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    Como o vape está fazendo jovens fumarem mais

    Ao dissociar o “vaping” do ato de fumar, o vício conseguiu ganhar fôlego, especialmente entre adolescentes e jovens adultos.

    A cantora Lana Del Rey é usuária de vapes e pods

    Como o vape está fazendo jovens fumarem mais

    Ao dissociar o “vaping” do ato de fumar, o vício conseguiu ganhar fôlego, especialmente entre adolescentes e jovens adultos.

    POR Julia Lange

    A estudante de moda Marcela, de 19 anos, fuma vape desde os 16 influenciada por criadores de conteúdo do TikTok – um exemplo específico mas que ilustra bem o cenário sobre o consumo de cigarros eletrônicos no mundo todo. Popularmente conhecidos como vapes e pods, eles tem gosto de fruta e um cheiro agradável (quem diria?) e com isso o hábito de fumar ganhou fôlego.

    Num passado recente, fumar era sinônimo de status social, representava uma visão de vida easy chic e transgressora – quem não associa as mulheres francesas do cinema como Catherine Deneuve e sua imagem de elegância que um cigarro pendurado na mão não trazia? – e basicamente era visto como algo natural, presente nos filmes, revistas, novelas. 

    Com a consequência direta de prejuízos irreversíveis à saúde, o Brasil lançou diversas campanhas e investiu muito esforço em propagandas anti-tabagismo, sendo seu símbolo mais famoso a utilização das imagens das doenças e consequências do ato de fumar nas caixas de cigarro expostas para venda. O resultado? O consumo de tabaco no Brasil caiu cerca de 35% desde 2010, segundo dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) no início do ano.

    Porque o crescimento do consumo de cigarros eletrônicos é preocupante?

    Atualmente quase três milhões de brasileiros consomem regularmente cigarros eletrônicos, número 5 vezes maior que em 2022, segundo o Ipec. O aumento foi de 600% nos últimos seis anos. Um detalhe importante: o consumo desses dispositivos é proibido no país. Dentro dessa realidade, adolescentes de 13 a 17 anos consomem cada vez mais – sendo que 18% dos alunos de escolas particulares já experimentaram vapes. Outro ponto crucial: enquanto cigarros comuns têm cerca de 1 mg de nicotina (a substância viciante), os eletrônicos contêm aproximadamente 50 mg.


    Mas, afinal, como convenceram a geração wellness, que bebe menos, pratica mais esportes e procura hábitos saudáveis de que fumar era cool novamente? Sem dúvidas, o marketing em redes sociais somado ao design descolado dos dispositivos têm grande influência. Além disso, personalidades da internet como Emma Chamberlain e celebridades como Emily Ratajkowski e Lana Del Rey frequentemente inserem o dispositivo em cenas comuns de seus cotidianos, influenciando diretamente fãs a normalizarem o ato. 

    Emma inclusive abordou abertamente o tema em seu podcast Anything Goes, em que contou sobre sua dificuldade extremamente severa em parar de consumir vapes. Ela começou a fumar aos 15 anos. “Não era realmente um problema que todos os meus amigos usassem vapes porque eu tinha uma consciência tão forte e um sentimento de culpa tão forte que não conseguia participar plenamente”, disse ela à Elle Austrália. Mas, Chamberlain disse que quando encontrou fama na internet e acabou se mudando de sua casa em São Francisco para Los Angeles com apenas 17 anos, o ‘vaping’ se tornou uma forma de conforto. “Quando reflito sobre os primeiros anos do meu vício, vejo por que isso aconteceu. Fiquei viciada na época em que me tornei uma figura pública. Isso não é uma coincidência”, finalizou ela.

    “Fumo vape desde os meus 16 anos e comecei porque todas as influenciadoras que eu acompanhava sempre apareciam com um no TikTok e stories.” 

    Marcela, 19 anos, estudante de moda

    #SemNicotina

    No início de 2024, um movimento tomou conta do TikTok brasileiro, iniciado pelo influenciador Gustavo Foganoli (23 anos): o #SemNicotina, que reúne milhares de relatos de jovens de 18 a 25 anos documentando a luta contra o vício em cigarros eletrônicos. O influenciador inicialmente pensou no projeto para falar de sua própria trajetória e buscar apoio em pessoas que também enfrentam a realidade. De acordo com ele, a preocupação com o vício começou quando ele acordou no meio da noite para fumar. 

    Dentre os inúmeros relatos, é comum ouvir que muitos começaram a fumar com a justificativa de que “não faz tão mal quanto o cigarro branco”. O marketing por trás dos vapes – mesmo com uma mensagem enganosa, conforme diversos especialistas e estudos já alertaram – convenceu muitos jovens de que aquilo jamais seria viciante. 

    Além disso, estamos falando de dispositivos que são modernos, com cheiro e sabor de frutas e que podem ser da cor que desejar. Nada daquelas fotos chocantes de pulmões pretos ou de pessoas sofrendo. Tudo foi pensado para ser altamente atrativo para os mais jovens, um “hobby” misturado com o desejo de pertencer. 

    No fim, fazer do “vaping” uma ação diferente do “fumar” fez com que o hábito se tornasse aceitável e pior: desejado.

    A seguir, o depoimento de três casos distintos entre si, procurando responder à seguinte pergunta: o que te fez começar a fumar? 

    Marcela, 19 anos, estudante de moda

    Fumo vape desde os meus 16 anos e comecei porque todas as influenciadoras que eu acompanhava sempre apareciam com um no TikTok e stories. Sinceramente não via muito problema e ainda não vejo, porque consigo controlar bem e fumo quando quero, aos fins de semana. Não atrapalho meus amigos, porque o cheiro não incomoda ninguém e gosto porque ele é discreto, não preciso sair da roda pra consumir.

    Rafael, 28 anos, economista que trabalha no mercado financeiro

    Não cresci num ambiente em que as pessoas fumavam e nunca tive muito contato com cigarros, até a faculdade. Nas festas sempre tinha cigarro branco ou de palha e eu só fumava nesses ambientes. Eu acho que nunca quis começar a fumar, foi natural. Hoje em dia, quase 10 anos depois, só fumo quando estou muito ansioso com o trabalho e acho que em quantidades tão controladas não faz tão mal.

    Lucas, 37 anos, arquiteto

    Comecei a fumar porque tive curiosidade. Acho que cresci com pais e amigos mais velhos que normalizavam o cigarro e ao mesmo tempo com colegas que já reclamavam do cheiro, etc. Ficava meio dividido, mas senti que tinha um ponto a provar pra “virar adulto” de verdade. Fumava regularmente a partir de uns 20 anos e, quando cheguei aos 30, comecei a sentir que várias coisas na minha saúde já não estavam iguais. Veio o Covid e resolvi parar de vez, fiquei com muito medo. Hoje já não fumo mais, mas admito que com a crescente dos pods e vapes, é muito tentador voltar. Parece não fazer tão mal.

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