Via @cotelgramps
Ontem (17/09), aconteceu no “Pense Moda” do MMI a deliciosa mesa sobre Processos Criativos. Composta pelos representativos estilistas brasileiros 2011/10/3289_Ronaldo Fraga e Lino Villaventura, com mediação _ e provocações, obviamente _ do editor de moda da “MAG!”, Paulo Martinez, um “bate papo descontraído” se desenvolveu e nele os estilistas falaram abertamente sobre como produzem e pensam moda, de onde vem suas inspirações e de que forma fazem daquilo que pensam, produto, dando algo de uma _ identidade _ a moda nacional.
“Eu não escolhi essa profissão, escolheram pra mim”. Assim, Lino começa a sua fala, resgatando sua história particular de ingresso no mundo da moda. Convidado a confeccionar peças para pessoas próximas, iniciou seu trabalho com liberdade criativa, produzindo quase que instintivamente. “Fazia a peça e ficava tenso depois, esperando ver a reação da pessoa que havia me pedido”. A partir das boas reações que foi tendo com o passar do tempo, conclui: “Devo ter nascido para fazer isto mesmo”.
Fraga, por sua vez, comenta da dificuldade que os aspirantes em trabalhar com este setor encontravam até os anos 80, sobretudo no acesso a informações de moda no Brasil. Relembra nomes como Cristina Franco, Regina Guerreiro e Ney Galvão, sobre os quais imprime grande importância na história da moda nacional. “Me perguntava: o que tem de interessante em fazer moda? É só fazer roupa?”. Dessas interrogações, resolveu aventurar-se.
De forma _ absurdamente _ informal e bem humorada, Lino e Fraga divagam sobre a necessidade de imprimir, naquilo em que produzem, confeccionam, criam, algo das suas singularidades, referências, estilos. “É impossível para nós fazer algo em que não se mostre uma identidade. Isto, talvez, seja aquilo que nos diferencia”, comenta Lino, ao que Fraga completa: “O mágico de fazer moda é isto, exatamente: interpretar um texto.”
Acusados pela crítica de fazer moda teatral, os referidos estilistas discutem que seus processos criativos estão acima do bonito ou feio. Suas “obras”, tecidas sob a espontaneidade de um momento contingente, são a expressão de um árduo trabalho de “remexer imagens, acervos de memória e imaginação até chegar a um produto, uma idéia, uma imagem que me dirija”, como pontua Lino.
“A cada coleção, eu penso: que história eu quero interpretar agora? Que verdade vou criar?”, comenta 2011/10/3289_Ronaldo Fraga, ressaltando que este é o fundamental de qualquer processo criativo, em que algo do criador esteja impresso na sua criação.
Deste bate papo, fica clara a importância de que, no processo criativo, tal qual em qualquer labor em que emoção seja força motriz, identidade e referências _ história, cinema, arte, economia, mas sempre traduzido de forma idiossincrática por quem as detém _ estejam no cerne do trabalho. Além disso, Lino VillaVentura e 2011/10/3289_Ronaldo Fraga dão uma aula sobre o que chamamos aqui de Manifesto por uma Moda Discursiva.
É possível, tendo-os como exemplos de criação e produção em moda, inspirar com as roupas uma outra confecção. O que eles criam é um tecido simbólico, invenção singular, que serve de palco para que a inventividade se desenhe. A moda é sempre outra moda.