Por Rodolfo Vieira
No último dia de Estufa no SPFW N46, restam mais dois desfiles para encerrar o calendário de desfiles do projeto. Às 14h30, a marca homônima de Victor Hugo Mattos estreia na passarela e abre espaço, em seguida, para Fernando Miró, da MIPINTA.
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Confira abaixo o nosso bate-papo com o Victor sobre a sua visão em moda, política e sustentabilidade.
Qual a importância de participar do Projeto Estufa?
Tem sido bastante desafiador participar do Estufa, sendo que este é o primeiro desfile da marca em uma semana de moda. Como artista, eu transito em diversas plataformas e maneiras de me expressar, o que me fez ficar surpreso e feliz ao ser cogitado como uma das marcas a integrar o line-up. Mas sendo o Estufa esse espaço de ruptura, de liberdade e experimentação me senti acolhido e certo da pertinência em estar presente. Estar com a Carolina Domingos, que assina o styling do desfile, durante o processo, foi essencial para materializar as imagens que até então eram memórias, lugares e sensações que pairavam (e ainda pairam) dentro do meu imaginário afetivo e artístico.
O que a sua marca traz de novo ao cenário da moda?
A marca lida com questões que são muito minhas, é o meu DNA, uma extensão de mim. É a forma como enxergo o mundo, para onde meu olhar é direcionado. Esse olhar macro, pro detalhe e pra minúcia. A forma com que acredito ser possível lutar, com delicadeza, abrindo a escuta, se mantendo presente e lúcido, sem endurecer. Produzir encantamento. Tenho me interessado pelo bordado, não só o bordado de linha, mas todo e qualquer tipo de aplicação em roupa. Lido não só com peças únicas, que me permitem maior liberdade criativa na escolha de materiais que não precisem necessariamente se repetir, mas também produzindo peças de roupa do zero, em uma escala ainda pequena. Pensar a vestimenta tem me ampliado a visão, é como dar um passo pra trás para enxergar a imagem toda. Diferente do lugar de onde venho, do acessório, onde a atenção está no detalhe, onde me aproximo pra olhar.
Muitas marcas da sua geração já nascem com posicionamento político e preocupações em relação a sustentabilidade e diversidade. Como você vê essas questões?
Diante de tamanha barbárie, agressividade e falta de clareza no mundo e no nosso contexto político, me interessa chamar atenção pro afeto, evocar um tempo e espaço lúdico onde se permita escutar, ter atenção, contemplar, deixar que esse movimento reverbere e gere transformação. Pensando sobre sustentabilidade, no meu processo de pesquisa e trabalho, quando garimpo determinadas peças ou acessórios, aproveito cada detalhe do material, evito o descarte excessivo e crio sempre um pretexto de usar aquela matéria prima.
De que forma, na sua visão, a moda pode se reinventar para se manter relevante?
Mantendo esse caráter questionador, sendo um reflexo do momento presente, espelhando a forma com que queremos nos comportar e as barreiras que precisamos vencer. Se manter atento a todas essas demandas e conseguir transpor isso pra um design interessante.
Muito se fala hoje de sustentabilidade na moda, mas de que maneira você coloca esse discurso em prática?
Uma das minhas maiores paixões é garimpar. Principalmente acessórios, peças de metal, broches, aplicações, passamanarias antigas. Reutilizar matérias que foram descartadas, desmontar joias antigas e propor outros adornos com elas. Meu exercício sempre foi produzir beleza a partir do que se tem. E para mim, é o melhor exercício de criatividade, porque me coloca na obrigação de me resolver com o que está a minha volta, me faz adquirir independência e autonomia e certeza que nunca vai me faltar nada. Falta de material nunca vai ser um pretexto. Com tanto descarte em todos os setores da indústria, ressignificar tais objetos torna-se indispensável.