Imagem da série “A beleza de um vício feio” ©Frieke Janssens/Reprodução
A arte é usada constantemente para causar reflexão. Através do impacto de uma imagem, ou um texto, diversos artistas se propuseram a questionar aspectos da vida em sociedade, considerados banais ou não. A fotógrafa belga Frieke Janssens resolveu discutir o hábito de fumar e as leis antitabagistas unindo elementos que na maioria das vezes são opostos entre si: crianças e nicotina. A série intitulada “A beleza de um vício feio” (“The beauty of an ugly addiction”) traz meninas e meninos entre quatro e nove anos vestidos de maneira retrô em poses imponentes e portando cigarros, cigarrilhas ou charutos.
As fotografias, esteticamente belas, porém chocantes, têm um ar melancólico e decadente que lembra a atmosfera de um filme noir. O intuito de Frieke é confrontar a imagem de glamour do ato de fumar, propagada por tantos anos pela indústria do entretenimento, com o vício prejudicial que ele realmente é. A inspiração para o projeto veio a partir de um vídeo, postado na internet, que apresentava um bebê indonésio que chegava a consumir 40 cigarros diariamente. Questionada sobre a polêmica série, a belga se defendeu afirmando que ao colocar crianças no lugar de adultos, a atenção se voltaria completamente para o fumo.
“Candy Cigarette”, de 1989 ©Sally Mann/Reprodução
Todavia, a proposta de Janssens não foi assim tão inovadora. O artista plástico israelense Nir Hod e a fotógrafa americana Sally Mann já fizeram obras com fio condutor semelhante ao da série da belga de apenas 31 anos. Na exibição “Genius”, Hod produziu mais de 50 pinturas de jovens e crianças com roupas de época e cigarros em mãos. Já Mann criou em “At Twelve: Portraits of Young Women”, de 1988, uma de suas imagens mais icônicas, que mostra uma garota de menos de 12 anos displicentemente segurando um cigarro.
Se o objetivo de Frieke Janssens foi criar polêmica e repercutir seu trabalho ou realmente pensar a respeito dos malefícios da nicotina, não é possível saber ao certo. As imagens, no entanto, causam verdadeiro desconforto e ponderação, mesmo com a informação de que os cigarros utilizados nas fotografias foram feitos de queijo e incenso.