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    Aposta FFW: Gabriel “Da Silva” é uma das novas vozes da quebrada na moda

    Aposta FFW: Gabriel “Da Silva” é uma das novas vozes da quebrada na moda

    POR Luxas Assunção

    Por Luxas Assunção e Guilherme Rocha

    Com muita garra e sem medir esforços, a quebrada tem conseguido se fazer notada e ouvida dentro da moda nacional, ou melhor, feito a sua própria moda ser impossível de ser ignorada. Gabriel Alves, 25 anos, mais conhecido como Da Silva, é uma das novas vozes desse movimento. Nascido e criado na Zona Norte da cidade de São Paulo, ele chamou atenção no final do ano passado, ao participar – e ganhar – do reality show Design Vision, do canal FashionTV em parceria com o Instituo Focus Têxtil.

    Com uma estética única, pensada por e para a quebrada, Gabriel “Da Silva” conversou conosco sobre seu trabalho, inspirações e futuro. 

    Como começou seu interesse por moda?

    Tudo começou quando eu tinha 9 anos. Eu já desenhava e uma amiga da minha mãe viu que eu gostava de desenhar, me apresentou o desenho de moda e eu continuei. Com 9 anos já tinha decidido que iria fazer isso, mas na época ninguém acreditou em mim. Mas estou aqui.

    Para a construção dessa trajetória na moda, chegou a fazer algum curso ou graduação na área?

    Ninguém me explicou nada até os 18 anos, fiz tudo sozinho. Aos 18 eu estudei para ingressar na Santa Marcelina com bolsa pelo ProUni e me formei em 2019 em estilismo.

    Como surgiu o projeto Da Silva?

    A Da Silva surgiu mesmo como meu projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), inspirado no meu irmão, a partir de uma experiência que ele teve com a polícia, que me fez perceber que a moda era muito além daquela minha bolha da faculdade. Quando eu converso com meu irmão ele me mostra a direção e que eu estou no caminho certo.

    Peças "Da Silva" Foto: Caodenado

    Criações da “Da Silva” Foto: Caodenado

    Me conta mais sobre essa situação do seu irmão?

    Meu irmão estava dirigindo um carro em uma das avenidas mais importantes da Zona Norte, chamada Parada Pinto e foi parado três vezes consecutivas, no mesmo dia, no início, no meio e no fim desta avenida, fazendo com que ele chegasse em casa muito bravo, e ainda por ele ser uma pessoa preta, infelizmente tem essas abordagens como algo ‘comum’, mas mesmo estando com os documentos certos, também tinham signos estereotipados que também motivaram as abordagens, como por exemplo estar vestindo camisa polo, usando correntes, com o penteado ‘blindado’ e ouvindo Racionais, somavam um significado negativo para os policiais, já ligando ele à um ladrão, e resultando nas três abordagens consecutivas. 

    Isso me fez perceber que essas abordagens também são motivadas pelas roupas. Falar disso foi extremamente importante no meu TCC, porque foi contra tudo o que esse povo [da faculdade] entendia como moda.

    Seu trabalho bebe muito das estéticas da periferia, dos crias e dos mandrakes, que são estilos criados nas quebradas a partir de combinações de marcas. Mas você realmente criou peças e toda uma estética já pensada para essa galera, como é isso para você?

    Cara, para mim isso é natural. Tem uma estampa nova em um dos trabalhos que fiz no reality, que chama Mano, que foi algo que eu criei só de ouvir no metrô alguém falando “mano, mano, mano” várias vezes. Ele foi da Luz até Santana falando. Aquilo ficou na minha cabeça e eu tinha esse trabalho da faculdade para fazer e criei essa estampa. São coisas nossas, que já existem, mas a gente ainda não aplicou. As marcas de fora não vão olhar para gente.

    Estampa Tipográfica "Mano" de Gabriel da Silva | Foto: Caodenado

    Estampa Tipográfica “Mano” de Gabriel da Silva | Foto: Caodenado

    Me conta um pouco sobre o reality que você participou?

    Então (risos) eu não ia entrar no programa, nem achei que eu iria passar da primeira fase. Ganhei três provas, sem entender direito, fiz a coleção e levei todo mundo junto comigo. O cabeleireiro que faz meu cabelo e do meu irmão tava lá junto, os muleque que faz a trilha tavam junto(sic), os MCs, Rony e RD5 na hora abraçaram e toparam a ideia. Todos estavam desfilando pela primeira vez, fora meu irmão, que já tinha desfilado para mim no TCC. Essa imagem não é minha, não fui eu que criei, é uma imagem coletiva, somos nós que criamos.

    Essa sua fala me lembra muito o desfile da Mile Lab na São Paulo Fashion Week.

    Com certeza! Ela é um ícone pra gente, foi o desfile mais importante da semana. Ela conseguiu fazer na primeira vez coisas que pessoas que estão há 20 anos lá não conseguem. Ela representou muita gente, essas marcas tem que começar a olhar para a periferia para ontem.

    Grande parte da moda quer falar de sustentabilidade mas não entende sobre coletividade. Acho que a moda realmente só vai mudar quando pararmos de verticalizar e começarmos a horizontalizar. Chamar as pessoas para colaborar, para fazer parte. Se não tem coletivo, não tem sentido fazer moda para mim, é só o ego do estilista. A costureira tem muito mais a me ensinar do que eu ensinar a ela, por exemplo.

    Peças "Da Silva" Foto: Caodenado

    Peças “Da Silva” Foto: Caodenado

    O reality show foi um ponto de virada? 

    O programa terminou em novembro do ano passado, eu só fui me tocar que ganhei em fevereiro desse ano, quando caiu a ficha. Nunca achei que meu trabalho iria se conectar com tantas pessoas com quem eu queria conectar.

    Eu tive o momento em que meus sobrinhos vinham aqui em casa, olhavam pro desenho e falavam “Olha o papai!”. Naquele momento que meus sobrinhos falam que meu irmão é bonito, estiloso, eu vejo que consigo distanciar a imagem negativa da polícia sobre pessoas como ele. Ele sai do papel de vilão e se torna herói, se torna uma referência. E tudo aquilo que está a volta deles, eles começam a olhar de uma outra forma, e lá na frente, que eles vejam beleza neles mesmos.

    Sobre o momento atual, como você se encontra, pós reality, já com uma imagem de moda robusta, quais são os planos atuais?

    Hoje eu estou trampando com uma marca que tá começando, onde estou aprendendo muita coisa mesmo. A Da Silva não é um plano, é uma coisa que já tá acontecendo, e eu tô vendendo tudo (risos), se quiser, tá à venda, ficar na minha mão não faz sentido. A Da Silva só funciona quando está na rua. Mas a marca pode ser que surja nesse ano, no próximo ano, estou me movimentando, já tá acontecendo.

    Me conta um pouco sobre a frase que tá na sua bio do Instagram: “Jacaré Parado Vira Bolsa de Madame”.

    Ela surgiu no TCC, quando eu ouço Mc Daniels, “Tô de Bis” e se não me engano ele fala “Fala DJ Max, Jacaré Parado Vira Bolsa de Madame”. Essa frase é muito importante. Se eu paro eu me torno aquilo que as pessoas já montaram de mim, a imagem que já está estabelecida de mim pelo outro. Quando eu tô no corre, fazendo as coisas acontecerem, eu não me torno bolsa de madame.

    Peças "Da Silva" Foto: Caodenado

    Peças “Da Silva” Foto: Caodenado

    Fazer moda no Brasil sem investimento não é das tarefas mais fáceis. Como é isso para você? Algum “perrengue” que quer contar?

    Nossa eu ouvi esses dias uma frase totalmente diferente de uma pessoa, falando que ‘abriu uma marca no meio da pandemia e só não ganha dinheiro com moda quem não quer’, acredita? É o oposto, é uma pessoa que tem dinheiro e consegue se movimentar. Por isso que temos que enaltecer demais a Mile Lab, não é todo mundo que apoia, não é fácil vender roupa. Não tenho dinheiro para abrir a marca no mês que vem, tá ligado?

    Até porque eu quero trazer todo mundo comigo, chamar a galera e pagar a galera, para girar o dinheiro entre nós. Se for só eu ganhando, cai por terra aquela ideia do coletivo que eu tava falando.

    E como você vê o futuro da Da Silva, daqui a 5, 10 anos?

    Não curto pensar utopicamente, porque me tira do chão, não gosto de sair do chão. Eu quero fazer a Da Silva acontecer mesmo [como marca], provavelmente no próximo ano. E eu quero que as pessoas para quem eu faço roupa vistam a roupa, possam comprar essa roupa, não quero que a pessoa da Paulista compre minha roupa mas a galera da quebrada não consiga.

    Peças "Da Silva" Foto: Caodenado

    Peças “Da Silva” Foto: Caodenado

    Ficha técnica das fotos:

    Foto: Caodenado @caodenado

    Assistente de fotógrafo : Erick

    Styling: Gabriel Alves @da_silva____

    Assistência: Érica Sena @ericailustraefazsapatos e Marlon Motta @mottamarlon

    Modelos: João @iam.santt ; Deivd @albuquerque_deivd e Yasmin da Silva

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