Por Guilherme Meneghetti
Setembro de 2016. Na primeira coleção que apresentou na semana de moda de Paris após assumir a direção criativa da Dior, Maria Grazia Chiuri colocou na passarela da maison a camiseta que se tornou a mais famosa da temporada – sim, essa mesmo em que se lia we should all be feminists. Quatro meses depois, em janeiro deste ano, acontecia nas ruas de Washington, Nova York, Los Angeles, Londres e Paris a Women’s March, um dos maiores manifestos do mundo contra a política segregacionista e sexista do então recém-empossado presidente dos EUA, Donald Trump.
Camisetas com mensagens feministas foram um dos elementos principais do movimento. Marcas como Prabal Gurung e Elizabeth and James (segunda marca de Mary-Kate e Ashley Olsen), apenas para citar algumas, também criaram suas versões. Não demorou muito para que outras marcas, do luxo ao fast-fashion, também compartilhassem em camisetas seus ideais em defesa a ideias misóginas e sexistas. Por aqui, coincidentemente o timing foi perfeito para a jornalista de moda Giuliana Mesquita.
Um pequeno incidente fez com que ela bordasse uma camiseta para dar de presente a seu melhor amigo. Com isso, descobriu que gostava de bordar e logo começou a customizar suas próprias camisetas, assim como a de outros amigos com frases como The Future is Female, Feminist e Gay Power. Eles gostaram, usaram e postaram. Foi o incentivo pra ela lançar a Giucouture com um perfil no Instagram.
O aspecto handmade de seus bordados acaba despertando certa afetividade, até porque, por enquanto, são feitos somente sob encomenda. Leia abaixo o papo com Giuliana, que conta como tudo começou:
Como surgiu a marca?
Do nada, literalmente. Eu sou jornalista de moda e tinha comprado um presente de aniversário para o meu melhor amigo. O presente não chegou no dia estimado, então decidi bordar uma camiseta pra ele. Foi totalmente orgânico. Comecei a comprar camisetas na Hering e bordar pra mim e alguns amigos. Só depois fiz um Instagram e comecei a aceitar encomendas, etc. Como eu sou do mercado, muitos dos meus amigos também são jornalistas de moda, então quando eles foram pedindo, usando, postando, muita gente foi influenciada.
Você sempre bordou?
Eu nunca bordei na vida. Percebi que sabia quando bordei a camiseta para o meu amigo. Sou ótima com trabalhos manuais, minha mãe dava aula de aquarela quando eu era pequena.
As camisetas são bordadas somente sob encomenda?
Isso, somente sob encomenda, o que acaba tornando cada camiseta especial. Os preços começam em 80 reais, e aumentam caso o bordado seja muito grande ou caso a camiseta tenha alguma característica especial fora o bordado – tenho camisetas destroyed, com decote V, etc. Os pedidos são feitos pelo Instagram mesmo e as camisetas demoram em torno de 15 a 20 dias, no máximo, para serem entregues. Como sou eu que faço literalmente tudo, tenho semanas mais atribuladas, com mais pedidos ou com outros freelas de jornalismo, que acabam atrasando um pouco a entrega. Mas existe a opção de a pessoa pagar uma taxa pra receber em casa no dia seguinte, por exemplo, caso ela queira dar de presente ou tenha alguma data especial para usar.
Existe alguma frase mais pedida?
Olha, minha camiseta mais vendida é a feminist – e isso me deixa muito feliz. As frases são escolhidas pelos clientes, mas algumas que eu fiz pra mim acabaram vendendo bem, como as The Future is Female e Gay Power. As camisetas são bem politizadas.
Você até já fez algumas colaborações, não?
Sim, fiz duas colabs. Uma com a Malu Monteiro, uma marca de lingerie e harness de couro muito legal. Nós pensamos juntas em frases provocadoras e em ícones dos anos 1980. A Porn to be wild, a Like a Virgin e a Sem Vergonha foram as mais vendidas.
A segunda colab foi com a loja Amoreira, de decoração, quando eu bordei em fronhas para o dia dos namorados. Foi muito legal porque saí um pouco do universo da moda e pude bordar em peças que a pessoa vê todo dia.
E quais são os próximos passos?
Olha, a Giucouture é uma marca que não tem o potencial pra crescer tanto pela principal característica dela: o handmade. Eu bordo e faço questão de continuar bordando todas as encomendas. Muita gente já me falou pra eu contratar costureiras, mas acho que perderia toda a essência. Para o futuro eu tenho algumas colabs em vista (mas que ainda não posso contar, risos) e uma coleção de signos mara, que eu vou fotografar semana que vem. Pela primeira vez, estou fazendo uma coleção de fato da marca, porque antes era tudo sob encomenda. Acontece que muita gente não sabe bem o que pedir e ter essa linha vai ajudar muito os indecisos. E todo mundo adora uma coisinha de signo, né?