Quiet Luxury: Por que do dia para a noite todos querem se vestir como os bilionários?
De Succession à economia atual: há todo um cenário que alimenta esse desejo
Quiet Luxury: Por que do dia para a noite todos querem se vestir como os bilionários?
De Succession à economia atual: há todo um cenário que alimenta esse desejo
Ao ler Quiet Luxury a primeira sensação deve ser de cansaço com o termo mais onipresente dos últimos tempos. Ou, em muitos casos, deve ter causado um revirar de olhos. Mas calma, esse esgotamento também tem nos assolado por aqui. Se o luxo silencioso, ao ser decodificado e transmutado em uma mera estética apenas como um sinônimo 2.0 de minimal, será que ele realmente tem algo de tão exclusivo e pessoal assim?
O mesmo vale para quando nos deparamos com a palavra “luxo”, já que hoje em dia fica cada vez mais difícil traduzi-la: é algo mutável? Uma leitura pessoal? Baseado na escassez? Significa exclusividade? Em tempos de globalização e redes sociais há espaço para inacessibilidade?
Vivemos em um período conturbado, em que o Barbie Core e o Quiet Luxury estão lado a lado no topo das pesquisas. Isso somado a protestos na França, um cenário econômico instável e também sendo roteiro da série mais comentada do momento: Succession – cuja quarta temporada foi recentemente lançada na HBO, ganhando resenhas, elogios, críticas e inúmeros vídeos que analisam minuciosamente os easter eggs encontrados em cada episódio. E, tudo está incrivelmente correlacionado.
Independente da geração, o mundo dos incrivelmente ricos sempre causou indignação, discussões calorosas e o triplo de fascínio ao longo da nossa história. Não à toa, que ao ser anunciado por mais um ano que Bernard Arnault é o homem mais rico do mundo, logo os manifestantes correram para protestar nos headquarters da LVMH (conglomerado de luxo que detém de roupas à joalheria e bebidas, resumidamente).
Creio que a incógnita maior com o Quiet Luxury venha do fato da moda ser ligada a códigos bem explícitos e aí quando eles não existem o que acontece? Uma onda de curiosidade de como tratar isso de forma palpável, tateável e, claro, usável. Então do dia para a noite: Brunello Cucinelli, Loro Piana e Delvaux – tríade do luxo silencioso deixaram seu mundo silencioso e foram alçadas aos holofotes.
São centenas de posts no TikTok que falam com profundo conhecimento sobre a manufatura das marcas de empresas familiares ou sobre a “marca mais antigas de bolsas do mundo, datada de 1829 e que os ricos não querem que você conheça”, dizem de forma caricata muitos creators – em referência a belga Delvaux. No meio desse cataclisma, a Hermès inaugura seu e-commerce no Brasil e internacionalmente anuncia que irá duplicar a produção de sua famigerada – e copiada – Birkin.
Não muito longe, outros analisam satirizando: “se quiet luxury é não ostentar logos… então a J.Crew é o supra sumo!” – a marca norte-americana relativamente acessível é conhecida pelos seus básicos e por atualizar de tempos em tempos a estética preppy. Isso me fez pensar: e no Brasil teríamos nossas versões de luxo silencioso?
Até mesmo os looks escolhidos por Gwyneth Paltrow para aparecer recentemente no tribunal serviram perfeitamente para ilustrar esse momento, mas com um toque mais fashionista, incluindo The Row e Bottega Veneta.
Divagações e devaneios à parte, não nos esqueçamos de um mecanismo bem cíclico da moda: todas as vezes que algo se populariza, vem uma nova tendência ou estética que é quase a antítese de sua antecessora. E dessa vez: teria a moda uma carta na manga? O que vem por aí? Isso fará com que as marcas foquem e celebrem ainda mais o artesanal? Provocará os consumidores a priorizarem escolhas tendo a qualidade em detrimento da quantidade? Algumas respostas já parecem estar se desenhando e provocam respostas um tanto óbvias, mas nos resta esperar e, quem sabe, nos surpreender.