Ateliê da [sept.is] em São Paulo ©Ricardo Toscani
Nesta edição de Jovens Empreendedores, apresentamos Daniela Cury, 32, designer de sapatos e fundadora da [sept.is]. A marca de calçados existe há três anos e começou com quatro modelos, criados para preencher as lacunas que a designer identificou no mercado: sapatos bonitos, confortáveis e a um preço bom.
Hoje a [sept.is] tem 25 modelos, desde sapatilhas a sandálias de salto, e nenhum deles sai de linha. O preço varia entre R$ 290 e R$ 800 e você pode encontrá-los no ateliê da designer ou na loja Choix, ambos em São Paulo. “O sapato é o melhor amigo da mulher. Você engorda, emagrece e ele continua lá”, diz sorrindo. Todos os modelos são feitos à mão e testados por ela, que mesmo com salto alto, chega a passar 15 horas andando pela cidade. “Se não machuca o meu pé, não vai machucar o de ninguém”, diz.
Daniela cria também para outras marcas (vimos criações suas no Inverno 2013 da Têca) e recentemente desenhou uma coleção para a Eva, marca feminina da Reserva. Leia abaixo a entrevista com a designer:
Alguns modelos de sapatilhas da marca ©Ricardo Toscani
Como surgiu a sua paixão por sapatos?
Trabalhava com moda e design e resolvi passar um ano fora. Acabei trabalhando com uma stylist em Nova York, depois fui para Berlim, onde conheci uma americana que tinha uma marca de sapatos. Eu ficava fascinada! Desde cedo que sou louca por sapato, mais do que roupa, mais do que qualquer outra coisa. Inclusive comprava alguns maiores ou menores do que o que eu calço só para ter, porque gostava muito do formato ou da cor. Quando ela me sugeriu fazer a minha marca achei estranho, nunca tinha pensado nisso.
E como surgiu a [sept.is]?
Ia começar em Berlim mesmo, mas quando voltei para São Paulo, há uns três anos, percebi que as coisas estavam meio em ebulição e decidi ficar aqui. Quando comecei a pensar nisso a sério, a [sept.is] não ia ser uma marca só de sapato, ia ser o meu espaço de experimentações. Mas não tinha um plano de negócios, um objetivo ou um projeto de dez anos, aliás, nunca tive nada disso. Fiz quatro modelos que sentia falta, que não encontrava no mercado, o meu pé é muito sensível e queria um modelo super confortável que não fosse me machucar. Vi um buraco no mercado. Ou você tinha sapato sintético, de fast fashion, barato, ou tinha um muito caro, quase impossível de comprar. E ainda tinha outro gap: ou o sapato é confortável ou é bonito. E eu perguntava “cadê o meio termo?”.
Os primeiros modelos criados por Dani Cury ©Ricardo Toscani
E como tem a certeza que eles são confortáveis?
Testo todos. Se não machucar o meu pé, não vai machucar pé nenhum! (risos) Faço testes extremos, de passar 15 horas com cada modelo calçado, andando para cima e para baixo.
Você já conhecia esse mercado?
Eu tinha o amor pelo sapato, nunca fiz nenhum curso e nunca aprendi nada técnico. Aprendi muito com os fornecedores. E briguei muito com eles também! (risos) Os meus sapatos são todos forrados com uma espuma para ficarem mais confortáveis e muitos fornecedores falavam que não era possível.
O início não deve ter sido fácil…
Fui aprendendo aos poucos. Sempre trabalhei para outras pessoas, então era muito mais fácil, era só desenhar e ter gosto. Mas administrar uma empresa não é fácil. Meti os pés pelas mãos várias vezes, mas fui atrás de informação, perguntei muita coisa, liguei para quem achava que podia me ajudar, devo ter errado bastante e vou continuar a errar. Procurei o Sebrae porque acho que eles dão muito apoio a empreendedores e fiz um curso lá.
Como o negócio começou a andar?
Comecei com um fornecedor que está comigo até hoje. Gosto muito quando o trabalho é artesanal, é uma coisa que valorizo muito. Quanto mais próximo de mim o fornecedor, melhor. Tem que ser brasileiro e tem que ser manual – tudo o que é artesanal eu gosto. Às vezes as pessoas comparam e vêem que um é diferente do outro, mas trabalho artesanal é assim. Pessoalmente acho isso mais atraente do que uma produção industrial. Tinha vários pontos de venda, mas estavam dando prejuízo, então optei por ter só dois, o meu ateliê e a multimarcas Choix.
Alguns dos modelos no ateliê em São Paulo ©Ricardo Toscani
E de onde surgiu o nome? O que ele significa?
O nome vem do logo. Antes de saber o que ia fazer desenhei esse logo em um papel e encanei que ia fazer alguma coisa com isso. Virou o meu símbolo para tudo. Quando fiz o site e tive que registra-lo, o que eu tinha era isso, um desenho, não tinha um nome. Fui pensando em cima do logo e cheguei em sept is porque o que se via na imagem eram sete tracinhos – sept é sete em francês e is é dos tracinhos – o logo são sete “is”. É entre colchetes e em itálico porque é assim que aparecem as definições no dicionário.
Logo da [sept.is] criado por Daniela Cury ©Reprodução
Os designs dos seus sapatos são todos muito simples e bonitos ao mesmo tempo.
Não gosto de nada muito enfeitado, que acho que acaba ficando a mais. Gosto de forma e função, coisas que complementam o corpo da mulher. Penso nos recortes dos sapatos para deixar a perna mais comprida e cada recorte é pensado milimetricamente. Me inspiro em quase tudo. Gosto de andar pela cidade e senti-la. Adoro arquitetura, sou louca por referência, pesquiso muito, faço Tumblr e Pinterest e sou maníaca por imagem. E gosto de imagem antiga, o meu gosto é muito dos anos 1930/40/50.
A designer Daniela Cury no ateliê da marca ©Ricardo Toscani
Qual foi o investimento inicial na marca?
Não investi muito porque comecei bem pequenininha, mas foi mais ou menos uns R$ 100 mil. Fiz esses quatro modelos com 18 pares de cada. Tinha mais um investimento no aluguel do espaço do que no produto. Tudo o que ganho com a marca, invisto na marca.
Algumas artistas, como Mariana Ximenes, por exemplo, já usam [sept.is]. É importante ter celebridades usando a marca?
Também, mas não só. Dei-me conta quando as pessoas começaram a reconhecer na rua. Apesar de o meu design ser simples, as pessoas reconhecem. Várias amigas contavam que estavam andando e viram um sapato meu, por exemplo. E eu não tinha noção disso. Faço as coisas com amor, carinho e cuidado e fico muito feliz quando as pessoas sentem o mesmo pela minha marca.