Vicenta Perrotta é uma artista, estilista e ativista trans multifacetada e autodidata, que se desdobra em diversas atividades, todas carregadas de vivências e mensagens que informam, conscientizam e educam as pessoas sobre a realidade e a cultura trans. Ela reinventa corpos e roupas, cria novas conexões de afetividade, pensa em novas formas de produzir e, somando forças com outras pessoas e grupos, age ativa e politicamente para uma mudança estrutural na sociedade.
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Sua marca está no line-up da Casa de Criadores, onde já apresentou três desfiles (mas já fez outros oito independentes); atua no projeto de residência Movimento Travesti Viva, na Casa do Povo, ao lado de Gustavo Silvestre e Karla Girotto; é uma das mentes por trás do Jornal Travesti Viva, que trabalha para criar um espaço de literatura trans, e também foi a cabeça do projeto Arte, Cultura e Costura em conjunto com no Instituto Tomie Othake, que ensinou 20 mulheres, trans e cis, moradoras de abrigo. Vicenta comandou 30 encontros focados na formação em corte e costura, mas seu conteúdo se expandiu muito além e virou uma rede de apoio e empoderamento a mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade. O curso finalizou com um desfile performance.
Vicente Perrota @Ateliê Vivo from Vivi Bacco on Vimeo.
Todas essas iniciativas ainda são um trabalho de base, de construir a imagem da “travesti estabelecida”. “Onde estão as travestis na sociedade?”, questiona Vicenta. “Estão nas faculdades? Não. Nos colégios? Não. Nos hospitais atuando como médicas? Não. Algumas estão na faculdade. Na Unicamp (onde tenho um ateliê) temos um processo de coloca-las dentro da faculdade e estamos pensando em entrar com processo de cotas para pessoas trans. Isso já traz uma mudança estrutural”.
Perrotta lembra que hoje existem duas deputadas travestis na Assembleia Legislativa de São Paulo (Erica Malunguinho e Erika Hilton) e que isso representa um avanço. “Estamos caminhando, mas precisamos de estratégia para não deixar isso morrer. Nós ainda passamos por processos de vulnerabilidade. Todas as manas foram expulsas de casa – todas – e vêm buscado outros processos de sobrevivência”.
Os editores do FFW Augusto Mariotti e Camila Yahn encontraram-se com Vicenta para gravar o episódio 10 do podcast Fashion Weekly. O papo que abordou os padrões impostos nas ideias sobre corpo, gênero, beleza e moda; passou pela transfobia e por ideias do desmantelamento das ideologias que serviram de base para a construção da nossa sociedade. “A transfobia está presente em todos os lugares, até no meio da moda, entre as maquiadoras inclusive. Espero uma presidenta travesti, uma diretora da Vogue travesti. Aí sim as coisas vão mudar”, diz Perrotta.
Abaixo, ouça a conversa com Vicenta Perrotta no podcast Fashion Weekly (que também está em outras plataformas como Spotify, Apple e Google Podcasts) e veja seu mais recente desfile na Casa de Criadores: