Por Jal Vieira
*Esse conteúdo é parte da serie POTENCIALIDADES com curadoria de Jal Vieira publicada aqui e em nossas redes
Após o ressurgimento da hashtag #BlackLivesMatter no mundo todo – movimento que surgiu em 2013 após a absolvição de um policial na morte do adolescente Trayvon Martin, nos Estados Unidos, e que tomou força novamente em maio deste ano com a morte de George Floyd –, vimos que uma avalanche de manifestações nas redes se iniciou logo em seguida, indo desde denúncias à violências diversas que vivenciamos até o resgate de indicações de profissionais pretes de áreas diversas. Na moda, não foi diferente. Presenciamos um acontecimento sem antecedentes para nós, estilistas pretes: a procura para que estivéssemos em todas as pautas midiáticas possíveis.
Porém, a coincidência – nem tanto! – é que, na maioria das matérias, o assunto abordado era sempre o racismo ou a nossa condição de vulnerabilidade. Nunca tivemos que falar tanto deste assunto – para além de já vivenciá-lo todos os dias.
Enquanto isso, poucos eram os veículos que estavam preocupados em saber mais sobre o nosso trabalho. Muitas das vezes, isso sequer era mencionado. E existe um ponto de grande atenção aqui: por que pessoas pretas são lembradas somente para falarem sobre racismo, quando, na verdade, é papel das pessoas brancas discutirem a respeito e falarem sobre a branquitude? Por que somos, na maioria das vezes, citades apenas em situações depreciativas? É preciso se fazer esses questionamentos diariamente. E nós – pretes – já o fizemos inúmeras vezes.
O racismo – como diria Hisan Silva da marca Dendezeiro, de Salvador – é uma grande engrenagem que funciona muito bem. Por isso, está enraizado culturalmente em cada minúcia do dia a dia. Inclusive, na necessidade de só mostrar pessoas pretas em situações de vulnerabilidade. Enquanto isso, nossas vitórias são invisibilizadas em meio a tudo isso. Bem como o trabalho que realizamos.
Há um grande projeto histórico em manter a imagem de pessoas pretas aquém da grandiosidade que elas têm. Mostrar o seu sucesso é também munir esses indivíduos de uma autoestima alta a qual lhes é negada o tempo inteiro. E, dentro desta grande engrenagem social excludente, a nossa maior resposta contra toda essa estrutura em que vivemos é lembrá-los todos os dias da nossa potência e imensidão.
Potência essa que está estampada no rosto e no trabalho de cada um dos nomes que indicamos abaixo. A fim de que, não apenas conheçam, mas também possam admirar, acompanhar e disseminar os seus vôos.
Carol Barreto
Nascida em Santo Amaro da Purificação, Bahia, Carol que é designer de moda autoral, elabora produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero. Construiu um trabalho de visibilidade internacional nas passarelas de Dakar, no Senegal, de Paris, na França e de Luanda, em Angola. Já expôs em galerias de arte em Chicago, nos EUA e em Toronto, no Canadá. É também professora em Estudos de Gênero e Diversidade na FFCH – UFBA, além de colunista na Revista Raça.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @carolbarretocob e @modativismo
Fefê Camilo
Percussionista e uma das fundadoras do Bloco Ilu Inã de São Paulo – um bloco afro afirmativo da identidade e narrativa do povo preto que nasce em meados de 2016 –, Fefê já tocou com grandes nomes da música brasileira e já foi responsável pela trilha sonora do desfile de estreia da marca Jal Vieira Brand, na Casa de Criadores.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @fefecamilo e @ilu.ina
Giovanna Heliodoro
É comunicadora, historiadora, pesquisadora, produtora de conteúdo e idealizadora do Canal Trans Preta, no Youtube. Em suas redes, fomenta debates que vão para além de sua vivência enquanto mulher preta trans, abordando pautas como saúde mental, produtividade em meio à pandemia, história do movimento TLGBIQA+ no Brasil, entre outras pautas urgentes a se debater.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @transpreta
Indy Naise
Cantora e compositora, nascida em Juazeiro, na Bahia, e radicada em São Paulo, começou a carreira em junho de 2014, quando ganhou, em primeiro lugar, como melhor cantora em todas as categorias do Festival de Música Ala Guarujá. Lançou em dezembro de 2018 seu primeiro disco intitulado É Questão de Cor. Em 2019, criou a produtora Filha do Trovão e agora é auto gestora de sua carreira. Seu repertório aborda questões emergenciais para nosso convívio em sociedade, tendo como foco a mulher negra.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @indynaise e @filhadotrovao_
Joyce Carolina
Além de produtora de conteúdo, Joyce trabalha como atriz e modelo publicitária e de passarela. Como bailarina, alçou grandes voos, um dos maiores deles foi o de ser escolhida como a primeira passista gorda da escola de samba Mocidade Alegre de São Paulo. Também usa as suas redes para abrir discussões necessárias sobre a desmistificação do corpo gordo na sociedade.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @joycaroll
Le Cardenuto
Além de motion designer numa grande empresa de investimentos, Le também é produtor de conteúdo desde 2019, quando decidiu registrar as mudanças físicas e psicológicas de seu corpo durante sua transição. Para ele, consumir conteúdo de outros homens trans colaborou muito no seu processo e na sua existência. Então, em suas redes sociais, tenta somar na vivência de outros homens trans por meio de suas experiências e abrindo margem e espaço para discussão a respeito.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @opsbolo
Nathalia Santos
Jornalista e youtuber carioca, Nathalia, que já integrou a equipe do antigo programa Esquenta, comandado por Regina Casé, na Globo, foi eleita pela revista Vogue uma das mulheres negras mais influentes do país e se dedica em compartilhar conteúdos sobre acessibilidade. Portadora de uma doença que causou a perda de sua visão, fez de suas limitações visuais a porta de abertura para o espaço e discussão sobre as vivências de pessoas que possuem mobilidades reduzidas variadas, na sociedade.
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @nathaliasantos
Tatiana Nascimento
Poeta brasiliense, editora, pesquisadora em literaturas da diáspora negra sexual-dissidente e autora do livro Lundu, seu primeiro livro – e de poemas – , lançado em 2016. É doutora em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC), editora-co-fundadora da Padê Editorial – que já publicou mais de 50 títulos de autoras negras e/ou lésbicas. Além de idealizadora, co-fundadora, realizadora do primeiro Slam das Minas nacional (que aconteceu em Brasília/DF).
Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o Instagram @tatiananascivento