Pussy Riot no Brasil: de ativistas a ícones modernos
POR Redação
O grupo ativista/feminista Pussy Riot acaba de confirmar sua primeira vinda ao Brasil em abril. As datas já foram anunciadas em suas redes sociais: elas tocam dia 12 no Abril Pro Rock, em Recife, e dia 20 no festival Garotas à Frente, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina.
Abaixo, listamos algumas curiosidades sobre o grupo, que passou de ativista a ícone moderno.
Como começou
O grupo Pussy Riot foi fundado em 2011 em Moscou e começou a chamar atenção quando Nadezhda (Nadya) Tolokonnikova e Yekaterina Samutsevich tocaram a música Ubey Seksista (Mate o Sexista) em uma leitura coletiva sobre punk feminista. Elas começaram a realizar diversos protestos e performances de guerrilha. A primeira delas foi em novembro de 2011, em que elas tocaram mascaradas em um andaime no metrô de Moscou, rasgando travesseiros de plumas e jogando-as na pista do trem. Todas as suas ações focam em questões como repressão, injustiça, falta de liberdade de expressão, violação de direitos humanos e, muitas vezes, miram direto no presidente russo, Vladimir Putin.
Porém, foi com a performance A Punk Prayer (veja mais abaixo) que elas começaram a ganhar atenção internacional.
Quem são
Nadya Tolokonnikova, escoltada pela polícia em 2012 / Reprodução
Não há dados concretos sobre quantas pessoas incluem o coletivo ou quem exatamente é cada uma. Nadya e Yekaterina são amigas de longa data. Antes de fundar o PR, elas faziam parte do grupo anarquista Voina e participavam de ações polêmicas e provocadores. Entre elas, a Kiss Garbage, em 2011, em que mulheres do grupo saíam às ruas e beijavam policiais mulheres na boca. Nadya foi presa pela performance Punk Prayer na catedral de Moscou em 2012.
Maria Alyokhina, é poeta, ex-ativista do Greenpeace e também foi presa com Nadya. Maria compartilhou sua experiência na prisão com a peça Burning Doors, que conta a história de três prisioneiras políticas e seu tempo encarcerada. Ela foi torturada pela polícia, com sua cabeça submersa na água por longos períodos.
Nika e Mbappe na Copa do Mundo 2018 / Reprodução
Nika Nikulshina, 21, é a mais jovem. Estudante e economia e modelo, ela participou do protesto na Copa do Mundo na Rússia, invadindo o campo no meio da final entre França e Croácia. Foi ela quem fez o high-five com o jogador Mbappe, da seleção francesa. Assim como os outros membros, ela foi banida de eventos esportivos por três anos e sentenciada a uma prisão administrativa por 15 dias por violar os direitos do espectador e vestir ilegalmente roupas com símbolos da força policial.
Olga Kurachyova, é ativista LGBT, jornalista, já trabalhou para a BBC Rússia. Após a ação na Copa, ela disse à imprensa que o protesto foi feito para promover liberdade de expressão e destacar o fato de que a Fifa é amiga de líderes que violam direitos humanos.
O artista russo canadense Pyotr Verzilov foi o único homem na ação contra a Copa. Também é ex-integrante do Voina e agia como um porta-voz da Pussy Riot quando elas estavam presas, mas em 2012 o grupo tirou-o dessa função alegando que ele interpretava mal as visões do grupo. Pyotr foi envenenado no ano passado e ficou meses em um hospital em Berlim.
A Punk Prayer
Após a reeleição de Putin em 2012 (sob acusação de fraude eleitoral), as ativistas fizeram um dos protestos políticos mais conhecidos de sua história. Com roupas e as balaclavas coloridas que são sua marca registrada, o grupo entrou na principal catedral de Moscou, cantando a melodia de Ave Maria, mas com uma letra completamente diferente. A letra pedia para que a Virgem ajudasse o país a se livrar de Putin e destacava a relação próxima entre a igreja e a KGB. Três ativistas foram presas por dois anos e levadas separadamente a campos de trabalho bem longe de Moscou, dificultando o acesso da família. A sentença foi criticada no mundo inteiro e a Anistia Internacional chamou as mulheres de “prisioneiras de consciência”.
Madonna
Madonna com Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhina, membros do Pussy Riot em 2014 / Reprodução Getty Images
Madonna já tinha mostrado seu apoio a Pussy Riot em um show em Moscou: “Enquanto artista, ser humano e mulher, eu tenho liberdade de expressar meu ponto de vista, mesmo se outras pessoas não concordam comigo, mesmo se meu governo não concorda. Então quero apenas dizer algumas palavras sobre a Pussy Riot. Sei que há muitos lados da mesma história e eu não quero desrespeitar a igreja nem o governo. Ms acho que essas três meninas, Masha, Katya e Nadya, fizeram algo corajoso. E elas pagaram o preço por seus atos. E eu rezo pela sua liberdade”.
Quando saíram da prisão, Nadya e Maria foram convidadas pela cantora para irem ao palco em um show da Anistia Internacional no Brooklyn, em Nova York.
Mas a ação irritou outros membros do Pussy Riot, que as acusaram de distorcerem os ideais do grupo. Em uma carta, elas escreveram: “Somos um coletivo feminino separatista. Nunca aceitamos dinheiro para nossas ações e só realizamos ações ilegais em locais públicos inesperados. Elas não são mais do Pussy Riot”, diz o texto, assinado por Cat, Garadzha, Fara, Shayba, Serafima e Shumakher. Mas pelo Instagram dá para ver que Nadya, uma das fundadoras, continua à frente do PR.
Entre outros célebres apoiadores, estão os artistas Marina Abramovic e Ai Wei Wei.
Elas são corajosas, guerreiras e destemidas. Mas também tem muito senso de humor e ironia. A Pussian Federation é um bom exemplo.
E as roupas e balaclavas…
Foto: Reprodução Instagram
Elas usam balaclavas coloridas e roupas em tons vibrantes como parte da persona do coletivo. A (des)combinação de cores tem um impacto visual forte e acaba, sem intenção, fazendo uma conexão com a moda. O look Pussy Riot está mais atual do que nunca, com a diferença de que as meninas são pra valer e não apenas uma tendência que espelha os tempos atuais.
Segundo Nadya contou a V Magazine, a ideia das balaclavas era para que elas não focassem nas personalidades e para diferenciar o Pussy Riot do seu antigo grupo, Voina. Sobre as roupas coloridas, elas apenas não queriam ser confundidas com terroristas e assustar as pessoas. “Queríamos trazer alguma diversão, então decidimos nos vestir como palhaços”, diz. “Você tem que prestar atenção em coisas como moda e estilo porque senão, a moda e o estilo podem virar seus donos. E as roupas falam muito sobre você”.
Para ler, ver e ouvir
A maior parte das músicas do grupo podem ser ouvidas ou baixadas gratuitamente sob o nome Ubey Seksista. Em 2017 elas lançaram o In Riot we Trust, com oito músicas.
Há também o documentário A Punk Prayer, da HBO, que chegou a entrar numa short list para ser indicado ao Oscar 2014, mas não chegou a ser incluído na lista final. Filmado ao longo de seis meses, ele conta a história e Nadia, Masha e Katia e observa as três jovens lutarem contra o sistema e mostra, através de encontros com familiares e amigos, o que motivou as meninas a se tornarem ativistas políticas e ícones modernos. O filme está à venda no iTunes.
Horário: a partir das 16 horas Local: Fabrique Club (rua Barra Funda, 1.071) Ingressos online: R$ 80 (1º lote – promocional e estudante), R$ 100 (2º lote – promocional e estudante).