Uma das máquinas da tecelagem Santaconstancia, uma das maiores produtoras de tecidos do país ©Juliana Knobel/FFW
Enquanto a alcunha “Brasil, o país do futuro”, criada por Stefan Zweig em 1941, tem mais cabimento do que nunca, a indústria têxtil nacional parece não estar em sintonia com o bom momento econômico pelo qual passam outras áreas. De acordo com uma reportagem publicada no “Financial Times“, o Brasil é um país difícil para investir em produção interna. Apesar de herdeiro de uma grande tradição têxtil – hoje é o quinto maior produtor de tecidos no mundo -, o custo Brasil, expressão usada para englobar o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no país, torna cada vez mais difícil (e mais caro) competir com os padrões de produção de países como a China, por exemplo.
Para lojas maiores, como a C&A e a Renner, com uma demanda que se encaixa nas exigências da produção asiática, compensa produzir em países como a China. Para nomes menores, de produção mais limitada, como o designer Pedro Lourenço, a produção nacional possibilita um controle de qualidade mais rigoroso, mas muito mais caro. No Manifesto feito à presidenta Dilma durante a última edição do SPFW, uma das queixas dos designers era precisamente a falta de atenção e de incentivo governamental que a indústria têxtil recebe. “A gente quer que evoluir com a criação, mas a matéria-prima não evolui. No segmento masculino, por exemplo, é quase impossível; ou você compra tecido italiano ou não tem tecido para fazer roupa”, disse João Pimenta ao FFW durante o manifesto.
Desfile de Verão 2013 de Pedro Lourenço em Paris ©ImaxTREE
Os preços de produção nacional disparam, ao mesmo tempo que fica mais fácil e barato importar matéria prima e oferecer ao consumidor um preço mais acessível. Com a entrada das marcas importadas, a preços que competem diretamente com as marcas nacionais, está mais do que na hora de chamar a atenção do país para esse problema. Foi com esse objetivo que a ABIT- Associação Brasileira da Indústria Têxtil- instalou um “Importômetro” que mede o tamanho da carga tributária brasileira. A ferramenta consiste em um painel eletrônico instalado à porta da associação, que estima, em tempo real, quantos dólares o Brasil gasta com a importação de produtos têxteis e quantos empregos deixam de ser criados no mercado doméstico por conta da importação. FFW esteve lá e os números mudam rapidamente e de forma impressionante.
O “Importômetro” na porta da ABIT ©Reprodução
“Com o ‘Importômetro’, vamos levar para o governo o problema das importações”, afirmou o presidente da ABIT, Aguinaldo Diniz Filho, à revista “Exame” no início do ano, quando foi lançada a campanha “Moda Brasileira: eu uso, eu assino”, com o objetivo de reunir um milhão de assinaturas para mudar o regime de tributação da indústria têxtil brasileira (até o fechamento desta matéria, a marca não havia sido atingida). “O volume de importações aumentou 17 vezes desde 2003”, acrescenta ao mesmo veículo. Para a ABIT, o objetivo final é chamar a atenção do governo para o dano causado à indústria nacional pela invasão de importados proporcionando condições favoráveis à produção nacional para que os preços finais reduzam e possam competir diretamente com os preços praticados por marcas que se baseiam em produção asiática. “Temos todos que repensar o custo Brasil, o preço da mão de obra, dos tecidos, dos impostos e das despesas fixas de uma indústria. Temos que ser razoáveis também nos preços. Uma roupa de um bom design, com uma boa qualidade é o que todo mundo sonha e é o que o consumidor mais espera”, diz Reinaldo Lourenço ao FFW.
Agora que o mercado internacional também olha para o Brasil para apontar problemas, será que a indústria têxtil nacional vai ver um arranque definitivo?