Sérgio Rodrigues e Mari Stockler no Rio-à-Porter ©Juliana Knobel/FFW
Que a edição de Inverno 2012 do Fashion Rio está promovendo três grandes exposições ligadas à arte e que, paralelamente, o Rio-à-Porter tem realizado palestras com os artistas homenageados, o FFW já havia contado anteriormente. Nesta sexta-feira (13.01), o arquiteto e designer carioca Sérgio Rodrigues compartilhou de forma entusiasmada sua trajetória, falando especificamente sobre cada uma de suas criações, além de tratar com muito bom humor (e até fazer piada) seus êxitos e insucessos. Ao lado da cenógrafa Mari Stockler, foram apresentados alguns dos móveis presentes na mostra do Píer Mauá.
De forma coerente, Sérgio Rodrigues, que hoje se encontra com 84 anos, recordou o começo de sua carreira, quando ainda muito jovem se formou em Arquitetura no Rio de Janeiro e passou a criar móveis, paixão que culminou na abertura, em 1955, da “Oca”, galeria, loja e fábrica onde desenvolveu suas peças mais icônicas. Em uma época em que o design mobiliário brasileiro encontrava-se estagnado e preso à estética estrangeira, Rodrigues propôs de maneira sutil um retorno à brasilidade a partir da utilização de formas simples e elementos orgânicos. “Sou apaixonado por madeira. Eu me acho um assassino de jacarandá”, gozou o carioca ao explicar a presença constante do material em seus projetos.
Após vencer em 1961 a IV Bienal do Móvel de Cantu, Itália, com a poltrona “Mole” (conhecida lá fora como “Sheriff”), Sérgio Rodrigues alcançou reconhecimento internacional e suas peças passaram a decorar casas ilustres como a da atriz Kim Novak, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Os dois últimos, aliás, não passaram pela vida de Sérgio Rodrigues apenas como clientes: Niemeyer e Costa foram fontes de inspiração recorrentes do designer, tanto que emprestaram seus nomes a duas peças, a cadeira “Lúcio” e a poltrona “Oscar”, ambas de 1956.
Sérgio Rodrigues e a imagem de fundo com Oscar Niemeyer ©Juliana Knobel/FFW
A história por trás da criação da poltrona “Mole”, no entanto, chega a ser até mais incrível que sua repercussão. Sérgio Rodrigues contou que em 1957, um amigo fotógrafo encomendou um sofá que coubesse em seu minúsculo estúdio e que fosse tão confortável quanto uma cama. O arquiteto e designer desenvolveu então o sofá “Mole” e, como forma de pagamento, foi combinada uma sessão fotográfica com o móvel. Rodrigues queria que as imagens fossem feitas em um fundo infinito, mas o material não cabia no cubículo e ambos decidiram levar o sofá para ser clicado na praia. No fim das contas, o móvel molhou e foi exposto assim na loja, além dos dois terem sido manchete num jornal como “pessoas de alto nível que estavam fazendo uma homenagem à Iemanjá”.
Além de muitas outras histórias engraçadas, Sérgio Rodrigues falou de seu afeto por cada peça que desenvolve: “Considero cada móvel um filho meu. Uma das condições para a criatividade é o amor e o entusiasmo”. Dono de uma percepção apurada e um humor sem afetação, Sérgio Rodrigues encantou quem esteve presente no Rio-a-Porter e deu uma lição de humildade e versatilidade profissional. Dos móveis que criou para o mercado popular aos que ocupam os hotéis mais luxuosos do Brasil, como o Fasano, tudo que o carioca faz, vira referência.