Dois dos principais shoppings brasileiros voltados para o consumo de luxo, lançaram suas plataformas de e-commerce recentemente. Primeiro, o Cidade Jardim lançou em 2018 o CJ Fashion; e, neste mês, o Iguatemi introduziu o Iguatemi365.
A atualização do modelo de negócios para omnichannel condiz com a mudança de comportamento do consumidor e mostra a grande transformação pelo qual os shoppings – e o varejo de forma geral – estão passando.
Ao longo dos anos, os shoppings viraram grandes centros de lazer onde as compras nem sempre vêm em primeiro lugar. Hoje as lojas disputam com cinemas, restaurantes, exposições, parques de diversão, cafés, livrarias, academias, teatros, supermercados, agências bancárias e alameda de serviços. Empreendimentos como o Cidade Jardim, são conectados a prédios residenciais e de escritórios, ou seja, se você quiser, pode resolver sua vida dentro de um shopping center. Segundo a Abrasce (Associação Brasileira dos Shopping Centers), esse modelo de negócio alinhado à necessidade do consumidor, fez aumentar o fluxo mensal de visitantes, que cresceu 5,8% em 2018 comparado ao ano anterior, saltando para 490 milhões de visitantes por mês no país.
Os shoppings centers são, naturalmente, uma invenção americana que surgiu aqui nos anos 60 com o Iguatemi, shopping mais antigo do Brasil. E o negócio pegou. Fatores resultantes do crescimento urbano, como a necessidade de segurança, maior conforto e praticidade, incentivaram o crescimento desse segmento.
Quando as marcas internacionais começaram a chegar no país, estabelecendo-se primeiramente em São Paulo, elas abriram suas lojas na rua, ocupando a região dos Jardins, assim como fazem em outras capitais como Paris, Londres, Tóquio e Nova York. De olho no valor que grifes como Louis Vuitton, Dior, Chanel e Hermès poderiam agregar ao seu portfólio, shoppings como Cidade Jardim, Iguatemi e JK foram rápidos em oferecer boas condições para que elas inaugurassem suas lojas em seus empreendimentos e não na rua. As condições eram irresistíveis, já que o shopping oferece um suporte na administração e know how do sistema brasileiro, uma valiosa ajuda para marcas estrangeiras desbravando o complicado mercado brasileiro.
Porém esse momento também coincidiu com uma grande mudança de comportamento de consumo, com um público que estava começando a migrar para a internet. Muito já se falava que as lojas, na época especialmente as de eletrodomésticos, virariam showrooms: você entraria lá para olhar, experimentar e escolher, mas compraria na internet, navegando por diversos endereços até encontrar a melhor condição de pagamento e entrega. Hoje isso acontece, basicamente, com qualquer tipo de produto.
Portanto, pressionados pelo avanço do comércio online que mudou a forma como as pessoas fazem compras, os shoppings precisaram se mexer se quisessem sobreviver – estar em vários canais ao mesmo tempo é o que o consumidor espera hoje. A mudança também é uma forma de solucionar os corredores vazios, já que grande parte do púbico frequentador lota as opções de laser, mas deixa de gastar nas lojas. Segundo Glauco Humai, presidente da Abrasce, disse à revista Isto É Dinheiro, “este ano será marcado por uma virada na transformação digital dos shoppings”. Os dois shoppings oferecem entrega em casa ou retirada na loja, tornando-se também uma espécie de mini centro de distribuição. Se você opta por retirar sua compra no empreendimento, há a chance de uma compra por impulso no local.
Mas tem também uma outra questão. A resposta não está apenas na diversificação dos canais de venda e atualização do modelo de negócios. Está também na apropriação de informações mais precisas sobre as transações entre pessoas e marcas. “Isso pode sinalizar uma transição importante: de um negócio predominantemente de real state para um que envolve diferentes canais e que ainda produz novas receitas a partir de dados”, explica reportagem no site ecommercebrasil.com.br.
E esse caminho, de se tornarem relevantes agregadores de informações sobre consumo e consumidores, passa pelo e-commerce. “Ao intermediar as transações, o shopping se habilita a reunir, analisar e cruzar dados, além de poder criar produtos a partir da inteligência adquirida”.
Serviços
O CJFASHION foi a primeira plataforma de vendas digital de um shopping center de toda a América Latina. Com o portfólio de marcas internacionais e nacionais de sua rede, ele traz uma experiência de compras físicas e online totalmente integradas. Marcas como Balmain, Emilio Pucci, Brunello Cuccinello, Giorgio Armani e Zimmerman estão implementadas ao e-commerce entre as mais de 150 grifes que podem ser compradas online e entregues em qualquer lugar do Brasil. Mas o maior diferencial é o serviço do CJ Concierge, disponível através do aplicativo. Nele, o consumidor pode comprar qualquer item de qualquer marca acima de R$200 (no e-commerce, por exemplo, não dá para comprar uma roupa na Dior, somente óculos).
Entre as facilidades de comprar online, está uma possibilidade mais acessível de pagamento (em até 10 vezes) e a extensão desse portfólio a clientes de outras regiões do país.
Já o Iguatemi lançou sua plataforma com mais de 90 marcas nacionais e internacionais, sendo muitas exclusivas, como Tiffany & Co., Ermenegildo Zegna e Diane Von Furstenberg. Por enquanto a operação atende todo o Estado de São Paulo, com expansão prevista para 2020.
E não é apenas o público que sai ganhando, mas também os varejistas. “Todos os passos são de responsabilidade da Iguatemi. Oferecemos um one-stop-shop aos nossos parceiros varejistas, desde a produção fotográfica das mercadorias, integração de sistemas, atualização de informações na plataforma, pagamento, recolhimento dos itens vendidos, empacotamento, despacho e entrega”, diz Carlos Jereissati Filho, presidente do Grupo Iguatemi, em comunicado à imprensa.
Segundo uma pesquisa do Google, em dois anos, 27 milhões de brasileiros farão sua primeira compra online. É um número super expressivo que só tende a aumentar, exigindo reações rápidas e constante atualizações de serviços e ferramentas.
Hoje, em uma época de profunda transformação, em que vemos ícones do varejo como Barney’s, pedindo falência, tão ou mais importante do que oferecer cafés, teatros, shows e exposições, é investir em uma tecnologia que vai facilitar a experiência online do consumidor, da pesquisa, passando pela compra, entrega e levando em consideração também uma eventual necessidade de retorno ou troca. Sai na frente quem oferecer o serviço mais fácil, rápido e menos burocrático. É isso, no final, que vai fazer ele voltar.