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    Yes, nós queremos moda!
    Yes, nós queremos moda!
    POR Camila Yahn

    Looks da coleção de Alta-Costura 2003 da Dior; na época, os editores falavam nas resenhas que havia sido um dos maiores exercícios de volumes e quantidade de tecidos já vistos na moda ©Reprodução

    Desde que Alexander McQueen morreu e John Galliano foi demitido da Dior e de sua grife homônima, a moda tem trilhado por caminhos estranhos, que causaram mais ecos recentemente, com a saída de Raf Simons e Stefano Pilati da Jil Sander e YSL, respectivamente. Aqui no Brasil, estamos presenciando a substituição de estilistas fortes por coletivos mais fáceis de serem controlados, como aconteceu com grifes como Maria Bonita Extra, Redley e Maria Bonita.

    Podemos dizer que algo similar ocorreu na saída de Carine Roitfeld da “Vogue” francesa, que foi substituída por Emmanuelle Alt. Nem de longe ela tem o espírito endiabrado e ousado de Carine, mas é correta e deve manter as portas mais abertas para os executivos da Condé Nast, que, claro, estão muito preocupados com o faturamento da revista.

    As histórias de fantasia e os universos mágicos, macabros e estranhos aos quais nos convidava McQueen ficaram para trás, apesar da maestria com que Sarah Burton tem continuado seu trabalho.

    Carol Trentini no desfile de Outono 2007 de Alexander McQueen; looks que o estilista fez no Outono 2009 e na Primavera 2004 ©Reprodução

    Uma era de muita liberdade criativa se foi, ao menos por agora. Mas ao que parece, é um momento que veio ficar por um bom tempo, certamente até a economia na Europa sair do risco. Quando a coisa está preta, sobra, de fato, pouco espaço para a beleza e a inventividade. Essa temporada de Inverno 2012, tanto no Brasil quanto fora, não foi uma das melhores ou mais impactantes (com exceções, como o desfile de Rick Owens e Jil Sander, por exemplo).

    Por que é tão difícil achar alguém para substituir Galliano? O mercado atual, com exigências de lucro cada vez maiores, está formando uma geração de guerreiros, ágeis, experientes e prontos para a batalha, mas com pouca capacidade (ou criatividade) para contar uma bela história.

    Muitos desfiles do início dos anos 2000 até hoje não me saem da cabeça. Quase dez anos mais tarde e eu ainda me lembro das cenas e das roupas. E também de ter chorado de emoção ao vê-los. Entre eles, está o de John Galliano Primavera/Verão 2003, em que ele mistura Índia, Holi Fest (festival das Cores, na Índia) e Leigh Bowery de forma brilhante e inesquecível. Na época, Sarah Mower escreveu no Style.com: “John Galliano deu vida a uma apresentação escandalosa de arte performática, um espetáculo que funcionou de forma exuberante diante da finalidade ‘normal’ da moda”. Vale ver o vídeo abaixo e se arrepiar.

    Agora de que adianta comercialmente um desfile como este? Quase nada. Mas ele faz muito para a história da marca e da moda. Como foi publicado no site da “Vogue” britânica, “o desfile pouco fez para vender roupas, mas vendeu a ideia de que Galliano é um gênio criativo. E imagem é tudo neste business”.

    Será que ainda é?

    Em um texto publicado durante a recente temporada de moda (Inverno 2012), Cathy Horyn, editora de moda do “New York Times”, escreveu: “Quando Cristóbal Balenciaga fechou sua grife em 1968 e se aposentou, ele reclamou que teve uma vida de cachorro. Mas ao menos ele era livre para criar o que quisesse e mostrar suas roupas quando e para quem quisesse. Hoje, os mais celebrados designers são contratados de grandes grupos de luxo – Nicolas Ghesquiere, na Balenciaga, do PPR; Marc Jacobs para Louis Vuitton, que pertence ao LVMH, assim como a Céline e a Givenchy”. Hoje, os estilistas trabalham mais do que nunca. Uma marca como a Dior, por exemplo, tem, por ano, duas coleções de prêt-à-porter femininas e masculinas; duas de alta-costura e ainda as de meia-estação. Além disso, têm que vestir o maior número de celebridades no tapete vermelho, fotografar anúncios de perfume, acessórios e roupas, ir para aberturas de lojas de Londres a Tóquio e ainda faturar e faturar. Sempre sorrindo. E o mercado acompanha essa tendência de fazer o máximo de coisas em tempo mínimo.

    Outra mudança importante apontada por Horyn é que, antigamente, as estrelas da moda participavam de decisões desde a escolha dos tecidos e dos fornecedores ao tipo de carpete da boutique. “Hoje em dia os donos designers, como Stella McCartney e Dries van Noten, não se envolvem mais. Há uma separação cada vez maior entre os lados criativo e corporativo e os estilistas se veem forçados a explicar os fundamentos da moda para executivos cujo último trabalho pode ter sido na área de finanças ou de produtos para bebê”.

    Looks de John Galliano para a temporada de Primavera 2003: India + Holi Fest + Leigh Bowery ©Reprodução

    Esse é um ótimo ponto. Mexe na gestão, todo o resto sente. Suzy Menkes explica: “Executivos de moda, que há anos dirigiam empresas e conglomerados, estão sendo substituídos por CEOs de outras áreas, como sorvete ou iogurte. Hoje, o processo de distribuição e abastecimento é cada vez mais importante e deve se tornar cada vez mais ágil para atender uma sociedade global faminta por luxo”.

    Mas nesse mesmo artigo, Menkes defende que a culpa não é apenas dos executivos, que passaram a ver os estilistas como commodities, comprados e dispensados ao deus dará. Os próprios designers tornaram-se vítimas de uma rede que eles ajudaram a criar, contratando advogados para brigar por salários altíssimos e tratamentos especiais, como se fossem estrelas de Hollywood. “Galliano vivia e muitos ainda vivem em um mundo de viagens de primeira classe e motorista na porta. Eles estão acostumados a um lifestyle que os trouxe apartamentos maravilhosos, lotados de obra de arte”.

    No estado atual, parece que ninguém quer dar tempo ao tempo. Enquanto são atraídos pelo trabalho nas maisons, os designers viram vítimas de um sistema cada vez mais opressor e exigente, que pode, por sua vez, palpitar na criação e trocar o estilista quando bem entender. Não parece uma sensação agradável para a equipe criativa. Em um artigo publicado recentemente no “Daily Beast”, Robin Givhan escreve: “Durante o pico do corporativismo da indústria de moda, quando o Grupo Gucci e a LVMH brigavam pelo domínio da indústria, o CEO Bernard Arnault disse que uma das razões de seu sucesso era sua paciência. Ele disse que a maioria dos investidores no mercado do luxo não queria esperar que uma marca crescesse e se desenvolvesse. Eles não entendiam que isso poderia levar uma década ou até mais, para que a grife ache seu caminho. Demorou quase 10 anos para que a Gucci fosse transformada, de uma casa de artigos de couro que mal conseguia pagar seus funcionários a esse monstro bilionário que é hoje”.

    Um grupo que compra uma grife hoje está disposto a esperar uma década para que ela se transforme, se renove ou se estabilize? “As corporações não têm sentimentos e estão interessadas não em linhagem ou tradição, mas apenas em buzz e lucro”, diz Robin, no mesmo texto.

    Looks do desfile precioso que Raf Simons fez em sua despedida da Jil Sander ©ImaxTREE

    O carinho que Raf Simons e Stefano Pilati receberam da plateia ao final de seus últimos desfiles para a Jil Sander e YSL, ilustra esse momento, de substituições repentinas, feitas poucos dias antes das apresentações, de estilistas que vinham desenvolvendo um trabalho conciso, e, no caso de Simons, nada menos que brilhante. Infelizmente, seu brilhantismo parece não ter trazido muitos resultados comerciais e o grupo resolveu trazer a fundadora da marca, a própria Jil Sander, de volta à direção criativa (a estilista vendeu 75% de sua marca para o Grupo Prada em 2000 e foi demitida no mesmo ano. Com fraco desempenho da grife, Patrizio Bertelli, CEO da Prada, a chamou de volta em 2003, mas a relação durou menos que um ano e Sander saiu mais uma vez, em 2004). Os estilistas viraram uma peça pequena em um tabuleiro gigante.

    Galliano, McQueen, Raf Simons, e todos os gênios da moda que ainda estão por vir, de qualquer parte do mundo, a moda precisa sim de vocês.

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