O ano da moda masculina
Só no SPFW N46 tivemos 13 desfiles masculinos – o maior número desde o início do evento – incluindo as estreias da Piet, Cacete, Handred e Torinno. No cenário internacional, foram os desfiles masculinos os mais concorridos e comentados do ano, desde a aguardada estreia de Virgil Abloh na Louis Vuitton à chegada de Kim Jones na Dior Men e Kris Van Assche na Berlutti. A Celine, marca que sempre foi estritamente feminina, também se lançou masculino sob o comando de Hedi Slimane. Mas o buzz vai muito além das grandes grifes, já que o mercado também foi movimentado por marcas novas, como GmbH, Martine Rose, Grace Wales Bonner, MISBHV, A Cold Wall, Cottweiller e Our Legacy.
+ Menswear impulsiona mercado de moda no mundo
Nova energia no SPFW
Neste semestre, o SPFW estreou sua nova casa, o espaço Arca, um galpão incrível na Vila Leopoldina. Além dessa novidade, a semana de moda teve quatro estreias: Piet, Cacete, Torinno e Bobstore, além das grifes super novas que desfilaram dentro do Projeto Estufa, como Lucas Leão, Korshi e Ão, e injetaram energia jovem e subversiva na programação do evento. Também fez parte do Estufa uma série de atividades como talks, masterclasses e palestras que levou ao SPFW e ao Farol Santander um público sedento por novas informações e troca de ideias.
+ Marcas jovens e estreantes trazem energia nova para a moda brasileira
Fim da Elle Brasil
A notícia do encerramento das atividades da Elle chocou o mercado de moda no Brasil. Criativamente, a revista estava em um pico, produzindo lindos ensaios e matérias em sintonia com questões atuais da sociedade. Além da Elle, outras publicações foram fechadas, resultando na demissão de centenas de funcionários que até hoje não receberam seus direitos da Editora Abril.
Chega de pele
Este foi um ano importante na luta contra o uso de pele animal na moda. Recentemente, marcas de luxo como Gucci, Burberry, Chanel, Michael Kors e Versace anunciaram que não usariam mais pele em suas criações. Outras grifes importantes já fizeram essa transição, como Tom Ford, Calvin Klein, Ralph Lauren, Tommy Hilfiger, Armani e, claro, Stella McCartney, que não usa nenhum material que possa vir de algum animal.
+ Por que Stella McCartney está anos luz à frente
Tisci na Burberry + estoque queimado
Após rumores de que estaria indo para a Versace, Riccardo Tisci acabou na Burberry, no lugar de Christopher Bailey. Seu desfile de estreia em setembro foi morno e não conseguiu desviar a atenção das pessoas da notícia de que a marca queimava o equivalente a mais de US$ 30 milhões em roupas, acessórios e perfumes que não foram vendidos. A notícia que explodiu em julho chocou o mercado e os ambientalistas, resultando em uma resposta rápida por parte da empresa. Em menos de dois meses eles noticiaram que não mais queimaria seu estoque morto tampouco usaria peles animais.
Os sneakers são as novas bolsas
Impulsionado pelo fenômeno do streetwear, o mercado de sneakers vai de vento em popa. Neste ano, o segmento foi altamente lucrativo, ultrapassando qualquer outro segmento no mundo da moda e do luxo. Não só as marcas de streetwear roubaram a cena, mas impulsionaram marcas de luxo a lançarem seus próprios modelos de sneaker. Como resultado, as lojas multimarcas tiveram que abrir mais e mais espaço em suas prateleiras para receber tantos modelos novos. A Farfetch, por exemplo, oferece cinco mil variações; o Ssense tem 960 sneakers diferentes, só para citar alguns exemplos. Outro dado relevante vem de 2017, quando a venda desse produto para mulheres subiu 37% enquanto a venda de sapatos de salto caiu 11% no mesmo período. Hoje é o objeto de desejo do consumidor, ocupando o lugar onde, por décadas, reinaram as bolsas.
A volta por cima da Givenchy
Quando a britânica Clare Waight Keller foi apontada diretora criativa da Givenchy, ninguém esperava que seria através dela que a marca daria tamanha reviravolta. Direcionando a marca para uma estética de olho na mulher contemporânea e descomplicada, ela acabou ganhando a atenção da então atriz Meghan Markle, hoje Duquesa de Sussex. Com a Givenchy, Clare fez o vestido de noiva de Meghan e muitos outros looks que ela tem usado em compromissos oficiais. A surpresa mais recente aconteceu no Fashion Awards, em Londres, onde Keller foi premiada como estilista do ano e recebeu o prêmio das mãos de Meghan. Vestida de Givenchy, claro.
Instagram: a nova plataforma crítica
Alguns grandes furos da moda este ano vieram à tona através de perfis de usuários que não são jornalistas. Porém, por sua atuação “no bullshit” e seus posts que vão de irônicos a puramente cruéis, perfis como @Diet Prada, @siduations e @Ecce Homo se destacaram muito em 2018. Foi um post do Diet Prada que resultou no cancelamento do mega desfile da Dolce & Gabbana na China – a gente conta tudo aqui. Recentemente, eles postaram o print de uma conversa em que o estilista russo Gosha Rubchinskiy pedia nudes a um garoto de 16 anos. Além de bombas atômicas fashion, a conta comandada por Tony Liu e Lindsey Schuyler, também posta imagens produtos copiados ao lado de seus originais e memes.
Já o Sidtuations, do artista Sidney Prawatyotin, faz colagens usando fotos de desfiles, campanhas e street style. Suas edições podem ser bem engraçadas ou irônicas, chamando atenção para alguns absurdos da indústria da moda.
O Ecce Homo (do buyer italiano Simone Cotellessa) tira uma onda da moda e tem como slogan a frase the dirty side of fashion influencing. “Minha inspiração vem dos aspectos feios da beleza. Por exemplo, uma foto do sapato mais desejado da temporada, mas usado por pés horrorosos”.
+ Os perfis de Instagram que misturam crítica, humor e ironia
Os influenciadores virtuais
Neste ano também vimos surgir os influenciadores virtuais. Elas são contratadas por marcas como Prada, são chamadas de it girl pela Vogue, lançam música no Spotify e tem perfis bombados nas redes sociais. O único detalhe é que elas não existem na vida real. Porém sua presença cada vez mais forte e sua imagem cada vez mais real faz com que essa última fronteira entre o que é real e virtual fique cada vez menor. Aqui neste artigo publicado em julho, a gente conta tudo.
Versace mania
A Versace teve um ano bem agitado. No início do ano estreou o programa The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story, a segunda temporada da série de televisão. Com nove episódios, ela explora o assassinato de Gianni Versace em 1997. Em setembro, a Michael Kors anunciou a compra da marca por US$ 2.1 bilhões. Para o desfile de Pre-Fall 2019, a marca foi para Nova York, onde apresentou a coleção com um mega show na Bolsa de Valores, com super modelos na passarela e celebridades na primeira fila.
As órfãs de Phoebe Philo
Phobe Philo saiu da Celine; Hedi Slimane entrou. Assim que os primeiros looks apareceram na passarela de seu desfile de estreia, o buzz resultou em uma busca desesperada por ítens da marca criados por Phoebe. Consumidoras fieis e fãs correram para as lojas atrás de qualquer coisa Phoebe Philo, causando filas na porta de algumas locais. A estilista compreendia as necessidades da mulher em relação à moda e, muitas vezes, as antecipava, propondo algo que nem sabiam que um dia iriam querer ou precisar. Agora, as órfãs da Celine podem se encontrar na Loewe, que tem o brilhante Jonathan W. Anderson por trás, e também em marcas femininas que têm um novo olhar sobre a mulher, como Givenchy, a nova fase da Chloé e Bottega Veneta, por exemplo.
+ Slimane na Celine: a repercussão da crítica especializada
+ Um novo olhar para a mulher surge nos desfiles de Verão 2019
Mudanças de logos
Recentemente, quatro marcas de moda mudaram seu logo: Burberry, Balmain, Rimowa e Saint Laurent. Curiosamente, eles trazem muitas similaridades. “O novo modelo de logo é mais pesado, bold e com uma estética geométrica”, disse Rob Walker, da Bloomberg, ao site The Fashion Law. O novo estilo passou a ser chamado de “blanding” no lugar de branding: as marcas de luxo estão buscando logos mais sóbrios e simples, que são criados não para se destacar, mas para se misturar. Os pontos em comum também existem porque os mesmos criativos estão por trás de logomarcas rivais. Por exemplo, Peter Saville redesenhou os da Calvin Klein e da Burberry e o escritório alemão Bureau Borsche assina o da Balenciaga e da Rimowa.
Marine Serre: revelação do ano
Se você ainda não ouviu falar dela, é só uma questão de tempo. A jovem estilista francesa é um dos grandes nomes de sua geração. Antes de lançar sua marca própria, ela trabalhou na Alexander McQueen, Margiela, Dior e Balenciaga. Em 2017, sua coleção Radical Call for Love foi selecionada simultaneamente para os prêmios Andam, Hyères e LVMH – ela venceu este último. Marine absorve e combina códigos de universos diferentes e não vê mais fronteiras entre prêt-à-porter e Alta Costura; alfaiataria e sportswear; novas peças e upcycling. Naturalmente, ela foi convidada para integrar a semana de moda de Paris. Seu desfile de estreia (que você pode assistir aqui), FutureWear ou Radical Couture, inspirado na relação entre produção e consumo, mostra com clareza seu talento, frescor e compreensão dos tempos.