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    Como a Misci se tornou a marca mais influente do Brasil

    Com uma base de fãs e clientes sólida e produtos desejo que já ultrapassaram as fronteiras, a marca de Airon Martin tem se tornado gigante, mesmo sendo pequena.

    Airon Martin e Ivete Sangalo ao final do desfile da Misci na Bienal. foto: Zé Takahashi

    Como a Misci se tornou a marca mais influente do Brasil

    Com uma base de fãs e clientes sólida e produtos desejo que já ultrapassaram as fronteiras, a marca de Airon Martin tem se tornado gigante, mesmo sendo pequena.

    POR Gabriel Fusari

    Você lembra quando foi a última vez que uma marca brasileira gerou frisson? Dos desfiles homéricos da São Paulo Fashion Week, que aconteceram por 15 anos no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera, anos depois o mesmo espaço abrigou o desfile da Misci com a coleção Tendatripa. Reunindo gregos e troianos como espectadores, estavam presentes a nata da moda, como jornalistas, novos designers, artistas e influenciadores, bem como clientes vestindo Misci da cabeça aos pés e fãs da marca com um bolsa e um boné. 

    Quem não conhece a história de Airon Martin, designer mato-grossense de 32 anos que desenvolveu a marca como trabalho de conclusão de curso, pode ficar curioso sobre como ele conseguiu o feito de fazer parecer grande uma marca pequena. “O Airon tem uma visão de marketing e negócio muito boa. Ele sabe fazer articulações, conseguir patrocinadores e montar um negócio.  Ele tem um planejamento financeiro que muitas marcas não tem” conta, Daniela Falcão, ex-diretora da Vogue e mente por trás do Nordestesse que aplaudiu de pé a apresentação da Misci. E ela está certa. O desfile cujo investimento é avaliado em 700 mil reais – isso sem considerar Ivete Sangalo que não cobrou cachê – só foi possível acontecer por conta de várias parcerias que arcaram com parte desses custos, como foi o caso do Showroom Contemporâneo, que cedeu o grandioso vão central da Bienal para o desfile acontecer.

    Malu Borges, Chay Suede, João Guilherme no desfile da Misci. fotos: Gabriel Fusari

    “A tradução de suas raízes brasileiras, que flertam sempre com referências populares, embaladas em produtos bem acabados, de apelo global, é algo que cativa e aproxima a roupa do público”, exemplifica Sylvain Justum, diretor de redação da Forbes Life Fashion, que vê que não apenas a postura da marca é o fator de sedução, mas também a postura do designer.  “Apesar de fazer moda para uma clientela com certo poder aquisitivo, Airon Martin não se fechou em uma bolha elitista e pseudo erudita, como era de praxe em décadas passadas. Ele entende o contexto no qual está inserido, entende o seu tempo, e é muito bom de relacionamento”, pontua.  

    Essa leitura do presente foi fundamental para buscar nas histórias do passado um ponto de vista que contemplasse um caminho para o futuro. Tal visão é inegociável para se manter na indústria: “Mais do que uma marca, Airon criou uma empresa contemporânea: com propósito e cultura. Dois elementos com que não apenas celebridades, mas clientes atentos às mudanças do mundo querem se identificar”, reflete  Bruno Astuto, CCO do Shopping Cidade Jardim, que abriga a segunda butique da marca.

    Desde os primeiros produtos da Misci, onde Airon considerava que era uma marca que tinha “uma camisa de linho e uma história com muita vontade de vencer”, a fascinação com esse olhar fresco que gerava o desejo de pertencer a uma comunidade é o que permanece e mantêm a ligação com o consumidor viva.  Esse relacionamento conquistou não apenas a cliente de moda que quer uma peça cult e sexy, mas também aquele que está muito além das fronteiras da moda. 

    Carlinhos Maia, humorista que hoje reúne mais de 30 milhões em suas redes, vê o universo da moda como o mundo mais frio que existe, mas que com Airon, encontra um lugar que fala com ele e sua origem. “Por mais que eu goste muito de moda, eu não sou fashionista. Então é uma marca que tem a pegada fashion, mas sem ser tão extravagante. O desfile dele começou com Calcinha Preta, tocou no meu lado emocional, aquecendo o coração com essa identidade, sem medo de ousar  misturando o fashion com a raiz nordeste.”, disse o influenciador que se sentou ao lado de Gloria Kalil, Lenny Niemeyer e outros nomes tradicionais da moda. 

    bolsa Bambole, Nine e Moqueca

    Não apenas influenciadores, mas também entidades do pop nacional fazem questão de construir essa história juntos a Airon. Ao fechar o desfile de surpresa, a cantora baiana Ivete Sangalo fez a plateia ir à loucura. E assim como outras celebridades presentes, ela foi pela camaradagem prestigiar o designer do momento. Como pontua Airon, Ivete, que é tia de sua melhor amiga, tem ele como parte de sua família e não poderia deixar de celebrar um projeto em que ela acredita e compartilha dos mesmos valores. Quem também acredita na visão de Airon é Anderson Baumgartner, dono da agência Way. Ele comenta que Airon entrou em contato com ele durante a graduação para que a Way emprestasse modelos para sua apresentação do TCC. “Quando pedi para ver o trabalho, vi que ali já havia um geniozinho e então obviamente ele teve o meu apoio e o apoio da Way desde o comecinho, desde antes mesmo dele estar formado”, recorda. 

    BRAZIL DO BRASIL 

    Falar sobre Brasil não é fácil, já que nosso país intercontinental é espaço de diversas culturas que, quando não unidas, competem entre si. Quando falamos da moda, isso se soma aos desafios tributários e ao interesse – muitas vezes inexistente – do consumidor sobre o que é criado e feito aqui. Mas em uma combinação bem equilibrada, Airon conseguiu mixar a cultura do nordeste e do centro-oeste com a matéria prima do norte e sul, feito pela melhor mão de obra do sudeste. Por conta disso, a forma que admiradores veem a marca, muitas vezes coloca a Misci num lugar de salvador da pátria, em um país onde a maioria das grifes bebem de referências internacionais para pautar suas coleções. Ou seja, colocam-na como a etiqueta que vai representar o Brasil no mercado exterior. Mas quem entende mesmo, sabe que isso é um trabalho de formiguinha e de união. “É Misci, não Messias. Não pode e nem vai carregar essa conta sozinha”, pontua Bruno Astuto. 

    Além dos admiradores, a influência em falar sobre nossa cultura também gera críticos. Nas redes sociais não faltam comentários que  apontam Airon como alguém que infla os discursos se colocando como representante do Brasil, esquecendo de outros designers com o mesmo discurso. Porém isso não é verdade. O próprio estilista reconhece e admira outros criadores que também tem a brasilidade como pauta, por entender que isso é maior que seu trabalho. “Eu acho que esse movimento no qual eu faço parte pode ser muito mais forte se tiver mais marcas fazendo o que eu estou fazendo, que é falar sobre o Brasil.  Eu quero que falem cada vez mais do Brasil. É fato que cada um vai ter sua visão de Brasil. Por aqui, eu falo da minha visão e se existe alguém que não se  identifica com minha visão, tá tudo bem. Existem outras marcas incríveis que eles vão se identificar”, explica o designer. 

    Mas é inegável que sua leitura é sedutora. Tanto que conseguiu conquistar jovens clientes, jornalistas especializados e celebridades locais e internacionais que nunca olharam para cá. É o caso da apresentadora estadunidense Oprah Winfrey, que em sua passagem recente por São Paulo em um passeio no Shopping Cidade Jardim, viu as bolsas da Misci e disse a Bruno Astuto que achou as peças “icônicas” por falar sobre o Brasil de um jeito novo. Resultado?  Ela comprou quatro bolsas, sendo elas a Bambolê (nas cores Marrom e off-white), Eli em couro de pirarucu e Tesão, ambas no tom Whisky.

    A apresentadora Oprah Winfrey com a bolsa Bambole e a cantora Rosalía com o boné Mátria Brasil

    Mesmo chamando a atenção dos gringos, com clientes na Coréia do Sul e peças em revistas internacionais, todo esse crescimento tem sido orgânico. O foco agora é no futuro da empresa, que desde a coleção de novembro tem como foco a venda no atacado. O plano de fazer a Misci crescer cada vez mais fez com que Airon deixasse de lado o projeto de criar uma marca homônima e trazer alguns de seus planos para a etiqueta principal. Junto dos acessórios, o vestido é o hero product e também o ponto de partida criativo para cada nova coleção: o que a mulher quer vestir para se sentir interessante e sexy. “A coleção foi inteira pensada para mulher, inclusive a parte masculina foi pensada para a mulher. Teve muito homem usando o produto feminino nessa coleção e as pessoas nem perceberam”, comenta Airon. 

    O sucesso se vê também pelos números e resultados recentes. A marca triplicou as vendas e tem falado com o cliente que hoje vê o produto antes da narrativa por trás da coleção. A originalidade na assinatura criativa somada ao produto de qualidade com consciência ambiental e o storytelling é o que fascina, e não para por aí.  Enquanto a mulher da capital quer se vestir para ser elegante e culta,  a mulher do interior quer se vestir para ficar sensual e se sentir bonita. Ciente disso, Airon consegue habilmente juntar essas duas personalidades em um arquétipo só, mostrando que a miscianes podem ser o que quiser e ir além. 

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