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    Ser mais, ter menos: esse é o lema por trás do Projeto Gaveta, de moda sustentável
    O Projeto Gaveta no MIS
    Ser mais, ter menos: esse é o lema por trás do Projeto Gaveta, de moda sustentável
    POR Camila Yahn

    No momento atual, em que formas de consumo estão sendo revistas e discutidas, o Projeto Gaveta se coloca como uma das maneiras mais sustentáveis, generosas e divertidas de consumir. Lançado em 2013 por Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino, ele consiste em um evento de troca de roupas e acessórios, com sua própria moeda e uma logística criada especialmente para atender as necessidades desta iniciativa, que hoje reúne 300 participantes e oito mil peças. Em apenas três anos, o Gaveta se transformou num festival de moda sustentável com mostras, exposições e feirinhas de brechó

    Encontramos Giovanna em um café na Vila Madalena, em São Paulo, para conhecer mais sobre a história por trás do Gaveta e em como elas têm conseguido traçar uma evolução saudável do projeto, transformando um sonho em causa e agora em um negócio.

    Como surgiu a ideia do Gaveta?

    Em 2010 fui para Barcelona fazer uma pós em Branding e o trabalho de conclusão daquele ano foi sobre a Inditex (empresa dona da Zara). A minha proposta foi escolhida e eu acabei prestando uma consultoria pra empresa, o que me abriu muito para o mundo das fast fashion. Paralelo a isso, comecei a frequentar brechós – até então eu não consumia em brechós. E Barcelona é um prato cheio pra essa cultura. Toda quinta feira as pessoas tiram das casas os móveis que não usam mais, tem bazar de troca na estação de trem e eu comecei a participar. Nessa fase, eu me dividia entre lojas como Zara e H&M e roupas de segunda mão ou vintage.

    Lá você também conheceu a Raquel, sua sócia…

    Sim, ela estava fazendo uma pós em Design.

    Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino

    Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino

    E quando você voltou pro Brasil, essa experiência com brechós se desdobrou de que forma?

    Quando eu cheguei, fui trabalhar na 284 como coordenadora de branding, mas não me encontrava mais nesse segmento. Continuei nessa área, abri uma consultoria com a Lolita Hannud, que fez faculdade comigo, mas a marca dela entrou pro SPFW e seguimos caminhos diferentes. Um dia, estava com Raquel na casa de uma amiga mega consumista e que dizia que não tinha nada pra vestir – ela tinha um guarda-roupa maravilhoso. Então falamos: vamos trocar roupa entre a gente porque todas temos coisas legais no armário que não usamos mais. Eu já estava buscando algo com esse viés. Aí me acendeu uma luzinha e pensei: não, vamos abrir pra todo mundo e não só entre amigas. E em três meses levantamos a primeira edição, em 2013.

     E como vocês viabilizaram tudo em três meses?

    Conseguimos nosso próprio financiamento no Catarse, a Escola São Paulo entrou como parceira de estrutura, a Raquel desenhou o logo e uma assessoria de imprensa nos apoiou. A comunicação foi toda por Facebook e Instagram. Nesta primeira vez, tivemos 75 participantes e três mil peças. Chegava tudo no meu apartamento, não tínhamos nenhuma logística, foi um caos.

    Você me contou que criaram uma mecânica pro Gaveta funcionar.

    Sim, basicamente você tira tudo do armário que não usa mais, independente da roupa estar nova, velha ou com bolinha. Nós recolhemos essas peças e selecionamos uma por uma. O que está em bom estado e tem potencial de troca, vai pra troca. O que não tem potencial, vai pra doação. Chegam pessoas com umas calças sociais pretas, daquelas bem tradicionais de trabalho… Isso não tem potencial de troca. Então tem uma logística de curadoria das peças também. Daí criamos uma tabela de conversão por quantidade de tecido. Então, blusinha, regatinha, shortinho é 1 moeda. Sapato, bolsa, calça e vestido valem 2 moedas, e casacos de frio valem 3. Não levamos em conta marca, é por tipo de peça mesmo. No dia do evento montamos como se fosse uma loja, com araras e tudo e a pessoa vai lá, retira suas moedinhas e troca pelas roupas de outros participantes.

    Isso foi em 2013. De lá pra cá, mudou algo no funcionamento?

    O evento cresceu muito. Hoje, temos 300 participantes e oito mil peças por edição. Agora cada pessoa pode trazer no máximo 30 peças. Estamos na Lei Rouanet e conseguimos fazer dois eventos grandes, um em SP e outro no Rio, que viraram festivais de moda sustentável. Além da troca, temos palestras, mostras de filmes. E como a moda é muito nova dentro da Lei Rouanet – entra dentro de Artes Visuais – também fazemos exposições de fotos.A artesã Lane Marinho na exposição Persona

    A artesã Lane Marinho na exposição Persona

    Como são as exposições?

    Já fizemos duas, uma em SP e outra no Rio, reunindo personalidades que humanizam as cidades de alguma maneira. Fotografamos Felipe Morozini, Lane Marinho, Paulo Tessuto, o pessoal do Batekoo, a Fernanda Cortez, do Menos um Lixo, a Bia Bittencourt, da Feira Plana, o grafiteiro Saci…

    Oito mil peças pra trocar! Como funciona essa logística pra não virar um caos?

    Quem entrega as peças antes, também entra antes no espaço de troca. Então, a cada hora, entram 30 pessoas. As araras estão montadas e é isso o que você tem pra trocar. Acabou o tempo, você sai e a gente repõem as peças, assim ninguém sai prejudicado. Pra isso dar certo e pra troca ser agradável, montamos uma super logística, tem muita gente só focado nisso. E as pessoas saem de lá com um sorriso no rosto, se sentindo muito espertas por ter adquirido peças muito legais sem colocar a mão no bolso. E elas não falam mais: “estou com uma peça da Farm. Elas dizem: hoje tô de Gaveta!”. Acabou virando uma marca.

    Lá no Rio vocês fizeram uma parceria com o pessoal da Malha.

    Sim, foi durante o Fashion Revolution, com palestras e ações não só na Malha, mas em comunidades como Cidade de Deus. Existem vários brechós dentro da Cidade de Deus, marcas que nascem lá, eles só compram lá. Há um discurso muito profundo.

    Como são feitas as doações?

    Tudo é encaminhado para instituições de caridade (Filhos de Teresópolis e Colégio Mão Amiga, em São Paulo; e A Minha Casa, no Rio) mas em 2015 fizemos o Gaveta na Rua, com tudo o que não foi selecionado. Montamos um espaço no Minhocão, no centro de São Paulo, para receber os moradores de rua. Eles recebiam as moedas e tinham o poder da escolha. Normalmente eles não escolhem, só recebem doação. Tinha barbeiro, cabelereiro, trocador pra poderem provar tudo lá mesmo. E pra gente foi muito gratificante também, foi um dia mágico.

    Gaveta na Rua, no Minhocão, em São Paulo

    Gaveta na Rua, no Minhocão, em São Paulo

    Que estrutura vocês precisam hoje pra fazer os Gavetas?

    Nós só temos estrutura mesmo na época dos eventos. Já tentamos alugar sala de escritório, mas nunca deu muito certo, pois o Gaveta dá uma flexibilidade grande pra gente. Então trabalhamos uma na casa da outra. Quando chega próximo de algum projeto, temos a ajuda de diversos amigos e colaboradores e aí sim, criamos uma estrutura grande.

    Como vocês ganham dinheiro com isso?

    Ninguém ganha dinheiro com a troca. Pelo Ministério da Cultura, recebemos um salário como coordenadoras, mas é incerto porque nada garante que estaremos lá no ano que vem. Então fazemos workshops de moda sustentável em outras cidades em que a pessoa paga pelo conteúdo do workshop e no final do dia tem a troca gratuita. Também tem o Gaveta Empresas, onde vendemos o nosso serviço e o levamos para dentro da empresa. Por exemplo, organizamos uma troca na Johnson para dois mil funcionários. Essa semana vamos no Sesc, que também comprou nossos serviços.

    Onde você encaixa o Gaveta no mercado de moda?

    É um modelo de negócio muito novo, que é a troca, dentro de um modelo de mercado muito novo, que é a moda sustentável. A gente criou uma marca, Nós começamos como um evento de troca, mas hoje somos muito mais que isso e criamos uma marca. Gaveta Evento, Gaveta Empresa e Gaveta Workshops. No evento, se você não participar da troca, você vai pelos outros acontecimentos – a ideia é dar às pessoas uma boa experiência de moda sustentável. Mas não tem uma forma específica e única de traduzir o Gaveta. É uma história nova que acontece hoje desta forma; ano que vem pode ser de outra.

    projeto-gavera

    Você ainda compra em fast fashion?

    Não. A Raquel e eu nos transformamos muito como pessoas durante esse processo. Hoje eu nem entro numa H&M, numa Zara. Mas isso é uma chave que você muda dentro de você. Eu era muito consumista e hoje só compro roupa em brechó, quando compro. Meu consumo também diminuiu muito. Ensinamos as pessoas encontrarem seu próprio estilo, porque quando você descobre, você naturalmente passa a consumir menos.

    A próxima edição acontece em setembro em São Paulo. Fique ligado no site das meninas para participar ou mande um email para projetogaveta@gmail.com

     

    A 2ª edição no Rio:

    A 3ª edição no MIS:

    Gaveta na Rua:

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