Danielle Jensen ©Carla Valois/FFW
A estilista Danielle Jensen é a essência da delicadeza e suavidade. Desde que assumiu a direção criativa da Maria Bonita, em 2003, após o falecimento da fundadora da marca, Maria Cândida Sarmento, Danielle procura conservar o espírito minimalista e cheio de brasilidade da grife carioca. Pouco afeita a badalações, mantem-se discreta e concede poucas entrevistas.
Pouco antes do desfile de Inverno 2012 da Maria Bonita, Danielle recebeu o FFW na sala de desfile e conversou sobre o início de sua carreira, que começou “meio sem querer” e sobre suas referências de música e literatura.
Como começou a sua carreira? Como surgiu o seu interesse por moda?
Na verdade, aconteceu tudo por acaso. Eu fazia Biologia e a parte que eu mais gostava era a parte de desenho. Eu soube que tinha uma faculdade de moda e fui fazer, mas as coisas aconteceram muito sem querer. Nunca tive uma paixão específica por moda, sempre gostei de imagem, não necessariamente imagens ligadas à moda. E aí fui começando e gostando… comecei com a parte de acessórios e até hoje é uma parte a qual eu me dedico bastante, aconteceu assim sem querer, mas querendo um pouco. E eu trabalhei com a [Maria] Cândida, que fundou a Maria Bonita e que era a estilista da marca. Ela faleceu em 2002, e eu era assistente direta dela e acabei continuando um caminho…
Qual faculdade de moda você cursou?
Eu fiz a Veiga [Universidade Veiga de Almeida, do Rio de Janeiro] e cursei a Esmod, em Paris, com uma bolsa de estudos que ganhei na faculdade. Acho que é um pouco isso, é uma história muito curta, sem muito glamour como as pessoas sempre esperam de uma história de moda. Mas é minha trajetória, até hoje eu não sei como eu estou aqui e acho que é bom ter sido assim sem querer…
Você se vê muito na Maria Bonita, desde que era assistente da Maria Cândida?
Eu sempre acreditei muito na marca e no trabalho que a Cândida desenvolvia, sempre fui admiradora do trabalho e de como ela construiu a história dela. E acho que ela me passou um pouco disso.
Como você vê o crescimento da moda brasileira e a atenção internacional sobre o Brasil? Você sente uma maior pressão em decorrência disso?
Pressão, sempre! (risos) Independente dos jornalistas internacionais que venham ou não, a pressão é constante na nossa vida porque a gente trabalha com uma imagem, mas essa imagem ao mesmo tempo tem que vender, não pode ser só artístico. Ela tem o ponto comercial dela e, a partir do momento que tem esse ponto comercial, existe pressão. Sobre o crescimento da moda nacional, acho que é importante crescer, mas sabendo crescer. E acho que a gente não pode deixar o que a gente tem. Para crescer, as pessoas tem que mostrar mais o que são, tem que saber globalizar, senão se vira mais um na multidão.
Quais são as suas referências e influências?
São muitas, é difícil selecionar. Eu escuto muita música e acho que isso ajuda muito a pensar e a repensar as coisas. De literatura, eu gosto muito de ler e sou apaixonada por coisas do Brasil, então eu leio muitos escritores brasileiros: Clarice Lispector, Jorge Amado, Gilberto Freire. Eu tenho uma curiosidade pela cultura nacional muito forte, então tento buscar isso e trazer um pouquinho para o trabalho que a gente desenvolve aqui na Maria Bonita. E acaba refletindo mesmo, mas acho que a música é uma referência muito forte. Chico [Buarque], Luiz Gonzaga, Caetano [Veloso], Cartola e muitos outros… acho que eles são os que me inspiram mais.
Onde você buscou inspiração para a coleção do Inverno 2012?
A inspiração foram “dias no Norte”, como se fosse um expedicionário viajando pela região Norte do Brasil. Eu já fiz essa viagem, mas não especificamente para criar a coleção. A viagem às vezes está muito próxima da gente e a gente não precisa ir exatamente a tal lugar para viajar, isso é importante para todo mundo, para a vida… então é um viajante que foi colhendo coisas no caminho e mostrando um pouquinho do Norte.