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    NYT revela a verdade sobre a cadeia de bordados indianos usados pelas marcas de luxo
    Jennifer Lopez e o vestido Versace bordado na India
    NYT revela a verdade sobre a cadeia de bordados indianos usados pelas marcas de luxo
    POR Camila Yahn

    Fazem sete anos desde o mais mortal desastre de fábrica de roupas da história, o desabamento do Rana Plaza, em Bangladesh, matando mais de mil trabalhadores e machucando mais de dois mil, todos a serviço de redes de fast fashion. Desde então, o cerco se fechou para este segmento, que preza pela quantidade de ítens vendidos a preços baixos em prol da qualidade,  num modelo de negócios insustentável social e ambientalmente.

    Hoje, o New York Times revelou em uma matéria investigativa o drama de milhares de artesãos na Índia que trabalham sob condições análogas à escravidão: bordam em uma fábrica com janelas de gaiolas e sem saída de emergência, recebendo alguns dólares por dia. Quando a noite cai, alguns dormem no chão, diz o artigo. Mas aqui, há ainda um fator agravante: esses trabalhadores estão bordando centenas de peças para marcas de luxo como Saint Laurent e Dior.

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    Cena de bordado sendo feito na India, parte do documentário sobre o trabalho de Dries Van Noten

    Ambas as marcas integram conglomerados, Kering e LVMH respectivamente, que têm programas de sustentabilidade em atividade, levando em conta pilares ambientais e sociais em direção a uma prática correta.

    A cadeia de fornecimento é o lado escuro da força na moda. As marcas não produzem internamente todos os seus produtos; elas terceirizam. Em Mumbai, há diversas fábricas que funcionam de acordo com as leis locais de segurança do trabalhador e fazem a ponte entre o cliente (marcas de luxo) e artesãos altamente qualificados. Mas assim como acontece no fast fashion, a terceirização vira quarteirização e “quinterização”. As fábricas contratadas pelas grifes internacionais não dão conta da quantidade de serviço e contratam ateliês independentes para fazer as roupas ou bordá-las. Daí esses ateliês repassam uma parte da encomenda para outras oficinas e assim vai. A ponta dessa cadeia é uma oficina que trabalha sob condições terríveis e altamente injustas, como as visitadas pelo jornal americano.

    Como as marcas de luxo sempre enalteceram seus processos de produção para justificar os altos preços cobrados, elas sempre ficaram fora desse radar da injustiça social na moda. Afinal, não faz sentido um vestido que custará R$ 30 mil ser bordado num porão na Índia por um funcionário que vai receber US$ 20 trabalhando 17 horas por dia.

    “Dados os preços dos produtos, há uma sensação de que as marcas de luxo devem estar fazendo o que é certo, e isso as torna imunes ao escrutínio público”, disse Michael Posner, professor de ética e finanças da Stern School of Business da Universidade de Nova York. “Mas, apesar dos preços dos produtos de marcas de luxo, as condições nas fábricas em suas cadeias de suprimentos podem ser tão ruins quanto as encontradas nas fábricas que produzem para o fast fashion”.

    O fato é que essa prática acontece há muito tempo e é o dirty little secret da indústria do luxo. Segundo o NYT, desde a década de 1980, as marcas de luxo terceirizaram silenciosamente grande parte de seu trabalho de bordado para a Índia. Em 2016, um grupo formado pelas principais marcas do segmento, iniciou o pacto de Utthan (significa elevação em sânscrito), um projeto mantido, até então, em segredo, que visa garantir a segurança nas fábricas de Mumbai e elevar as bordadeiras indianas. Entre os signatários estavam Kering, LVMH e duas marcas britânicas, Burberry e Mulberry.

    No entanto, ao contrário de muitas iniciativas de práticas éticas de negócios, as marcas não divulgaram seu envolvimento na Utthan, tampouco mencionaram isso em seus relatórios anuais ou plataformas de responsabilidade corporativa e social.

    O acordo, elaborado pela consultoria britânica Impactt, estabeleceu requisitos onde os participantes seriam obrigados a mostrar progresso no fornecimento de benefícios de saúde e pensão para os artesãos. Todas as fábricas precisariam de extintores de incêndio, um quatro separado para que eles pudessem dormir e, para instalações maiores, pelo menos duas saídas sinalizadas. O pacto também exigia uma semana máxima de seis dias e uma jornada de trabalho de não mais de 11 horas, além de redução de horas extras. Parece curioso o fato de que as marcas mais poderosas do mundo precisem se juntar e contratar uma consultoria para conquistar mudanças tão básicas quanto ter extintores de incêndio no prédio.

    Claro que as transformações necessárias são muitas e um grupo pode agir mais rápido e eficientemente do que uma marca independente, mas essa informação é valiosa porque nos mostra o nível de degradação, do desleixo e da burocracia para que os trabalhadores tenham posse de seus direitos essenciais. Ainda assim, marcas como Valentino e Versace não aderiram ao pacto. Ao NYT, a Versace disse que “se dedica a conduzir suas operações com base nos princípios da prática ética e no reconhecimento da dignidade dos trabalhadores”. Algumas marcas enxergam o pacto como um exercício de relações públicas destinado a proteger as grifes de luxo da responsabilidade.

    Saddle bag da Dior, bordada na India / Reprodução

    Saddle bag da Dior, bordada na India / Reprodução

    No entanto, durante visitas a várias fábricas de Mumbai e em mais de três dúzias de entrevistas com artesãos, gerentes de fábrica e designers, o New York Times descobriu que as bordadeiras ainda realizavam pedidos em instalações não regulamentadas e que não atendiam às leis de segurança da Índia.

    Através de um porta-voz, o grupo Kering disse “reconhecer que a situação de alguns trabalhadores no nível de subcontratação ainda está muito longe de ser satisfatória hoje e estamos genuinamente determinados a fortalecer o programa com nossos colegas interessados, acelerar o progresso e melhorar ainda mais a situação”.

    Algumas das peças feitas em Mumbai são bem conhecidas do público, como o vestido verde da Versace usado por Jennifer Lopez, um dos modelos da saddle bag da Dior, assim como vestidos de tapete vermelho usados por Lady Gaga e Lupita Nyong’o; e muitas peças das coleções de Alessandro Michele para a Gucci, estampadas com tigres e borboletas. O artigo não especificou se elas necessariamente foram feitas sob condições não éticas, porém deixa claro que peças de todas as marcas citadas foram encontradas sendo produzidas nestas condições.

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