Por Antônio Turnes*, em colaboração para o FFW
Como anunciado no fim do ano passado, aconteceu na última segunda-feira (12.01) o tão esperado retorno do estilista John Galliano às passarelas. Sete dias após o evento que marcou a sua estreia como diretor criativo da Maison Margiela ainda não se fala em outra coisa. Certamente este é o principal assunto da semana e sugiro aqui que a hashtag #MargielaMonday criada para a ocasião seja substituída pela #MargielaWeek.
Depois de ler os artigos e comentários que ainda dominam os sites especializados e as redes sociais glorificando cada detalhe do desfile, ocorreu-me a seguinte questão: as peças apresentadas realmente são extraordinárias ou estamos todos tão felizes com o “come back” de Galliano que, automaticamente, qualquer coisa ali apresentada surtiria o mesmo efeito? Não, não estou duvidando e muito menos colocando à prova o talento de John, mas sinto que estamos tão empolgados com essa volta que a única atitude que conseguimos ter é elogiar. É como pegar um gato no colo e enchê-lo de carinho para ele não ir embora.
Levanto esta questão, pois a maioria dos textos falando sobre a apresentação é uma compilação dos elogios daqueles considerados experts em moda. Então, já que Anna Wintour gostou, Suzy Menkes se emocionou e Kate Moss se arrepiou (inclusive, o melhor comentário do show), quem sou eu para discordar? Outro fato que me chamou atenção foi o que relatam os tais comentários. Se repararmos bem, todos dizem a mesma coisa e acabam não dizendo nada. Entre as principais opiniões, o que encontramos é uma introdução com diversos adjetivos positivos, seguidos de “a silhueta, as formas e as sobreposições são total Galliano, mas o espírito é Martin” e finalizados com “John interpretou a história da maison ao seu modo”. Acho tudo isso meio óbvio, pois é claro que toda aquela teatralidade da Dior precisaria ficar de lado e ele teria que se adaptar aos códigos da nova casa, vestindo por fim o tradicional jaleco branco.
Entre todos os comentários, a opinião de Vanessa Friedman, do “The New York Times”, foi a mais instigante: “a coleção não foi o nascimento de uma nova visão – um daqueles momentos que mudam a direção das roupas, redefinindo a silhueta e o ‘mood’, e que fazem com que as mulheres reconheçam e pensem, ‘assim é como eu quero me vestir a partir de agora’”. Concordo em partes com a opinião de Friedman, gosto da sua aparente imparcialidade em relação a toda a empolgação do evento e discordo sobre o “redefinir a silhueta e o ‘mood’”. Basta uma breve análise do histórico da grife para sabermos que as formas propostas pela maison nunca foram muito convencionais e tão pouco tinham o objetivo de fazer com que todas as mulheres quisessem se vestir sob o olhar de Martin Margiela.
Finalizo este artigo também me perguntando se gostei da coleção apresentada ou se estou me deixando levar pela onda de otimismo. Gosto do trabalho de John Galliano e mais ainda da estética proposta pela Maison Margiela, mas nesta semana o que mais gostei foi ver o fim do “exílio fashion” e a volta do estilista ao mundo da moda.
*Antônio Turnes é formado em Publicidade e Propaganda e cursa pós-graduação em Pesquisa e Comunicação em Moda. Atualmente trabalha como gestor de conteúdo voltado para o mercado de moda. As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente o ponto de vista do FFW.
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