Desde a metade dos anos 1990, quando Michael Jackson trocou sua carreira por escândalos, o reinado do mundo pop tem sido ocupado exclusivamente por mulheres. O mito do cantor, ou em inglês, crooner — aquele músico cujo principal instrumento é a voz — desapareceu do imaginário musical popular. Mas nas mãos de uma geração de novos artistas e suas vozes virtuosas _ além de inspiração no soul e a motown_ o culto à voz masculina entre o público está sendo resgatado.
É o caso de Cee-Lo Green, que produziu o melhor single de 2010: “Fuck You”, uma ode à cultura negra dos anos 1970, e sua voz inflada. “Você pode lembrar dele pelo hit Crazy (…) Mas Cee-Lo é, acima de tudo, um cantor”, diz um statement em seu site oficial. Seu produtor, Bruno Mars, não fica atrás: é o menino dos olhos da sua gravadora, dominou os EUA em 2010 e agora ataca a Europa com o single “Grenade” no topo das paradas, uma balada onde admite se jogar em frente a uma granada para salvar sua mulher. Tudo com sua voz suave e emotiva.
No programa “Late Night With Jools Holland”, Cee-Lo canta “Lonely Teardrops”, clássico dos anos 1950 composto por Jackie Wilson:
No começo de 2011 chega James Blake, que caminha do dubstep em direção à canção. No cover de “Limit To Your Love”, de Feist _que faz parte de seu álbum de estreia, considerado um dos grandes lançamentos do primeiro semestre_ ele mostra uma voz grave e potente, quase intocada sobre batidas eletrônicas minimal. No mesmo caminho, mas na direção contrária vem Jamie Woon; cantor treinado, já fez backing vocals para Björk e constrói canções apenas com o uso da voz, beat-box e pedais de repetição.
“Limit To Your Love” – James Blake
“Spirits” – Jamie Woon
O novaiorquino Idiot Glee, aka James Friley (que não tem nada a ver com o seriado), mesmo com seu instrumento modesto, foca suas músicas nos vocais. E se banca, como na versão dubstep da antológica “Ain’t No Sunshine”, de Bill Whiters.
“Ain’t No Sunshine” – Idiot Glee
No Brasil, o revivalismo dos cantores começou em 2010. Bruno Morais e Thiago Pethit vieram primeiro; depois Marcelo Jeneci, com seu impressionante disco de estréia, “Feito Pra Acabar”, produzido por Kassin. No final do ano, Leo Cavalcanti lançou “Religar”, e apesar de multi-instrumentista, é cantando que chama mais atenção — o caso de quase todos estes. Por aqui, as referências são outras; olha-se para Ney Matogrosso, Roberto & Erasmo Carlos, às vezes Belchior e Caetano Veloso. As divas da MPB que se cuidem…