado da China contemporânea, forneceram ao artista plástico Liu Bolin o fundamento criativo para a elaboração de seu inusitado, porém fascinante, trabalho: pintado da cabeça aos pés, o chinês se funde a diferentes paisagens, que variam de muros arruinados a extraordinárias obras arquitetônicas, transformando a si próprio em parte do ambiente.
A precisão da camuflagem de Liu Bolin e a beleza da série de fotografias “Hiding in the City” ultrapassaram as fronteiras continentais da China, rendendo ao artista exposições nos Estados Unidos e Europa. Em sua edição de março de 2012, a “Harper’s Bazaar” convidou Bolin para inverter os papéis e, em vez de aparecer como habitualmente à frente das lentes, “esconder” os estilistas Alber Elbaz (Lanvin), Jean Paul Gaultier, Angela Missoni, Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli (os dois últimos da Valentino). “Existem muitos cidadãos chineses que precisam se auto-afirmar comprando marcas ocidentais. Então, nesta série, eu escondi cada designer em suas próprias criações. Faz você pensar sobre a relação entre o mundo que nós criamos e nós mesmos”, comentou o artista chinês sobre a parceria com a revista.
Jean Paul Gaultier invisível em meio a suas criações ©Liu Bolin/Reprodução
Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli entre os famosos vestidos vermelhos da Valentino ©Liu Bolin/Reprodução
Angela Missoni entre os clássicos ziguezagues da marca italiana ©Liu Bolin/Reprodução
As imagens produzidas por Liu Bolin causam, a princípio, impacto por sua perfeição técnica, mas após minutos dão origem a reflexões sobre como deixamos de enxergar o mundo que nos cerca e como somos fruto do ambiente em que vivemos. Os estilistas, que se misturaram a tecidos e estampas nas páginas da “Harper’s Bazaar”, são apenas um exemplo visual de como nos fundimos às nossas ideias e criações e como somos “produtos do meio”. É poético e compensador pensar que é possível superar o caos e as dificuldades sociopolíticas através da arte, transformando as dificuldades em beleza.
Making off: Liu Bolin no começo da transformação de Gaultier e Missoni ©Reprodução
Pierpaolo Piccioli aguarda enquanto Liu Bolin pinta Maria Grazia Chiuri ©Reprodução