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    Paulo Borges faz um balanço sobre a SPFW

    Prestes a completar 30 anos de evento, conversamos com o fundador para entender o presente e o futuro da semana de moda.

    Paulo Borges faz um balanço sobre a SPFW

    Prestes a completar 30 anos de evento, conversamos com o fundador para entender o presente e o futuro da semana de moda.

    POR Gabriel Fusari

    Eu sempre acreditei, e continuo acreditando, que se joga o jogo junto, não se joga sozinho. Então, quando todo mundo se reúne, você fortalece o objetivo. No caso da moda, quando todo mundo se reúne, você fortalece a percepção daquilo que existe.”

    Quando circulavam rumores de que o São Paulo Fashion Week voltaria para o Parque do Ibirapuera, muita gente ficou animada. Isso simbolizava a retomada de uma história que Paulo Borges (60), fundador do evento, começou a construir há mais de 30 anos, quando idealizou uma semana de moda que organizasse o calendário de lançamentos do país em meio a um cenário de hiperinflação. Meses se passaram e a notícia foi confirmada trazendo nostalgia para aqueles que viveram a era de ouro da moda nacional. No entanto, muita coisa mudou desde então. 

    Para entender esse novo momento e por que não o futuro da SPFW, conversamos com Paulo Borges no último dia do evento, entre um desfile e outro. Mesmo cansado da maratona de 39 desfiles que começou na segunda-feira (14.10) e só terminou ontem (21.10), ele parecia orgulhoso da 58ª edição do evento que fez uma importante homenagem à editora de moda Regina Guerreiro, outra representante de um tempo glorioso da moda no Brasil. Paulo compartilhou suas percepções sobre as mudanças no mercado e por que a SPFW continua sendo uma engrenagem importante para a criação e renovação da moda, afinal, para ele “uma semana de moda é um catalisador de novos profissionais, de cultura e de criação”. A relevância se comprova, tanto que, durante esta edição, câmeras capturavam cenas e depoimentos para um documentário que não só conta a história do evento, mas também a de seu idealizador: “Paulo Borges – Muito Além da Moda”, que estreia em 2025 no canal E!. 

    Leia a entrevista na íntegra:

    “Você tem que arriscar no novo. A gente arrisca muito e muitas coisas não dão certo, mas muitas dão muito certo. E, a partir disso, vamos fazendo correções de rota. Essa é, pra mim, a grande importância da São Paulo Fashion Week.”

    Paulo: Olá! Eu sou Paulo Borges, fundador e criador da São Paulo Fashion Week, diretor criativo de toda essa bagunça.

    Fusari:  Paulo, qual é o seu balanço dessa edição da São Paulo Fashion Week?

    Paulo: Balanço é uma pergunta difícil, né? Eu ainda estou em balanço, né? Eu fico acompanhando cada detalhe. Primeiro, eu tenho uma sensação quase unânime, que é a volta pro Parque Ibirapuera, porque nasceu aqui. Aí, todo mundo reconhece esse lugar como a casa da São Paulo Fashion Week, então acho que isso é um acerto, sem dúvida nenhuma, né? Um balanço também é um pouco resgatar as grandes exposições que o São Paulo Fashion Week produziu e, nesse momento, contar a história da Regina. Além de ser a história da Regina, tem um propósito, que é falar de memórias, as nossas memórias de moda, pra que essa geração possa conhecer mais detalhadamente ou mais profundamente como que chegamos até aqui. Aí, o ano que vem, temos surpresas pra isso.

    Fusari: Curioso pra ver. Por que uma homenagem à Regina Guerreiro agora? 

    Paulo: Eu acho que uma homenagem às pessoas importantes da moda se faz sempre importante. Alguém sempre tem que tomar essa iniciativa, né? Nesse momento, a Regina, com 84 anos e 60 anos de carreira, vem com um significado muito, muito forte. Talvez mais pra mim do que pras pessoas de uma maneira geral, mas pra muita gente da imprensa tem um significado. Tem um público jovem que é louco por ela e nunca a tinha visto, nunca a tinha conhecido. Alguns jornalistas nunca tinham feito uma entrevista com a Regina. Eu acho que tudo isso é muito importante, mas, pra mim, o mais importante é fazer as pessoas entenderem qual é o movimento que nós estamos fazendo com isso, né? Ao completar trinta anos, eu quero falar que o próximo ano não será o 31°, será um 1° novo ano de um novo caminho. Porque a moda precisa disso. Ela é colocada nesse papel de mudança e a gente tá sentindo ventos nesse sentido. A gente vai percebendo que as coisas estão mudando em todas as áreas, em todos os aspectos. Então, começar a resgatar a Regina, que foi a primeira editora de moda do Brasil, é muito importante. Eu falo que, pra gente chegar até aqui, a Regina teve que construir muito, uma boa parte dessa avenida, dessa rodovia, dessa estrada. Na época, ela fazia isso abrindo no chão de terra, vamos dizer assim, né? Hoje, a gente já tem um asfalto, um concreto. Agora falta esse novo movimento, que é esse realinhamento de uma nova era que tá se construindo.

    Fusari: Você acha que a moda brasileira e o jornalismo de moda precisam de novas Reginas?

    Paulo: O jornalismo de moda, de uma maneira geral, pra mim, ficou um pouco confuso, um pouco disperso, diluído, com muitas frentes de informação, ao ponto de a gente começar a desconfiar se aquilo é verdade ou não, se aquilo aconteceu ou não. Em todas as áreas, né? Na moda, menos, mas isso acontece. Mas o jornalismo de moda, como a Regina fez, como a Erika Palomino fez, é muito importante, porque ele constrói uma análise, uma narrativa. E em um momento de mundo diferente, porque hoje não importa se você gosta ou não, não importa se você acha aquilo cafona ou se você acha aquilo extremamente fashion. O que importa é que você crie uma narrativa e deixe que as pessoas percebam o que tá acontecendo. Mas construir um repertório de informações é extremamente importante, porque senão, o que vale, né? Vale qualquer opinião: “Ai, adorei esse vermelho.” “Ai, adorei essa listra.” Isso é muito vazio. E eu acho que a gente tem que sair desse vazio, que o digital e as redes acabaram contaminando um todo na área de comunicação.

    Fusari: Quais tem sido os desafios de colocar uma semana de moda no Brasil em pé?

    Paulo: As pessoas pensam que é muito fácil colocar uma edição de São Paulo Fashion Week de pé. Eu falo que não, né? A gente tem muitos desafios hoje, nesse momento em que a gente vive no mundo. Eu acho que foi até pré-pandemia, de 2017, 2018 pra cá, que a gente tem muitos desafios: desafios econômicos, desafios sociais. Moda é política também, então tudo isso acaba interferindo. E aí veio a pandemia, que aí sim foi um grande chacoalhão em todo mundo, no sentido de pensamento, no sentido das questões de saúde mental, que todo mundo ficou muito abalado. A gente tá entendendo agora quais são as consequências disso também. E também uma coisa muito boa que eu acho que vem da pandemia é que a pandemia, pra mim, serviu como uma reflexão sobre o meu papel aqui neste mundo, neste momento. Então, teve um refletir solitário, porque todo mundo, em qualquer lugar do planeta, estava com os mesmos perigos. Não importa se era rico, se era pobre, se era branco, se era preto, se era do norte, se era do sul, todo mundo foi captado a uma mesma energia de angústia. Claro que isso é pesado, claro que isso é difícil, mas quem souber, ou quem soube, ou quem souber trabalhar isso, como está nascendo um mundo novo, que pede novas prioridades, novas formas de executar e entender quais são as coisas importantes pra esse século que se forma, vai fazer tudo muito bem. Porque não dá mais pra fazer nada como já foi, né? Mas não é pra você esquecer o que foi feito, é pra você ter isso como uma memória, como um ponto de referência. Memória é história. Isso não tem a ver com saudosismo, isso tem a ver com trajetória, né? Você não pode pensar no futuro se você não tiver uma história pra se basear, uma memória que te mostre as coisas mais importantes que foram vividas, para que você pegue daqui para diante e avance nessa construção de 30 anos.

    Fusari: Há 30 anos quando você criou a SPFW, o propósito do evento era organizar o calendário de moda brasileiro. As décadas passaram, o mundo se transformou, as necessidades viraram outras. Qual o propósito e papel da SPFW hoje?

    Paulo: Eu sempre falo que o papel de uma semana de moda é, talvez, o último reduto de uma narrativa de uma expressão livre, né? Para que possa ser apresentada a ideia que aquele estilista, que aquela marca quer passar, primeiro pra imprensa, hoje pra influenciadores e pros clientes, né? É um lugar onde ele expressa sua mágica, sua magia. Uma semana de moda, além disso, é um catalisador. Quando eu pensei em São Paulo Fashion Week, o ponto é que não tinha regra. As regras foram sendo construídas a partir do coletivo estar em ação, né? Eu sempre acreditei, e continuo acreditando, que se joga o jogo junto, não se joga sozinho. Então, quando todo mundo se reúne, você fortalece o objetivo. No caso da moda, quando todo mundo se reúne, você fortalece a percepção daquilo que existe. No jornalismo, quando você reúne todo mundo, você cria um mercado que se profissionaliza. Foi com a São Paulo Fashion Week que grandes modelos surgiram, grandes maquiadores, grandes editores, profissões que não estavam organizadas ou nem existiam no Brasil. Eu acho que o papel da São Paulo Fashion Week é mais amplo do que ser apenas uma semana de moda, o que, por si só, já não é pouco. Ele é um ambiente que, para o Brasil, traz novos movimentos. Você tem que arriscar no novo. A gente arrisca muito e muitas coisas não dão certo, mas muitas dão muito certo. E, a partir disso, vamos fazendo correções de rota. Essa é, pra mim, a grande importância da São Paulo Fashion Week.

    Fusari: Atualmente cada marca mostra coleções que não necessariamente estão alinhadas com uma determinada estação (Inverno ou verão). Isso parece atual vide como o clima está (hoje, 20 de outubro está fazendo 20 graus) mas quando falamos da cadeia de produção e da informação para o consumidor final isso tudo fica muito confuso de comunicar. Não voltaremos a ter edições alinhadas as estações como anteriormente?  

    Paulo: Olha, essa pergunta, né? Eu me faço o tempo todo, e também faço pras pessoas do mercado. O mercado brasileiro, além de ser jovem, o Brasil é um país jovem, um país ainda em construção, em desenvolvimento. Na formação de uma cultura de moda, é importante entender que o São Paulo Fashion Week, quando começou pra jornalistas e compradores, a gente vivia no mundo analógico, inclusive. Já existia uma data de mercado, e já existia, desde a nossa história, uma data de mercado diferente do resto do planeta. O São Paulo Fashion Week acompanhava a data das marcas brasileiras, né? Nós, como mercado, até os anos 90, trabalhávamos sob a pressão da hiperinflação. E o que que isso causava pra indústria de moda? Um desastre. Porque você não conseguia planejar uma coleção, não conseguia desenvolver um tecido. Planejamento leva meses; desenvolvimento pode levar um ano. Até virarmos de 80 pra 90, quando teve uma mudança política no país, quando voltamos a ter um país democrático, foi a redemocratização do Brasil, a estabilidade da moeda, porque tudo isso…

    As pessoas que hoje têm 25, 30 anos nem têm noção do que era, né? Era impossível você ter uma indústria montada para uma semana de moda como a de Paris, como a de Milão, como a de Londres. A de Nova York surgiu um pouco antes do São Paulo Fashion Week. Você tinha que organizar isso tudo. A primeira organização foi baseada na estrutura que já existia. Então, o Brasil fazia uma coleção, apresentava, mas ela já estava sendo produzida, porque não dava tempo de você esperar o comprador comprar, pra que você pudesse produzir e vender. Esse mecanismo ainda existe na Europa, na Ásia e em todo o mundo, mas já tem uma diferença, porque antes você lançava duas coleções por ano. Hoje, você lança dez. Ou seja, mesmo com um mercado muito organizado, é necessário que você lance coleções menores, pra que o tempo não desgaste essa imagem, e que no meio do caminho alguma coisa importante seja acrescentada naquela coleção. 

    Bom, no Brasil, também estamos fazendo isso, lançando coleções menores, com várias cápsulas de coleção durante todo o ano. O que muda pra nós é economia, né? A economia de investimento do mercado de moda precisa ser mudada. Essa política da moda precisa mudar, pra que todas as marcas, todo esse ecossistema da moda, possam se beneficiar de todas as políticas que desenvolveram no Brasil: o agronegócio, a comunicação, a telecomunicação, a indústria do transporte, a indústria automobilística. Todas essas áreas ganharam planos de governo para que houvesse um fomento, uma política de longo prazo, como a China fez, como a Coreia fez. Quando eu era menininho, ganhar um presente chinês era aquela quinquilharia, né? Hoje eu tenho 60, e há uns 20 anos, todo mundo já sabe que a China não é mais quinquilharia, a Coreia não é mais algo que se copia. Além de ter criação, tem tecnologia, tem inovação, tem pesquisa. Eu acho que isso tudo nunca foi trazido pro Brasil como uma política de Estado, né, pra um setor que é, ainda hoje, um dos três maiores da economia brasileira. Então, isso afeta o andar da carruagem Brasil versus o mundo. 

    E tem um outro ponto muito importante, porque também o Brasil nunca soube criar marca. O Brasil sempre defendeu a política do produto. O Brasil é sempre um grande produtor, um dos maiores produtores de algodão. Já foi o maior produtor de café, hoje é o maior produtor de frango, é o maior produtor disso, daquilo, que são commodities. Ou seja, é um país que não pensa na marca, não pensa no produto, não pensa numa tecnologia. A gente tem dezenas de desenvolvimentos de tecnologia têxtil no Brasil, vindos de várias áreas do Norte e Nordeste, e que estão sendo patenteados pela Itália, patenteados pela França. Aí, de novo, a gente vai comprar aquilo que a gente tem aqui, e que não vai virar mais um produto, vai virar uma matéria-prima. 

    O Brasil precisa sair desse lugar de matéria-prima e ocupar o seu lugar de criação, seu lugar de ecossistema produtivo e criativo. Isso dificulta a nossa moda a entrar num processo mais sólido, do ponto de vista desse ciclo da moda, que é desenvolver, pensar, criar, ter uma coleção, apresentar, vender e entregar. Esse é o ciclo normal. A gente chegou muito próximo dele, né? 

    Quando a gente começou a mudar as datas da São Paulo Fashion Week, foi porque o mercado queria experimentar. Vamos nos afastar agora do consumidor final e vamos nos focar na pessoa que compra para o atacado, para a distribuição. Não. Agora surgiu o “see now, buy now”. Tem que correr, correr, correr, fazer tudo rápido. Foi um flop. Não acontece. Aliás, eu acho que não acontece no mundo inteiro de forma efetiva, como um sistema de mercado. 

    Agora a gente tá buscando de novo. Eu acho que isso tem um movimento também de um slow fashion, não no sentido da imagem de moda, mas dos processos. Chegou num tamanho de velocidade e de estresse que gerou uma grande angústia pras pessoas que trabalham no segmento, que trabalham na área criativa. A gente vê histórias, esses documentários que estão disponíveis, de grandes nomes da moda mundial e como essa angústia, esse burnout, afetou todo mundo. Eu acho que, aos poucos, o mercado também tá procurando fórmulas de desacelerar, de observar. E ainda é um momento difícil, porque a gente ainda olha pra uma imagem e acha daquela imagem o que a gente quer achar, e aquilo começa a virar verdade. Então, acho que a gente se desequilibrou e tem que voltar pra um equilíbrio de ação e reação, de visão e de interesse, de perguntas e de respostas. A gente busca isso, né? E ao buscar isso, você vai corrigindo, você vai acertando, você vai errando. Mas uma coisa importante, como característica, é que a São Paulo Fashion Week sempre serviu de plataforma de lançamento de nomes, nomes que ou eram pouco conhecidos, ou eram nada conhecidos, ou eram conhecidos e se transformaram dentro da plataforma como um todo. Eu acho que esse papel não se perderá nunca. Não pode se perder, né? E a gente também não pode parar no tempo. A gente tem que andar, andar, andar, e ir arrumando, mexendo, trocando junto.

    Fusari: O que a moda brasileira precisa agora para que a próxima década seja frutífera?

    Paulo: As perguntas sobre o futuro, né, a bola de cristal… Eu tenho sentido, já tem uns dois anos, que a gente regrediu. A gente regrediu lá para o início dos anos 90. Aí eu faço um paralelo com situações da sociedade. A gente tá vivendo de novo uma polarização política, que interfere completamente na vida das pessoas, e a gente viveu isso lá pra final de 80, início dos anos 90. A gente vive de novo uma instabilidade muito suscetível de mercado, de economia, e isso deixa todo mundo muito mais apreensivo. O mercado, aquele tal mercado que não gostou da cor da tua roupa, as tuas ações despencaram. Gostou de uma frase que você disse, as suas ações subiram. Isso não tinha ainda nos anos 90. Eu acho que isso é o mesmo modelo de tentar achar soluções de curto prazo pra vida de uma sociedade como um todo. Ou seja, é um grupo de elite econômica que ainda continua num poder muito pequeno, definindo o que uma população inteira precisa fazer, quando, na verdade, devia se pensar num outro modelo de economia, pra que todas as pessoas pudessem participar, pra que se digitalizassem os centros econômicos, os centros de gestão de poder, de informação. Então, acho que a gente tá vivendo uma coisa muito parecida com isso. 

    E, pra mim, o que resume é que nós não fazíamos nenhuma semana de moda. Quando eu falava de fazer uma semana de moda, eu ouvia de todas as pessoas: “Impossível. Estilista A não vai desfilar com Estilista B.” A imprensa… Isso tudo era impossível, improvável, e aconteceu. E começou acontecendo num impulso, pra que as pessoas pudessem fazer junto. Então, o São Paulo Fashion Week foi construído por todo ecossistema: pelas marcas, pelas modelos, pelas agências, pelos maquiadores, pelo jornalismo. Todo mundo foi ajudando a construir. Por isso que as modelos brasileiras com carreiras internacionais adoram vir pro Brasil, porque elas sabem que construíram essa história de moda, né? Todos construíram essa história de moda. Até a questão da educação: eram duas ou três faculdades de moda nos anos 90, início dos anos 90. Hoje, são pra mais de 200. Ou seja, você tem muito mais gente procurando saber e usando a linha acadêmica como uma porta de entrada pra esse sistema de moda, o que é muito bom. O que é muito ruim é que a educação, de uma maneira geral, ficou muito ruim, né? Não tô falando de escolas de moda, tô falando da educação. A educação virou comércio. Então, você tem muito mais responsabilidade com a conta que aquela pessoa tá trazendo como rendimento pra uma entidade escolar, do que com o ofício mesmo profundo do educar. Eu acho que a gente tá com uma crise de educação. Eu tenho um filho de 19 anos. Eu tô falando desta geração que está aqui, e a grande maioria não gosta de ler, acha que pode se resolver uma pesquisa em quatro, cinco cliques dentro de uma das redes da internet, e aquilo ali passa a ser uma verdade. O que não é verdade. Isso é uma loucura, porque é um viés, é um pedaço, é o algoritmo tentando dizer pra você o que é verdade ou o que é mentira, o que você gosta ou o que você não gosta. Então, acho que, somado à geração nova que tá no mercado, há a necessidade de reeducar todo mundo, né? Essa também é uma das funções da exposição da Regina: mostrar o que foi feito até aqui, pra que essa geração de 20 anos busque essas referências, que busque numa maneira de se informar sobre tudo que já foi feito, pra que hoje todo mundo pudesse estar aqui, no momento em que está, e entender que tem muito a ser feito ainda.

    Fusari: E o que você vislumbra para os próximos anos da SPFW?

    Paulo: Eu acho que o futuro eu tô construindo hoje. Essa semana eu construí o futuro, no sentido de recolocar, redirecionar a bússola, colocar as coisas onde elas já fizeram muito sentido e muita importância na história desses quase 30 anos. E eu sinto a necessidade, até conversando com todo mundo — e eu, quando falo todo mundo, não falo só de estilista, não falo só das pessoas próximas —, mas de uma maneira geral, todo mundo quer ver algo que tenha sentido, algo que faça sentido do começo ao fim. Então, só a narrativa não vai importar. A gente vem de um momento de narrativas, né, que é também muito importante. Mas eu acho que, no ambiente de moda, a narrativa ela é quase antagonista do protagonismo, que é a moda, que é o produto. Não importa o que você diga, o produto tem que ser bom, né? Tem que se apresentar de uma maneira digna, pra que você possa dizer o que você quer, e as pessoas vão querer dizer que aquilo é o que você disse ou não, ou vão achar que aquilo é uma outra coisa, mas a partir daquilo que é apresentado enquanto produto, e não só enquanto discurso.

    Final: Muito obrigado a todos vocês que acompanham o FFW. Eu tenho um carinho muito especial por toda a história, e eu quero que vocês acompanhem mais vídeos como esses, porque o FFW tem se dedicado muito a demonstrar com mais profundidade, inclusive, tudo isso que acontece na moda.

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