Para revelar as ações que marcarão a celebração dos 50 anos do shopping Iguatemi durante todo o ano de 2016, o CEO Carlos Jereissati Filho, 44, recebeu a imprensa com um brunch para apresentar o logo especial comemorativo da data e manifesto, além de reforçar os códigos e valores do primeiro shopping do país e sua trajetória incansável em busca de se modernizar sem perder a identidade.
Na ocasião, ele também apresentou as ações que vão marcar essa celebração, que se iniciam em junho e se extendem até outubro, como um manifesto, um novo filme feito pela Box 1824, e a campanha, com imagens do portifólio de fotógrafos consagrados e novos, como Gleeson Paulino, revelado pela FFWMAG. Inclusive, uma das fotos que fez para a edição 38, de Cris Herrmann com um look da Paula Raia, foi escolhida pelo diretor criativo Helio Rosas, que assina a campanha e o novo logo para os 50 anos do shopping (veja imagem abaixo).
Na direção há 14 anos, Carlos desfaz os mitos que muitos acham que constroem um CEO de sucesso. Um jeans no lugar da calça social, fala mansa, um sorriso fácil no rosto, e, fora o constante balançar de suas pernas durante nosso papo, nada revela o nível de ansiedade que deve ser a vida de um grande empresário, por traz de uma holding que detém quase 20 shopping centers pelo Brasil. “Esse mundo é coisa do passado”, ele diz. “Essa reverência que existe pelo passado, hoje em dia é um engano”.
Sentamos com Jereissati Filho para uma entrevista em que ele fala justamente do equilíbrio entre tradição e modernidade, momento atual do mercado e sua trajetória de estagiário em obra a CEO.
Há quanto tempo você é CEO do grupo?
Há 14 anos. Entrei em 2002, com 30 anos, mas comecei a trabalhar bem antes.
Como foi do início até aqui?
Comecei na obra do Market Place, eu tinha 14 anos. Entrei como estagiário na obra para ver como é feito investimento em obra, depois fui para finanças, planejamento, marketing, gerência geral, diretor de operações e, em 2002, eu passei a ser chamado superintendente, que era o responsável pelos shoppings todos, que virou CEO em 2007, quando a gente abriu capital.
Você começou bem cedo.
Mas é o valor da minha família, trabalhar desde sempre. É um hábito, você começa cedo e nem tem dúvida que trabalhar é um bem necessário. Se você começa a trabalhar muito tarde, é mais difícil explicar o quanto é necessário. Se eu puder dar uma dica, é trabalhar.
Você também parece um CEO diferente, é mais informal, está aqui de calça jeans na comemoração de 50 anos do shopping, senta no chão pra fazer uma foto…
Esse mundo acabou. Sinceramente, esse mundo de hoje é muito mais horizontal. A importância que a gente se dá hoje em dia é um engano. Essa reverência que existe pelo passado, essas pessoas todas, não existe mais. As pessoas estão lá pra prestar um serviço e fazer o trabalho delas bem feito. E com o empresário não é diferente. Os símbolos todos têm que ganhar novas referências. As pessoas têm que participar do jogo com todo mundo, contribuindo e de uma maneira mais tranquila e próxima do que foi no passado.
Você usa a palavra elegância em vez de luxo.
É a maneira como a gente encara as coisas. Eu sou um cara que, ao contrário de muito empreendedor de shopping center, que fala que a esposa compra, manda entregar, etc, eu passeio pelo varejo, gosto de loja, frequento, entendo, dou palpite. Tem as que eu gosto mais, as que eu gosto menos, mas é algo que faz parte do jogo e pra mim não é um problema, é um prazer. Eu sou comprador de várias marcas, sei apreciar.
Que marcas você compra?
Várias! Não posso dizer porque se eu esquecer uma, eles me matam depois.
Como está a situação atual para o varejo de moda? A alta do dólar favoreceu as marcas nacionais?
Sim, tem um efeito duplo na verdade. As marcas nacionais que têm forte identidade se tornam mais fortes agora porque as pessoas voltam a olhar para elas como uma oportunidade de consumo. As internacionais também ajustam o preço delas de acordo com a variação do dólar. Fica caro comprar lá fora. Consome-se mais aqui marcas nacionais e também internacionais, em detrimento do que era consumido fora.
Então pro mercado, mesmo com o país em uma situação delicada, é um momento positivo?
Para o mercado brasileiro de modo geral isso é bom porque faz o brasileiro gastar mais aqui. E não é só o dólar alto, é o custo da viagem como um todo, que acaba impactando nas decisões de compras dentro do país.
O Iguatemi sempre abriu espaço para marcas novas ou mais de nicho, como Vix e Egrey, por exemplo. Vocês ficam de olho nas novidades que surgem? Como acontece essa curadoria?
Estamos sempre de olho. Temos um departamento no shopping que só cuida dessa parte que faz a escolha de loja, que não é feita por um corretor, é feita por um pessoal do varejo. Eles olham tudo o que há de novidade, acompanham as tendências lá fora e aqui e fazem essa curadoria. Porque também não é tudo que acontece lá fora que funciona no Brasil. O Brasil tem um tipo de público que bate com uma marca e faz sucesso. Outras marcas, não adianta, 10 pessoas vão comprar. E não é só uma questão de valor, é uma questão de como as pessoas se vestem. E isso não é só em moda, é em todas as categorias, restaurante, laser… A gente tem uma equipe dedicada a isso, olhando sempre para trazer novidades, produzir coisas diferentes e apostar. A Vix é um exemplo, que veio do Rio, teve uma loja temporária com a gente, hoje tem uma fixa e agora desfila no SPFW.
E quando vocês pegam uma marca nova, existe uma consultoria para esse jovem empresário e uma preocupação em ensinar o público sobre aquela novidade?
Sim, esse departamento não é só de identidade e tendência, mas também de contato, explicação do negócio, entender os potenciais, contar porque acha que vai funcionar, força de venda, etc. Tudo isso é discutido e toda a parte econômica é olhada também pro negócio poder ficar em pé.
Muitos estilistas com quem converso falam que as vendas do Iguatemi são superiores às de outras lojas da mesma marca. Por que vende-se mais no Iguatemi?
Acho que porque foi o primeiro shopping e conseguimos evoluir através dos anos. Tem um conjunto também que o torna bastante atrativo e é um lugar de revelação, talentos novos. E as pessoas obviamente que chegam aqui, não apenas da região mais próxima, que é nosso maior consumidor, mas de muitos outros estados. Ele é o segundo shopping de São Paulo inteiro, tem uma força no Brasil. Há um shopping em Recife, mas provavelmente as pessoas também compram no Iguatemi. Tem em Caxias do Sul, mas compram aqui. Essa combinação, que não e só pra sua zona imediata de influência, mas também é pra todo um estado ou país, ajuda na composição desses números.
Você fala sobre tradição e modernidade. Como equilibra as duas coisas?
Vou dar um exemplo. Não sei se as atrizes vão ficar felizes, mas pense numa atriz que envelhece com o mesmo rosto, bonito, mas que sofreu, e uma atriz que se transfigura ao longo da vida. Quer dizer, essas pequenas sutilezas fazem toda a diferença. A preocupação do Iguatemi é essa: evoluir sem perder o que se tem de valor. E fazer isso é uma arte também, de certa forma. E tudo isso depende de uma coisa: conhecimento. A gente precisa projetar lá na frente e vir fazendo o caminho de volta. E pouca gente faz isso. O Iguatemi sempre soube ter idade mantendo o que tem valor pra ele.
Os shoppings em geral, claro, têm muitos pontos em comum e experiências muito parecidas, senão iguais. O Iguatemi construiu uma marca em si. Quando vocês planejaram o shopping como um símbolo e não apenas um centro comercial?
Isso foi há 30 e poucos anos quando começaram a aparecer os primeiros shoppings fora de São Paulo, como em Campinas, Porto Alegre, Fortaleza. Foi uma reflexão correta de oferecer o que tinha de melhor no varejo nas melhores áreas de cada cidade. Funcionou muito bem porque é verdadeiro. O que é verdadeiro, permanece; o que não é, não se sustenta. Pra ter a identidade Iguatemi precisa-se preservar algumas características e atributos que o Iguatemi São Paulo tem, guardadas as devidas proporções que a capital permite ter, como operações com Cartier, Chanel. Mas naquele mercado, você oferece o que tem de melhor de compra e experiência.
Quanto tempo em média leva para trazer uma marca como Cartier ou Chanel pro shopping?
Ah, depende. Algumas até uma década. Era muito mais difícil há 15, 20 anos e tem sido mais fácil de uns tempos pra cá. Mas diria que hoje chega até uns 4, 5 anos.
E isso porque vocês têm 50 anos de atividade e um grande portfolio.
Mas é porque eles precisam achar a metragem adequada, o lugar correto pra entrar no país, o cara tem que querer se mover pra algum lugar, o espaço tem que estar disponível, eles têm que montar uma estrutura no Brasil. Olha, é uma luta.
Quem é o principal consumidor hoje? Ele se renovou em termos de faixa etária?
A faixa etária continua a mesma, de 29 a 45 anos. Depois disso as pessoas vão ficando mais velhas, saem menos, tem menos vontade de comprar, inovar. O que cresceu muito nos últimos anos foi a criança. Ela ganhou um peso na importância das famílias gastando pra elas, inclusive em moda.
Quais os desafios dos próximos anos?
Tem muita coisa que ainda queremos fazer. Cada vez mais criar espaço de experiência dentro do shopping, implementar uso de tecnologias no negócio todo, nas lojas. E há muitas transformações que vamos ver acontecer, talvez menos carros, mais espaços para outras coisas e serviços.