O ex e o atual: Nicolas Ghesquière e Alexander Wang ©Reprodução

Quando fiquei sabendo que Alexander Wang será apontado novo diretor artístico da Balenciaga, minha reação foi: “O quê?????? Ah, não…”. Havia gostado da ideia de Christopher Kane como um dos candidatos. Como uma menina mimada, fiquei reclamando no carro, para mim mesmo: “Não acredito, não pode ser”, como se aquilo fizesse de fato alguma diferença na minha vida.

Wang é um estilista que merece respeito. Em pouco tempo transformou sua marca em um negócio promissor e em constante evolução. Seu mix de sportswear hightech com um luxo cool atende cada vez mais ao gosto das jovens socialites e fashionistas que circulam em torno dele. Estava tudo certo enquanto ele desfilava sua marca em Nova York.

Não parece tudo um pouco fora de lugar? Stylists e donos de loja nas direções criativas de Mugler e Kenzo; Slimane brincando de rei na Saint Laurent e migrando a sede história da marca para… Los Angeles! E agora, um estilista americano na Balenciaga.

Um espelho para os tempos atuais. Mobilidade é uma palavra que temos usado com frequência e a moda está inserida nesse contexto, já que vive em um movimento constante em busca de renovação (e inovação, às vezes).

Com a nomeação de Wang, percebe-se o tipo de mudança pela qual a Balenciaga vai passar: de vanguarda da moda a criadora de bolsas desejo. Como todo mundo, a marca quer vender e fechar o ano no azul. Quanto já não deve ter sido investido no período Ghesquière? Belas imagens, belas ideias, belas peças, belíssimos elogios — que não representam belos lucros.

Wang e Azealia Banks no Met Ball deste ano ©Reprodução

Nicolas é um estilista reservado, avesso a badalações, não circula com celebridades, quase não se sabe nada sobre ele. O oposto de Wang, jovem loucurinha, carismático, que não perde uma boa festa, é queridinho da Anna Wintour e das jovens ricas e descoladas e, muito importante, conectado com o business tanto quanto com a criação (chegou até a ser acusado por trabalho escravo). Alex parece mais flexível, sem dificuldades em mudar de direção caso necessário. Para o CEO da Balenciaga, é um estilista muito mais fácil de controlar. Wang sabe que o desapego hoje, na moda, é cada vez mais necessário, já que as marcas são geridas mais pelos interesses da empresa do que pelas vontades estéticas do criador. Sabe aquele ditado “you gotta do what you gotta do”? Este é Alexander Wang.

Nicolas e Kristen: alguém vê qualquer sintonia? ©Reprodução

Já Ghesquière, concentrado, poeta vanguardista, sempre empurra a moda para frente em termos de materiais, formas, conceitos e imagem. Tornou-se um dos estilistas mais influentes do mundo. A moda precisa de pessoas assim, já que são elas que desenham o seu futuro, mas infelizmente, hoje isso tem um preço. O preço de não se encaixar. Como deve ser para Nicolas ver Kristen Stewart, a celebridade mais sem sal, estilo e personalidade como garota propaganda da Balenciaga, marca que ele reconstruiu e dirigiu pelos últimos 15 anos? Ao mesmo tempo ela é a porta de entrada para o mundo das jovens ricas que ainda estão “sob domínio” de Marc Jacobs, Prada, Louis Vuitton e Chanel.

Wang pode levar a marca por esse caminho sem sofrimento. Pode ser que ele surpreenda, colocando a Balenciaga sob uma nova perspectiva, não necessariamente ruim, mas certamente muito diferente. Ou então pode ser uma jogada arriscada que vai custar a alma da marca.

Alexander precisa de tempo e de algumas coleções para mostrar o que pode fazer, apesar de serem inevitáveis comparações e julgamentos logo no primeiro desfile.

No final, tudo se ajeita. Hoje as pessoas levam um susto, mas em seguida se adaptam. Tudo passa.

Veja aqui o último desfile de Nicolas Ghesquière para a Balenciaga e o mais recente desfile de Alexander Wang, em Nova York.