“Com o movimento da moda saindo da rua e indo para os shoppings de alto padrão, posicionar o Jardins como bairro de luxo não faz mais sentido”. Com essa frase Seba Orth, do grupo Chez e do escritório criativo Studio S/A, sediados no bairro, defende que a área que já foi um “shopping de luxo a céu aberto” precisa de um reposicionamento. E ela já começou, mais especificamente com a rua da Consolação, entre a Tietê e a Oscar Freire.
Nos últimos anos, esses quarteirões ganharam galerias de arte como a Mendes Wood e um anexo da Baró, espaços de marcas novas e frescas como Cotton Project, EGrey e Dani Cury/A Figurinista e lojas de marcas estrangeiras com forte preocupação ambiental, como a Lush.
Em março deste ano, Seba inaugurou o Epicentro, um prédio charmoso no número 3.423, que tem como objetivo promover ações de arte e lazer, como exposições, feiras de consumo responsável, oficinas e workshops. É um espaço para criar, receber, misturar e trabalhar, já que ele também tem como condôminos jovens profissionais criativos que levam seu ânimo e sua turma para o bairro. “Vamos juntar um grupo que normalmente teria um escritório na Vila Madalena, em Pinheiros ou na Barra Funda. E só de ter essas pessoas circulando aqui no bairro já traz um movimento novo”, diz.
O Epicentro é só o começo, uma primeira ação ou, como ele diz, um laboratório. “O Epicentro é o primeiro sopro de um projeto de revitalização maior”, conta.
A ideia é ressignificar os Jardins através da economia criativa. “Não adianta inventar um bairro com essa ilusão e romantismo de que ainda é um shopping a céu aberto”, diz Seba. A região tem mais de 50 galerias de arte, boa gastronomia, lojas chegando, uma nova geração entrando e não tem ninguém juntando toda essa energia, mapeando a área e coordenando uma comunicação conjunta. “A ideia é trazer um novo interesse para o bairro, mais cultural. Não somos uma galeria de arte, mas temos um espaço onde outras galerias também podem se expressar”, diz Karina Mota, responsável pela comunicação do Epicentro.
Assim, os Jardins parecem passar pela revitalização da revitalização. Ao contrário de áreas como o Meatpacking District, em Nova York, que passou de área industrial, de tráfico e prostituição para um dos bairros mais descolados da cidade, os Jardins já tiveram seus bons momentos e movimentos, mas de uns anos para cá o bairro deixou que a especulação imobiliária e o viés puramente comercial matassem a vivacidade que antes habitava o local.
Daqui um mês, o grande estacionamento que fica ao lado do Epicentro e da Cotton Project, entre Lorena e Oscar Freire vai ganhar uma feira semanal de orgânicos, com pequenos produtores. “É um presente pro bairro e também uma chance de trazer fornecedores que não poderiam estar presentes aqui com um stand na Oscar Freire”, adianta Seba. Uma feira de vinil também está nos planos.
Entre outros novos integrantes desta cena, estão as designers Dani Cury e Teka Brajovic, que abriram uma loja em parceria no número 3.199. “Queria estar nos Jardins e a Oscar Freire não tem o nosso perfil, por ser mais comercial e menos autoral. A própria Consolação era mais mortinha há alguns anos, mas com a chegada da Cotton Project, Mendes Wood e Epicentro, tem tudo para ficar mais forte”, diz Dani.
Na Consolação, o preço do aluguel também é um pouco melhor do que em outras ruas do bairro, girando em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil por mês (por um espaço de cerca de 150 m2), enquanto na Oscar ele começa nos R$ 20 mil. “O valor acompanha as outras áreas do bairro, mas tem boas opções por um preço um pouco melhor”, conta Dani.
Essa movimentação inicia uma nova fase para rua da Consolação, que logo deve se propagar para o resto do bairro. A nova roupa dos Jardins é mais cultural e contemporânea.
Na rua da Consolação…
R. da Consolação, 3.417
Cotton Project
R. da Consolação, 3.453
Dani Cury & A Figurinista
R. da Consolação, 3.199
EGrey
R. da Consolação, 3.411
Epicentro
R. da Consolação, 3.423
Lush
R. da Consolação, 3.459
Mendes Wood
R. da Consolação, 3.358