A pesquisa de tendências é conhecidamente muito usada por indústrias como a da moda e beleza, que buscam antecipar aos seus clientes nossos desejos e costumes futuros. Hoje, elas estão muito mais elaboradas, feitas de maneiras bem mais segmentadas e customizadas.
Um dos escritórios especializados que vêm se destacando no Brasil é o Peclers Paris, fundado na França pela então consultora Dominique Peclers na década de 1970. Seu desejo era democratizar a informação de estilo, especialmente em Paris, um lugar com uma cultura de luxo muito forte. Dominique conseguiu isso primeiramente com os cadernos de tendências, que até hoje são criados e vendidos pelo bureau. “A Peclers é o que a gente chama de Agência de Pesquisa de Tendências boutique. Ela é um pouco menor e nossas equipes são multidisciplinares. Somos uma multinacional, mas em um molde muito moderno”, conta Gaia Prado, que cuida da filial brasileira ao lado da diretora Iza Dezon. “Somos duas pessoas basicamente fazendo o trabalho de uma empresa inteira. Apesar de sermos uma multinacional, temos essa agilidade de startup”.
Isa é a responsável pelo crescimento da Peclers no Brasil. Formada pelo Istituto Marangoni com mestrado em gestão de marcas de luxo no Institut Français de la Mode, ela trabalhou em marcas como Prada e Moncler. Entrou na Peclers em Paris em 2011 e voltou ao Brasil com a missão de solidificar a presença da agência por aqui, não apenas oferecendo o rico material de tendências globais que é produzido na base francesa, mas também olhando para o Brasil e assimilando nossos diferenciais e nossa cultura. Assim, conseguem oferecer um trabalho mais preciso aos clientes brasileiros e também exportar o que há de mais legal aqui para outras bases da Peclers no mundo.
Resultado de pesquisas profundas, os cadernos são vendidos para indústrias diferentes com tendências, amostras de cor, amostras de tecidos e composições que atendem diretamente as indústrias de moda, beleza e decoração. “Depois vamos trazendo eles para indústria especificas”, explica Gaia. Esses mergulhos para entender o que a humanidade vai querer em um futuro próximo parece a parte mais prazerosa do trabalho. Elas observam tudo, moda, arte, literatura, decoração, uma matéria no jornal… Tudo é material de pesquisa que, juntos, vão se encaixando como um quebra cabeça.
Esses books, chamados de Look and Feel, podem ser os principais produtos da agência, mas não são os únicos. Iza e Gaia oferecem consultorias privadas, criam e organizam workshops sob demanda. “Por exemplo, uma marca de maquiagem precisa lançar uma linha nova. A gente pensa num workshop para desenvolver produtos, seja um blush ou um shampoo, tentando deixar tangíveis os conceitos macro que trouxemos através das pesquisas”.
Elas também oferecem um trabalho customizado para mercados muito além da moda. Uma instituição de ensino entrou em contato pedindo um estudo sobre o futuro da educação. “Entregamos um relatório com exemplos mais concretos e de coisas que já existem e que podem ser aplicadas no futuro”.
Outras áreas, como a de eletrônicos e de fragrâncias também usam muito os serviços oferecidos pela Peclers. A perfumaria é um mercado com um desafio grande: o produto entrega um valor que tem que ser tangível, mas na verdade, é intangível. “Você tem que sentir um cheiro e criar uma memória de bem estar, todo um imaginário. Então a gente trabalha muito nesse imaginário para que eles tentem traduzir isso de uma forma física e olfativa”, explica Gaia.
Esta é uma pincelada do universo e do dia a dia de quem pesquisa tendências e as transformam em produtos. Só a observação mais profunda da moda já rende muito material. “A moda é um dos primeiros mercados a entender as transformações e a adota-las. Observar a moda é muito rico pra conseguir prospectar o futuro, já que ela responde muito mais rápido do que outros mercados às transformações sócio culturais”.
E como boas futuristas, Isa e Gaia inserem toques de otimismo em suas pesquisas. “Quem trabalha com tendência tem que ser otimista porque estamos olhando pro futuro, então temos que enxergar um futuro bom, um futuro que a gente queira. Nosso trabalho é um pouco também o de educar a indústria pra chegar nesse futuro da melhor forma possível”.