“As leggings são o novo denim.” Essa afirmação, feita pelo CEO da Nike Mark Parker em outubro passado, diz muito sobre uma tendência de comportamento global que vem conquistando cada vez mais adeptos: o boom esportivo, com suas musas fitness, a proliferação de fotos de sucos verdes no Instagram, os alimentos funcionais, os aplicativos de exercícios e a ocupação de espaços públicos nas grandes cidades para a prática de atividades físicas, entre outros fenômenos que vêm transformando a paisagem social.
Segundo a pesquisadora de tendências Carol Althaller, esse comportamento passa por um movimento global chamado “well-being” – ou bem-estar, em inglês. Ele envolve uma ressignificação da vida a partir de crenças, de fazer o que se gosta, de estar saudável com o corpo e mente sãos. “As pessoas não contam mais as calorias, nem se exercitam porque querem o corpo perfeito. Elas querem cada vez mais se sentir bem consigo mesmas e ter saúde, que hoje significa prevenir doenças”, explicou durante uma apresentação para imprensa e formadores de opinião na loja da Nike, em Ipanema, nessa terça-feira (03.02).
E como a moda interpreta o espírito do nosso tempo, é natural que ela não demorasse a traduzir e incorporar esse lifestyle. Os principais marcos do caso de amor entre esporte e moda, de acordo com Carol, são a febre dos sneakers de salto de Isabel Marant lançados em 2011, a street style mania e a tendência normcore, que busca resgatar os básicos do guarda-roupa, priorizando o que é bonito e confortável sobre a “montação”. Em paralelo a isso tudo, começaram a surgir as colaborações entre estilistas e marcas esportivas – pense em Stella McCartney para Adidas e Pedro Lourenço para Nike -, campanhas de moda estreladas por atletas, além de grifes e redes de fast fashion investindo alto no segmento – a coleção de Alexander Wang para a H&M é um dos exemplos mais emblemáticos.
Se as grifes de moda estão de olho no mercado de activewear, a expert no assunto Nike também quer potencializar a porção fashion que lhe cabe para cativar a clientela feminina, sua atual menina dos olhos. Segundo o “The New York Times“, as mulheres foram responsáveis por movimentar US$ 5 bilhões apenas no ano passado – montante que representa menos de um terço do que foi girado pelos homens, mas que vem crescendo a passos largos nos últimos anos. A expectativa da empresa é que o valor pule para US$ 7 bilhões nos próximos três anos.
Para atingir a meta corajosa, no entanto, a Nike precisa lidar com uma concorrência cada vez mais acirrada, afinal todos querem uma fatia desse mercado em ascensão. Uma das marcas que mais tem chamado atenção nesse segmento é a americana Under Armour. Com altos investimentos em campanhas – sua atual garota-propaganda é ninguém menos que Gisele Bündchen – e na aquisição dos apps fitness Myfitnesspal e Endomondo em uma transação de US$ 560 milhões, ela representa hoje a maior ameaça ao império construído pela Nike.
Mas a gigante do activewear não se deixa intimidar e guarda suas próprias cartas na manga. Depois da coleção assinada por Pedro Lourenço, que chegou às lojas em novembro com campanha estrelada pela top Karlie Kloss, a Nike lança uma nova colaboração, desta vez com a estilista alemã Johanna Schneider. As peças inspiradas no corpo humano e em suas formas desembarcam no Brasil em março.
Além disso, a marca passou a dividir suas coleções femininas em corrida, treino e casual, com o objetivo de atender a mulher em diversas situações, dentro e fora das academias, com produtos que unem tecnologia e informação de moda. Outra novidade é o aplicativo Nike+ Training Club (N+TC), que ganhou versão brasileira em novembro para iOS e Android. O app é gratuito e apresenta mais de 100 rotinas de exercícios criadas por atletas para ajudar mulheres de todo o mundo a se conectar com a comunidade fitness via redes sociais e atingir suas metas pessoais.
Mas, antes de pensar em trocar seus jeans por leggings, uma reflexão: será que a tendência esportiva veio mesmo para ficar ou logo desaparecerá do radar fashion? O stylist Felipe Veloso, que também marcou presença no evento da última terça em Ipanema, acredita que ela vai permanecer, pois não se trata apenas das roupas, mas de todo um lifestyle novo. Na dúvida, dê espaço no guarda-roupa para tênis, leggings e moletons sem, no entanto, abrir mão do bom e velho denim. Só mesmo o tempo poderá dizer se está nascendo, de fato, um novo clássico da moda.