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    Entrevista
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    POR Camila Yahn

    José Neves, fundador da Farfetch ©Divulgação

    Nem sempre visão e empreendedorismo andam juntos. No caso do português José Neves, 38, um não vive sem o outro. Neves é a cabeça por trás do Farfetch, segundo maior site de e-commerce do mundo (atrás apenas do Net-a-Porter), que acaba de receber um investimento de US$ 20 milhões da Condé Nast International que será usado para expandir sua operação no Japão e na China, começando por Hong Kong. A Farfetch hoje tem cinco escritórios (Londres, Lisboa, Los Angeles, Nova York e São Paulo) e 250 pessoas contratadas.

    Somando mais de mil pontos de venda no mundo, fechou US$ 130 milhões de venda em 2012. José agora prepara-se para o verdadeiro boom do e-commerce. “Há dois anos essa atividade era a 26ª categoria na indústria da moda. Hoje estamos em 3º e em dois anos chegaremos a 1º”, diz.

    Estudante de economia, com gosto por programação de computador, ele fundou a empresa de software Grey Matter, que atendia demandas da indústria da moda. Inspirado pelo boom do setor de calçados em Portugal, em 1996, ele abriu sua própria marca, a Swear, com base em Londres, onde vive até hoje.

    Em 2006 abriu a multimarcas B Store e em seguida criou a Six, empresa e showroom de calçados que agrega licenciamentos de marcas como Opening Ceremony e Surface to Air.

    A Farfetch, lançada em 2008, reúne tudo o que José obteve de experiência com internet, marcas, da produção à venda, e curadoria, uma das palavras que definem os tempos de hoje. O que ele fez foi agregar as empresas que faziam parte do seu showroom, mas não tinham e-commerce ou enfrentavam dificuldades em crescer e ampliar seu alcance. Dois anos mais tarde, a empresa recebe US$ 4,5 milhões da Advent Ventures, um grupo de investimento europeu. Com esse dinheiro, expandiu sua operação para o Brasil.

    O FFW esteve com José Neves em sua última visita ao país, na ocasião do The Founders Forum, evento para empresários e CEOs de mídia e tecnologia que aconteceu no Rio de Janeiro.

    Como surgiu a ideia de criar o e-commerce?

    Eu já trabalhava com moda. Tinha um showroom multimarcas em Londres, participava das semanas de moda e vendia mais de 500 marcas. Já conhecia bem o mercado. Antes ainda, com 19 anos, montei uma empresa de desenvolvimento de software para a moda. No final, os dois interesses se complementaram. Em 2007 tive a ideia e levou um ano para implementar.

    O consumidor brasileiro já aderiu totalmente às compras online?

    O Brasil é o número dois no Facebook e no Twitter. No caso da Farfetch, é o único país em que o Facebook funciona de verdade e vende. Mesmo assim, o público brasileiro ainda não aderiu às compras online. Apenas 2% das transações no país são online. Fora do Brasil esse número aumenta para 15%. O Brasil representa 9% do nosso faturamento global.

    Estados Unidos em primeiro?

    Sim, com 25% do faturamento.

    Como é o mercado do e-commerce durante uma crise?

    É uma questão comportamental. Nossos investidores não estão preocupados com a macroeconomia. Isso preocupa mercados maduros, como supermercados, por exemplo. Nós ainda estamos em crescimento. E em 2012 tivemos um crescimento de 145% e devemos crescer 120% este ano, segundo nossa previsão.

    Quem são seus principais concorrentes?

    Nós somos o número 2 no ranking, após o Net-a-Porter.

    Quais os diferenciais da Farfetch na experiência de compra online?

    Trabalhamos com dois movimentos: o lento e o ágil. Há a parte de descobertas e de imersão no mundo Farfetch sem abandonar a necessidade de praticidade e rapidez. O Net sempre se viu como uma revista online de moda que também vende. Nós somos o curador do curador, fazemos um cool hunting e juntamos na mesma plataforma. A Farfetch também atinge muitos públicos, de uma cliente super chique a alguém bem jovem. O Net tem uma linha editorial e nós temos muitas. Somos um agregador e temos centenas de curadores e compradores. Mas acho que há espaço para todos os pontos de vista.

    Que ferramentas um e-commerce pode desenvolver para tornar a experiência de compra ainda mais real?

    Essa pergunta é o Santo Graal do e-commerce. Há o espelho mágico, aplicativos do iPhone em que as pessoas fotografam o próprio corpo… Há muitas tentativas, mas nada pegou de fato e muitas não funcionam da forma que precisam. Se o estilista muda o corte da roupa, a modelagem, muda tudo. As ferramentas teriam que se adaptar imediatamente. Mesmo com os sapatos, as fôrmas mudam de marca para marca. Sou cético em relação a essas ferramentas.

    E qual é hoje a melhor solução disponível?

    A mais fácil e gratuita é a devolução no cartão de crédito em até 14 dias ou a troca. E oferecer um serviço cada vez mais personalizado e direto.

    Vocês têm planos para criar uma ferramenta mobile?

    Temos dois projetos, para iPad e iPhone, que serão uma extensão da experiência online. Vamos criar um World Style Guide com as melhores lojas de Paris, por exemplo. A pessoa pode ver os produtos na nossa ferramenta e reserva-los ou fazer a reserva de hotéis, restaurantes. É um serviço com uma curadoria local.

    Os homens já se renderam ao e-commerce ou ainda há resistência?

    20% das vendas da Farfetch são do mercado masculino. A proporção oferta/demanda está equilibrada. Há uma resistência, mas depois de comprar uma vez, ele fideliza. Dos nossos quatro maiores clientes, dois são homens e têm uma frequência quase diária.

    Aplicativos como o Pose, por exemplo, permite que você compre a roupa direto da foto e o Pinterest também deve criar uma ferramenta com fim comercial. Como você percebe essas inciativas?

    Vejo como grandes parceiros. Precisamos mais de sites como esses. 35% da venda da Farfetch vem de canais como Instagram e Polyvore. Chamamos esses sites de afiliados. São onde nossos consumidores se encontram. O Google Shopping agora nos cobra por clique. E isso é bom porque obriga a uma organização. Agora que é pago, terá um filtro natural.

    E qual é o futuro do e-commerce?

    É ser multicanal. Cada vez mais as lojas são showroom que as pessoas vão e experimentam para depois comprar online. As pessoas veem os eletrodomésticos nas lojas físicas, mas compram online. No Brasil, temos 20 parceiros com lojas nos Jardins, em São Paulo. Em vez de entregar as compras na casa da cliente, entregamos direto em uma das lojas parceiras, como a Cartel, por exemplo. E as escolhas do cliente são complementadas com peças da loja. Ele experimenta lá mesmo, vê se está contente e leva o que quiser. Vamos lançar esse esquema no Brasil até o final de 2013.

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