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    O criador e a crítica
    O criador e a crítica
    POR Augusto Mariotti

    Por Fernand Alphen

    Desfile Alexander McQueen Inverno 2009, exercício de criatividade sobre o conceito de reinvenção ©Reprodução

    Ulzyvan von Zuberovsky nasceu em Garça. Sua mãe era a rainha do chuleado, seu pai era diretor do Banco do Brasil. Manoel Ernesto era filho único, melhor aluno do grupo escolar mas gostava mesmo era de frequentar as reuniões da loja Maçonica, escondido atrás das cortinas de veludo. Era lá que sonhava com hierarquias Transcendentes, ideais Metafísicos, triunfos da Razão e grandes Arquitetos das Estruturas.

    Com 18 anos, Mané mudou-se pra Capital e de identidade. Montou-se, criou bigodinho e maneiras de um herdeiro decaído de dinastias polonesas. Nascia assim um ícone que arrasou nos ateliers parisienses, rivalizou com madames. Dizem que Charles Frederick Worth, lui même, sentiu-se ameaçado e começou uma campanha de detração. Acusou Ulzyvan de impostor, fútil e veado. Falou de suas criações com desprezo, que eram inexequíveis, faraônicas, destituídas de moralidade e respeito às tradições.

    Humilhado, Ulzy voltou ao Brasil, a beira do suicídio, com a detração a sufocá-lo. Mas perseverou e fundou uma maison, cujo sonho libertário consistia em nunca mais sucumbir à critica.

    Sua técnica consistia em reunir em seu salon costureiras, modelistas, clientes e outros livres pensadores, em orgias criativas, mais conhecidas depois por brainstorms. A regra de ouro dessas sessões era jamais censurar uma ideia quando surgisse, mesmo estapafúrdia, inexequível ou simplesmente idiota. Foi um enorme frisson mas um retumbante fracasso.

    Brainstorms não são um desastre porque reúnem pessoas para discussões, debates e troca de ideias. São ineficientes porque fazem uma lobotomia na crítica.

    Suspeito que o processo criativo no mundo da moda seja tão primitivo quanto no da propaganda, minha área de atuação. Os brainstorms tiveram seu momento de glória mas não passam de enfadonhos desabafos destituídos de senso prático. No entanto, o retrocesso é ainda mais frustrante que a tentativa democratizante: criar nesses dois mundos muitas vezes ainda significa ter epifanias chiliquentas numa torre de marfim.

    Mas criar é o avesso do isolamento. É também um convívio consciente com a crítica.

    Em um mundo de efervescência de influências e informações, o isolamento é sinônimo de alienação. Criar de forma autocentrada, sem banhar-se na crítica, mesmo a mais destrutiva e invejosa, é contaminar-se com o vírus do envelhecimento precoce.

    A autocrítica é para muitos criadores um alibi. Dizem-se capazes de dispensar opiniões alheias de tão auto-exigentes. Mas a autocrítica é refém, sempre, da vaidade. Não basta.

    A criatividade não depende tanto de metodologias e mais da estrutura psíquica e de personalidade das pessoas. No entanto, existem contextos mais férteis do que outros. Trabalhar em ambientes abertos, em que a interação seja constante e forçosa, por exemplo. Ainda, pode-se aprender a tolerar a detração com paciência e o exercício da defesa é um enorme fermento de criatividade.

    Ulzyvan von Zuberovsky morreu esquecido até à presente obra de ficção. Suas criações, apesar de democráticas, não passavam de retalhos de ideias, promessas vagas, tendências chuleadas.

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