Foi como uma paixão à primeira vista. Quando Lea T conheceu as coleções da Têca e, depois, a própria Helô Rocha, surgiu quase instantaneamente uma forte relação. “A Helô é uma menina nova e do bem”, disse a top no backstage, instantes antes de subir na passarela nessa quinta-feira (16.04), penúltimo dia de SPFW. “Ela está começando, não que tenha pouco tempo de carreira, mas no sentido de que ela possui um longo caminho pela frente, e tem muito talento. Estou feliz de desfilar nesta temporada porque vou usar roupas que gosto e usaria com o maior prazer fora daqui.”
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Aproveitando a presença de Lea no SPFW, o FFW bateu um papo rápido com ela sobre o movimento gender-bender na moda, preconceito e o longo caminho que ainda precisamos percorrer para uma sociedade mais justa. Acompanhe abaixo.
Você foi um dos ícones que marcaram o início do movimento gender-bender recente na moda. Como você enxerga isso?
Eu não gosto de me ver como um ícone, mas sei que realmente na moda fui talvez a primeira a falar abertamente sobre sexualidade com a mídia. Mas acredito que a história ganhou uma repercussão maior comigo porque meu pai também é famoso no Brasil.
E de lá pra cá você percebe que as coisas estão evoluindo, ou seja, o preconceito tem diminuído ou não?
Acho que a gente tem que pensar positivo, que as coisas estão mudando. Nós esperamos muito que elas mudem, porque no Brasil a homofobia e a transfobia ainda são muito fortes, muito mais fortes que em outros países, você sente isso. A gente escuta tantas histórias bárbaras, que acabamos ficando receosas até de andar na rua. Qualquer pessoa pode perceber isso, afinal a violência no Brasil é mais alta do que em países em situação de guerra. Mas eu torço para que as coisas melhorem, e acho que na moda elas evoluíram bastante já.
Recentemente a Selfridges lançou o Agender, um projeto que acabou com as divisões entre as seções masculina e feminina da loja justamente para romper com o estereótipo existente entre homem e mulher. O que você acha disso?
Eu acho incrível. É um conceito sobre o qual já conversei muito com a minha terapeuta, que é especialista nesse assunto, e quem me deu a autorização para fazer a cirurgia [de mudança de sexo]. Ela fala que, no futuro, com a evolução humana, não vai mais existir a divisão categórica entre homem e mulher. Porém isso ainda é um estudo especializado e muito avançado para o senso comum. Ainda é muito difícil passar hoje em dia essa mensagem, porque antes de compreendê-la as pessoas vão ter que aceitar muitas outras coisas.
Mas ao chegar no varejo, por meio de uma loja importante como a Selfridges, isso já sinaliza que as coisas estão caminhando, não?
Claro. Com qualquer pessoa que você converse e que tenha a cabeça mais aberta, isso faz todo o sentido, existe uma lógica. Mas ainda é muito difícil, porque as pessoas no Brasil ainda têm que aprender a aceitar, por exemplo, o negro. Somos um país com discriminações muito profundas. Eu escuto piadas de pobre o tempo inteiro, que passam a mensagem de que ser pobre é uma vergonha. Mas os outros lugares também têm seus problemas – a Europa com a xenofobia, por exemplo. Há um longo caminho pela frente para todos nós.